Caros diocesanos. Já refletimos, em mensagens anteriores, que é sobretudo a eucaristia que torna o Senhor ressuscitado presente entre nós. No ano da eucaristia em nossa diocese (2019), estamos aprofundando esse tema, pois a eucaristia é a celebração central da vida litúrgica da Igreja. A Igreja vive da eucaristia, tornando-se o próprio núcleo de seu mistério. Ela é a fonte e o centro de toda vida cristã e nela está contido todo o tesouro espiritual da Igreja. Através dela o próprio Cristo eterniza sua Páscoa na história de todos os tempos.
A espiritualidade eucarística revela diversos aspectos ou dimensões em sua unidade indivisível: ela nasce numa Ceia pascal que torna presente o Sacrifício da Cruz e a gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo (Páscoa), fazendo acontecer a oferta da ação salvadora do Filho Unigênito, como a maior Ação de Graças possível ao Pai para a atuação da salvação da humanidade, tornando-se também fonte e ápice de toda evangelização da Igreja. Viver uma espiritualidade de Jesus eucarístico significa comungar sua vida, dada em sacrifício, tornando-nos, com Ele e os irmãos, oblação e ação de graças ao Pai em nossa missão evangelizadora.
Abordemos hoje a dimensão eucarística de sacrifício pascal, sem excluir os demais aspectos: Na Última ceia Jesus antecipa, torna presente, de forma simbólico-sacramental, pelo rito do Lava-pés, o que vai acontecer com Ele, em realidade, na cruz redentora, no dia seguinte, mas que o conduzirá à vitória sobre a morte pela ressurreição (Páscoa = passagem).
Na ação litúrgica (eucarística) atua-se o serviço sacerdotal de Jesus Cristo (SC 7). Ele é o sacerdote verdadeiro que, oferecendo-se a si mesmo, uma vez por todas, adquiriu uma salvação eterna (Hbr 9, 11-15). Assim Ele selou a nova e eterna Aliança em seu sangue (Hbr 8). “Pela oblação do seu Corpo nos deu na Cruz a plenitude dos sacrifícios antigos e, entregando-se a vós pela nossa salvação, revelou-se ao mesmo tempo sacerdote, altar e cordeiro” (Prefácio da Páscoa V).
As palavras de Jesus, proferidas na Última ceia, celebradas até hoje, tornam presente (fazem memória) este mistério do “sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados. Fazei isso em memória de mim” (cf. Mc 14, 24 e cf. 1Cor 11, 24-25). É a ação sacrifical da nova Páscoa, presente em cada celebração do “Santo sacrifício da missa”. Isso nos faz entender melhor porque no altar, ou na sua proximidade, sempre existe a presença de um crucifixo.
Essa dimensão da espiritualidade eucarística, certamente, dará novo sentido às limitações físicas, às contradições psicológicas, às escuridões da vida, nossas e dos outros... A espiritualidade eucarística deve perpassar todo nosso viver: o trabalho, as relações, a vocação, as diversas dores, a evangelização (AdaE 24). Também nisso somos parceiros/as do Senhor, que anuncia o Reino, cura os doentes e, cheio de compaixão, vai ao encontro das multidões porque estão cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor (Mt 9, 35-38). Será Ele o motivo maior da nossa opção preferida pelos mais sofridos, em todas as suas formas.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul