O que mais contribui para uma adequada comunicação da Palavra de Deus à assembleia é a maneira de proclamar dos leitores, que devem fazê-lo em voz alta e clara, tendo conhecimento do que leem.
A leitura dos textos bíblicos é diferente da leitura pública. É que o leitor não diz a sua palavra, mas a de Deus. Escrevia D. Bonhöfer: “Bem depressa nos aperceberemos de que não é fácil ler a Bíblia aos outros. Quanto mais a atitude interior perante o texto for de despojamento, humildade, objetividade, mais adequada será a leitura… Uma regra que se deve observar para ler bem um texto bíblico, é nunca se identificar como o “eu” que lá se exprime. Não sou eu que me irrito, que consolo, que exorto, mas Deus. Por certo que daí não resultará que eu leia o texto num tom monótono e indiferente; pelo contrário, fá-lo-ei sentindo-me eu próprio interiormente comprometido e interpelado. Mas a diferença entre uma boa e uma má leitura surgirá quando, em vez de tomar o lugar de Deus, eu aceitar muito simplesmente servi-lo.”
A proclamação com o coração
Proclamar a Palavra é um gesto sacramental. Coloco-me a serviço de Jesus Cristo que, através da minha leitura, da minha voz, da minha comunicação… quer falar pessoalmente com seu povo reunido. Cristo “presente está pela sua Palavra, pois é ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na Igreja” (SC, 7). Por isso, leitura bíblica não é aula, nem informação e muito menos noticiário!…
A proclamação é Jesus Cristo presente com seu Espírito, falando na comunidade, anunciando o Reino, denunciando as injustiças, convocando a comunidade para a renovação da Aliança, a conversão, a esperança, a ação. A proclamação é acontecimento de salvação.
Se fosse pelo conteúdo da leitura, poderia ser mais interessante cada pessoa ler sozinha num folheto ou na Bíblia! Mas não!…. Na leitura, acontece a proclamação da salvação, aqui e agora, para a comunidade reunida. E a comunidade deve ouvi-la, acolhê-la e deixar-se transformar e converter pela ação do Espírito Santo.
A proclamação é um acontecimento comunitário-sacramental
Jesus Cristo fala à comunidade reunida pela mediação do leitor. E o Espírito está presente na pessoa que lê e está atuante nos ouvintes para que acolham a Palavra em suas vidas. A assembleia deve ouvir, escutar e acolher a Palavra. Ouve as palavras proclamadas pelos leitores, e tem os olhos fixos neles para não perder nem uma vírgula nem um sinal daquilo que é anunciado!
O silêncio para bem proclamar
A proclamação exige uma preparação espiritual. Não é qualquer coisa que será lida, mas a Palavra de Deus que falará por meio da voz do leitor.
A Palavra precisa cair no coração das pessoas. Elas precisam criar gosto pela Palavra. Se a assembleia se prepara com o silêncio para ouvi-la, e se o leitor preparou-se bem ao longo da semana, deixe que o Espírito Santo conduza a sua leitura
Mas, na Leitura da Palavra, o leitor empresta sua voz para que Deus fale. Ela deve ser proclamada com calma e prontidão de alma. E, a primeira disposição do Proclamador da Palavra deve ser a de silêncio para ouvir e acolher essa Palavra. É Deus quem se dirige ao proclamador e a toda assembleia. Por isso, ao fim da leitura, diz-se: “Palavra do Senhor”. E a assembleia responde: “Graças a Deus!”. No Evangelho, quando ouvimos Palavra da Salvação, respondemos: “Glória a vós Senhor”; glorificando o Cristo que falou.
Atitudes dos proclamadores da Palavra
Evitar qualquer forma de pressa que impeça o recolhimento. Prever breves momentos de silêncio, adaptados à assembleia reunida, nos quais a Palavra de Deus possa ser interiorizada. Pode se observar esses momentos de silêncio depois da primeira e da segunda leitura e, por fim, após a homilia” (Instrução Geral do Missal Romano, 56).
Antes de começar a leitura espere que a assembleia se assente e se acalme. O grupo de canto pode entoar uma música suave, que ajude a assembleia a silenciar-se! Não pode ser um canto agitado, mas algo simples que fale ao coração.
Nunca suba à Mesa da Palavra (ambão), levando um folhetinho, um livrinho... A Palavra é proclamada do Livro da Palavra, do Lecionário.
Chegue antes na Igreja, pegue o lecionário, localize onde está a leitura, verifique se está certa, para que, na hora, você não fique perdido.
Proclame com calma, sem gritar, sem pressa, favorecendo a meditação. Respeite a pontuação, faça as pausas necessárias. Mergulhe no texto. Interprete as palavras, dê vida ao texto bíblico.
Não esqueça: O leitor deverá meditar a leitura, em casa, para ser ministro da Palavra. Deverá “sumir” diante do Cristo a quem empresta sua voz e seu jeito de se comunicar!
Autor: Marcelino Sivinski
Fonte: Revista Integração Diocesana. Edição 448. Agosto de 2019.