"Nós o proibimos porque não nos segue”
A liturgia deste domingo quer ajudar os seguidores de Jesus a purificar as
suas opções para ter sempre mais os sentimentos e as atitudes do Mestre.
Durante a caminhada do povo de Israel pelo deserto, Deus pousa seu
Espírito profético em outros 70 homens, além de Moisés (1ª leitura). Dois que
não tinham ido à Tenda também profetizavam. Um jovem pede a Moisés que os
proíba imediatamente. Resposta de Moisés: “Não precisas ter ciúmes por mim.
Oxalá todo o povo fosse profeta!” O servo de Deus não está preocupado com o
controle e o poder, mas com a vida e o bem do povo.
No Evangelho é o jovem João que conta a Jesus que tinham proibido um
homem a continuar expulsando demônios em nome de Jesus. O motivo alegado era
porque não pertencia ao grupo dos seguidores.
Resposta de Jesus: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu
nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor”.
Sim, é preciso entender que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre
quem quer, sem estar limitado por regras. Os verdadeiros seguidores de Cristo
colocam em primeiro lugar “o Reino de Deus e a sua justiça”. Convém ser capaz
de reconhecer e aceitar a ação do Espírito em outras pessoas boas, em outros
grupos que não pertencem oficialmente à instituição Igreja, mas que são sinais
vivos e concretos do amor de Deus. O bem não é privilégio ou exclusividade
nosso. O verdadeiro cristão é aquele que, a exemplo de Moisés, reconhece a
presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta e não sente
ciúmes por isso, pelo contrário, sente alegra, pois tudo o que ajuda a melhorar
o mundo deve ser apoiado (“até um copo de água”).
A Igreja deve estar sempre atenta aos sinais do Reino. É por isso que em
nossos planos sempre procuramos fomentar parcerias com outras instituições que
de alguma forma ajudam a criar um mundo mais justo, solidário e fraterno, que
cooperam para combater o mal que destrói a vida e escraviza as pessoas. Para
combater as injustiças (tema da segunda leitura - “o clamor dos trabalhadores
explorados chega aos ouvidos de Deus”) convém unir esforços, apoiando outros
grupos organizados que promovem o bem e convidando a eles para que também
apoiem e fortaleçam as nossas iniciativas.
Jesus ainda adverte para nunca “escandalizar um
desses pequeninos que creem”. Quem são esses pequeninos? São os fracos que
esperam a ação de Deus, são os marginalizados que esperam confiantes uma vida
melhor, uma sociedade justa e fraterna. Eles ficariam decepcionados se os
seguidores de Jesus andassem mais preocupados consigo, à procura de poder e
querendo formar uma casta privilegiada do que com a prática do Evangelho. Isso significaria
trair a missão de Jesus. E todo mal, todo pecado deve ser cortado pela raiz
(“se tua mão te leva a pecar, corta-a...”).
Autor: Pe. Roni O. Fengler