Caros diocesanos. O Natal se aproxima e continuamos a refletir a Carta do Papa Francisco, por ele chamada Admirável Sinal, sobre o significado e valor do presépio, considerado evangelho vivo do amor de Deus, ao nascer entre nós. Em mensagens anteriores já refletimos sobre diversos aspectos que o rico simbolismo do presépio nos apresenta.
Na solenidade do Natal nós desejamos participar da Eucaristia como forma, por excelência, de tornar presente o nascimento do Senhor entre nós. Ele é a Palavra que se fez carne e veio morar entre nós (cf. Jo 1, 14); Ele é o Pão vivo que desceu do céu (cf. 6, 51). Ele mesmo renasce em nós e entre nós, quando nosso coração, nossa vida diária, nossas famílias e comunidades se tornam o presépio acolhedor de sua presença. No Natal de 2020, nascerá também entre nós no frágil presépio armado pela realidade da pandemia, algo parecido como em Belém, onde não havia covid-19, mas havia o vírus da não-acolhida e a Sagrada Família teve que abrigar-se no distanciamento, em gruta fria dos arredores, entre animais: “Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura” (EG 286).
Mas continuemos nossa reflexão em torno do tema do presépio e da eucaristia, lembrado pelo Papa Francisco na Carta Admirável Sinal e tão valorizado pelo próprio Santo de Assis. Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se o primeiro lugar de acolhida para Aquele que se há de revelar como “o pão vivo que desceu do céu” (Jo 6, 51). Encontramos aqui uma simbologia patrística, que já Santo Agostinho tinha entrevisto, quando escreveu: “Deitado numa manjedoura, torna-se nosso alimento” (Sermão 189, 4).
São Francisco de Assis une o primeiro presépio com a celebração da Eucaristia, no Natal de Greccio, em 1223: “O Santo de Deus está de pé diante do presépio, cheio de suspiros, contrito de piedade e transbordante de admirável alegria. Celebra-se a solenidade da missa sobre o presépio, e o sacerdote frui nova consolação” (1Cel 85). O próprio Santo proclama o Evangelho do nascimento do Salvador e faz a pregação: “Muitas vezes, quando queria nomear o Cristo Jesus, abrasado em excessivo amor, chamava-o de ‘Menino de Belém’” (1Cel 86). Depois da celebração do primeiro presépio, o biógrafo Celano dá outra significativa informação: “O lugar do presépio foi consagrado como templo ao Senhor, e em honra do beatíssimo pai Francisco construiu-se sobre o presépio um altar, e dedicou-se uma igreja, para que onde uma vez os animais comeram forragem de feno, aí doravante os homens comam, para a salvação da alma e do corpo, a carne do cordeiro imaculado e não contaminado, Nosso Senhor Jesus Cristo, que com a suprema e inefável caridade se entregou a si mesmo por nós, e que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, Deus eternamente glorioso, por todos os séculos dos séculos” (1Cel 87).
Nos escritos de São Francisco de Assis, mais precisamente nas Admoestações, encontramos o seguinte texto: “Eis que diariamente ele se humilha (cf. Fl 2,8), como quando veio do trono real (Sb 18, 15) ao útero da Virgem; diariamente ele vem a nós em aparência humilde; diariamente ele desce do seio do Pai (cf. Jo 6,38; 1,18) sobre o altar nas mãos do sacerdote” (Adm 1, 16-18).
São Francisco vê profunda relação entre Presépio e Eucaristia. E isso continua valendo também para nós. Feliz e Santo Natal, com a presença de Jesus Cristo!
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.