"O meu reino não é deste mundo"
Chegamos na conclusão do ano Ano Litúrgico. Neste último domingo celebramos
a solenidade de Cristo Rei. O fio condutor dos textos bíblicos é o exercício do
poder. Aos olhos puramente humanos os mais fortes exercem poder sobre os mais
fracos. Há uma relação de suserano x vassalo, grande x pequeno, dominador x
dominado. Em Mc 10,42-43 Jesus diz: “Sabeis que aqueles que vemos governar as
nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam.” E acrescenta: “Entre vós não deverá ser
assim”.
Durante o interrogatório, diante de Pilatos, Jesus afirma com toda
clareza: “Eu sou rei”. Mas para não deixar dúvidas de que o seu jeito de reinar
é diferente do jeito de Pilatos e dos demais reis conhecidos e temidos, diz:
“Meu reino não é deste mundo”. E explica que que seu reinado é fundamentado na
verdade. Também ele tem seus colaboradores, seus seguidores, mas estes o seguem
livremente. Não são forçados, coagidos, mas convidados: “Eu nasci e vim ao
mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade
escuta minha voz”.
“Meu reino não é deste mundo”: Isso não quer dizer que Deus não se
preocupa com as coisas deste mundo (pelo contrário Ele se preocupa mais com o
bem do povo do que todos os outros, a tal ponto de dar sua própria por seu povo),
mas que seu reinado não se identifica com os reinados deste mundo, e que não
termina neste mundo. É um reino que cria laços de fraternidade e de solidariedade
aqui na terra e se plenifica na comunhão eterna com Deus. É um reino baseado na
lei do amor e na doação em favor dos necessitados, onde ninguém se deve sentir
excluído ou desamparado. Jesus age em união com o Pai e na força do Espírito
Santo.
Logicamente que este jeito de governar não combina com os reinados deste
mundo, com o reinado dos grandes e poderosos. Jesus acaba sendo eliminado,
morto na cruz. Mas ele ressuscita (2ª leitura), e de junto do Pai envia o
Espírito da Verdade aos seus, para levar em frente o seu reinado, unindo todos
os povos e nações de todo tempo e lugar: “Foram-lhe dados poder,
glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um
poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se
dissolverá.”
(1ª leitura).
Jesus, o verdadeiro rei, foi vítima da mentira, da tortura e da pena de
morte para defender a paz e abrir o caminho ao Pai. Que ninguém mais ouse usar
da força bruta, da mentira e da opressão para governar, e nem defender a
tortura e a pena de morte em nome de Jesus. Isto seria negar o seu reinado e
trair o seu ensinamento. E que tenhamos a coragem de o seguir livre e fielmente
no caminho da verdade, da cruz e da ressurreição.
Autor: Pe. Roni O. Fengler