“Erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá”
A
primeira leitura deste domingo traz a seguinte profecia de Isaías: Tende
coragem, não temais. Aí está o vosso Deus... Ele próprio vem
salvar-nos. Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos
dos surdos.
No
evangelho, Marcos narra Jesus curando um surdo que falava com dificuldade. O
povo fica admirado e diz: «Tudo ele tem
feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem». Sim, novos tempos
chegaram, Deus visitou o seu povo, a esperança dos sofridos e abandonados
renasce. A vida vai vencendo a morte. O que o profeta anunciou está se
cumprindo.
Unindo
em uma só pessoa a surdez e a mudez, Marcos lembra o texto de Is 35 (lido na 1ª
leitura) onde a cura de surdos e mudos faz parte do tempo messiânico. E, para reforçar
a mensagem, o povo exclama: “Ele fez tudo bem feito”, vislumbrando a obra messiânica
de restauração do paraíso. Sim, pois lembra claramente o livro do Gênesis, na
criação, onde tudo o que Deus fez “era muito bom”. Em Cristo há não somente uma
nova aliança, mas igualmente uma nova criação.
O
evangelho ensina que, para que a nova criação aconteça, é preciso abrir-se a
Cristo, abrir-se ao novo que ele traz. E isso nem sempre é fácil, como os
detalhes do texto deixam transparecer: “Jesus, levando-o à parte, longe da
multidão, pôs os dedos nos seus ouvidos, cuspiu, e com a saliva tocou-lhe a língua.
Erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: Effathá, que quer dizer Abre-te.”
Não
é fácil abrir o ser humano para o mistério de Deus. Às vezes é preciso se
afastar da multidão, insistir. É preciso suspirar aos céus! Até com os
discípulos Jesus tinha dificuldades. Mas, com insistência e paciência,
conseguiu seu objetivo. Isso também faz parte da missão da Igreja. No ritual do
Batismo há um rito facultativo chamado “Éfeta”, que eu não costumo deixar de
lado: O celebrante toca os ouvidos e os lábios da criança e diz:
“O Senhor Jesus que fez os
surdos ouvir e os mudos falar, te conceda que possas logo ouvir a sua palavra e
professar a fé, para louvor e glória de Deus Pai”.
Pelo
Batismo, o Senhor, através do Espírito Santo, abre os ouvidos do batizando para
que ouça e entenda a Palavra de Deus, solta a sua língua e lhe abre a boca para
que possa professar a sua fé. Os Pais são os principais instrumentos e
mediadores para que o Evangelho chegue às novas gerações. Depois os filhos, atingindo
o uso da razão, poderão – igual ao curado do evangelho – “falar corretamente”,
isto é, testemunhar sem dificuldades sua fé em Jesus Cristo.
Autor: Pe. Roni O. Fengler