“Os chefes zombavam de Jesus”
Com a solenidade de Cristo Rei e Senhor do Universo a Igreja conclui o ano litúrgico.
Para o evangelista Lucas, a investidura real de Jesus se realiza em torno da cruz, trono improvisado do Messias prometido. A inscrição que está sobre sua cabeça, mesmo escrito por um pagão, revela o mistério escondido: “Este é o Rei dos Judeus”. No Batismo, o Pai havia “investido” o Filho solenemente em sua missão sacerdotal e real na força do Espírito. Jesus se manifesta como sacerdote e rei não fugindo da paixão e da cruz, mas na obediência total ao Pai e une fraternalmente a si todos os seguidores (“quem cumprir a vontade de meu Pai do céu, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” - Mt 12,50). Pela nova aliança em seu sangue, forma-se nele uma nova família, um povo sacerdotal, profético e régio.
Mas este rei não é reconhecido por muitos: “Os chefes zombavam de Jesus... os soldados também caçoavam dele”.
- Tu que nasceste numa gruta, és rei?
- Tu que vens de Nazaré, és rei?
- Tu que foste carpinteiro, és rei?
- Tu que tomaste refeição com gente de má fama, és rei?
- Tu que te deixaste tocar pela prostitua, és rei?
- Tu que não obedeceste às nossas leis, és rei?
- Tu que és acusado de subversivo, és rei?
- Tu que carregas o vexame da cruz, és rei?
- Tu que sofres a pior condenação, és rei?
- Tu que morres entre os malfeitores, és rei?
- “Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz”. (Jo 18,37)
Jesus de Nazaré é o servo sofredor presente nas profecias. O mundo continua zombando daqueles que seguem a verdade, a honestidade, a retidão. Porém, as zombarias das autoridades, os escárnios dos soldados, os insultos do povo, nada tira a honra, a serenidade e a dignidade do Filho e dos filhos de Deus.
Jesus pregou e viveu o amor. Mesmo na maior tentação e na dor suprema, não nega o amor. Na cena do evangelho de hoje (Lc 23,35-43), somente uma pessoa o reconhece como Salvador. A morte do justo irá conquistar para a vida muitos pecadores, muito bem representados pelo ladrão arrependido, que suplica: “Lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”. E foi atendido por aquele que jamais nega seu perdão a quem o busca na sinceridade do coração. O reinado de Jesus de Nazaré é um reinado que inclui também os últimos e esquecidos da sociedade, que por isso podem exultar de alegria.