“Vós
também vos quereis ir embora?”No evangelho deste domingo, o evangelista João
apresenta a reação que o discurso de Jesus sobre o Pão da Vida provocou nas
pessoas, discurso que se seguiu ao episódio da multiplicação dos pães e dos
peixes. E o resultado não é muito entusiasmador, até mesmo entre seus
discípulos. Muitos dentre eles diziam: “Estas
palavras são duras. Quem pode escutá-las?” E não poucos se escandalizaram a
tal ponto que “se afastaram e já não
andavam mais com Ele”.
Mesmo
assim, Jesus não mudou seu discurso. Pelo contrário, confirmou tudo. E, olhando
firme para os doze apóstolos, pergunta: “Vocês
também querem ir embora?” Em nome dos doze, Pedro diz:
«Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.
Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».
Muitos grupos esperavam um messias a exemplo
de muitos reis que prometiam uma vida confortável com pão em abundância. Jesus
revela que não veio para “dar coisas”. Coisas perecem. Ele veio para se
oferecer a si próprio para que a humanidade tivesse vida. Muitos sonhavam com
um Messias de triunfo e de glória humanas, mas Jesus os convidou a
identificar-se com Ele e a segui-lo no caminho do amor e da partilha, do
compromisso com a verdade, no caminho que passa até mesmo pela cruz, pelo dom
da vida até à morte.
As pessoas entenderam
que Jesus as tinha colocado diante de uma opção fundamental: ou continuar a
viver numa lógica humana, baseada em satisfações pessoais e imediatas, ou a
assumir o projeto de Deus, seguindo o exemplo de Jesus que não veio para ser
servido mas para servir. Quem não é capaz de se desinstalar de seus esquemas e
preconceitos, de garantias demasiado materiais, se escandaliza, se decepciona e
se afasta. Mas quem quer saciar sua fome e sede por justiça, verdade e
solidariedade, quem realmente está disposto a lançar as redes em águas mais
profundas, este topa o desafio, aceita o batismo (mergulho no evangelho e na
vida de Cristo) e responde como São Pedro:
“Sim Senhor, eu creio que és nosso único Salvador e quero te
seguir! Eu aceito o teu evangelho! Eu quero comungar do teu corpo e do teu sangue
para também me comprometer com teu projeto de vida plena. Quero me unir a ti
para servir meus irmãos e irmãs onde for necessário, pois não há outro caminho
que garante a realização mais profunda de minha alma. Por isso: Eis-me aqui,
Senhor!”