Caros diocesanos. Como prometemos na semana passada, hoje explicaremos o sentido dos quatro momentos ou degraus da Leitura Orante ou Lectio Divina.
1. No primeiro momento se realiza a Leitura: Significa ler, estudar, familiarizar-se com o texto. É a atitude da escuta, do silêncio, do respeito... A leitura não pode ser interesseira, manipulando o texto ou reduzindo-o ao tamanho de nossa idéia. Outro extremo a ser evitado é o fundamentalismo alienante, ou seja, separar o texto da vida, da história do povo, enveredando em moralismo, espiritualismo, individualismo...
A pergunta orientativa que se faz neste 1º momento ou degrau é a seguinte: - O que diz o texto?
Familiarizados com o texto, podemos passar ao passo seguinte. É hora de escutar, de meditar.
2. No segundo momento acontece a Meditação: este momento tenta descobrir o que Deus tem a dizer, através do texto em questão, para minha/para nossa vida e realidade de hoje. A meditação busca, atualizar o que lemos: o valor permanente da Palavra, que foi resposta numa realidade do passado, deve tornar-se eficiente também nas situações semelhantes em que vivemos hoje. Embora em tempos históricos diversos, o valor da Palavra permanece e se atualiza. O estudo e a experiência de vida são importantes neste momento. A vontade de Deus torna-se também a nossa (a vontade se diviniza). O Espírito se comunica a nós para criar os mesmos sentimentos de Jesus Cristo (Flp 2, 5).
A pergunta orientativa que se faz é a seguinte: - O que diz o texto para mim/para nós?
Quando fica claro o que Deus pede na meditação, então é hora de dirigir-se a Ele, i. é, de rezar.
3. No terceiro momento se realiza a Oração: É a atitude de Maria: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1, 38). Ela meditava tudo em seu coração. É como dizem os santos Padres: “Maria concebeu antes na mente (no espírito, no coração, na alma, na fé), do que no ventre”.
A melhor forma de oração está na própria Palavra de Deus (Pai Nosso, Magnificat, Salmos...). Aqui podemos falar sobre a eficácia da Palavra de Deus: viva, eficaz, transformadora, eterna. Contém um caráter de sacramentalidade: diz e realiza. Por vezes, a oração (ou canto) será de louvor, de ação de graças; em outros momentos, será de súplica, de perdão, de silêncio... Ela pode ser espontânea, de cor ou recitada; individual ou comunitária; este degrau não consiste em falar de Deus, mas com Ele.
A pergunta orientativa deste momento é a seguinte: - O que o texto me/nos faz dizer a Deus?
É difícil determinar o momento exato da passagem da oração para a contemplação. A prática da Leitura Orante irá ensinar-nos muito quanto à passagem de um degrau ao outro.
4. No quarto momento se faz a Contemplação: Possuindo os passos ou degraus anteriores, no coração e na mente, começa um novo modo de olhar, de sentir a vida, os fatos, a história, as pessoas, as criaturas... É o olhar contemplativo, realizado com os olhos do Espírito, a partir da fé, ou seja, é um olhar que percebe o divino presente e agindo no mundo (teofania).
A contemplação leva a um compromisso transformador de participação na construção de um mundo novo, como Deus o deseja, como Jesus o revelou, no seu Evangelho. É a Palavra na prática.
Pergunta orientativa: - A partir do texto, como olhar o mundo, a história, a vida com os olhos de Deus?
Que a Leitura Orante da Palavra de Deus seja meio para encontrarmos o Senhor em nossa vida!
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul