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A ação eucarística é: comer e beber juntos em ação de graças
Créditos foto: Valéria Fischer Full Width Post Format
O Concílio Vaticano II redescobriu a eucaristia como ação. Em que consiste a ação eucarística? É preciso voltar ao mandamento do Senhor: ‘Façam isto para celebrar a minha memória!’ É preciso fazer o que Jesus fez na última ceia: tomou o pão, depois tomou também o vinho, deu graças, partiu e deu a seus discípulos, dizendo tomai e comei. tomai e bebei ... Aí está a estrutura básica da liturgia eucarística: 
a) preparação das oferendas (preparar a mesa, trazer o pão e o vinho que são símbolos de nossas vidas); 
b) oração eucarística (que é ao mesmo tempo ação de graças e oferta - em outras palavras: sacrifício de louvor); 
c) fração do pão e comunhão (que é participação naquilo que foi proclamado na ação de graças, ou seja, participação na morte-ressurreição do Senhor, participação em seu mistério pascal). 

O sentido de comer e beber
O ser humano come e bebe movido por um desejo de vida.  Quer uma vida digna com o mínimo de sofrimento e máximo possível de felicidade. 
Mas o desejo da vida feliz é ameaçado por diferentes formas de violências.  A experiência da violência, não apenas, fere e tira a integralidade da vida feliz; mas manifesta a vulnerabilidade e a fragilidade humana. As formas de violências, porque contrárias à vida, convergem para a morte. Deus, porém, me salvará das mãos da morte e junto a si me tomará em suas mãos” (Sl 48, 11.15).
A reflexão do salmista, aplicada ao ato de comer e beber, permite-nos entender que o ser humano não consegue por si só satisfazer o desejo de uma vida feliz. Mesmo que usufrua de todos os bens da criação, a morte lhe dá a última sentença declarando a vaidade de uma vida independente de Deus. E Jesus diz: «trabalhai, não por um alimento que perece, mas por um sustento que dura e dá a vida eterna» (Jo 6,27). O espírito de independência e autossuficiência do homem em relação a Deus é a raiz de todos os pecados. 

O que é o pecado?
A Bíblia relata a não-comunhão do homem à proposta de vida oferecida por Deus como pecado. Desde Adão e Eva, o itinerário da sedução do mal  para levar o homem ao pecado repete-se, inclusive, em nós, como interpretam os Padres do Deserto: começa-se por uma sugestão de atração por um bem menor; prossegue-se com um diálogo com o tentador no qual ele apresenta as vantagens e benefícios aparentes. 
A rebeldia em relação à orientação da Palavra divina prossegue com deliberação de atitudes que conduzem ao distanciamento e culminam com a separação de Deus. Podendo conduzir ao rompimento das relações com a fonte da vida, logo a vida que lhe resta passa ao domínio da morte (cf. Gn 3,1-8).

Deus Pai é misericórdia
Deus Pai na sua misericórdia porque criador do ser humano não o abandou ao poder do seu livre arbítrio. Após o pecado de Adão e Eva, Deus não os abandona, mas estabelece um diálogo: eles envergonhados escondem-se, mas Ele interroga-os: onde estão? (cf. Gn 3,9-24). O diálogo culmina com o envio do seu Filho como alimento capaz de orientá-lo pela Palavra Encarnada e nutri-lo pela Eucaristia para uma vida de felicidade eterna. 
Jesus fala sobre o Pão da Vida, após a multiplicação dos pães: «Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá para sempre. E, o pão que eu dou é a minha carne para a vida do mundo» (Jo 6,27.51). 
Em Jesus, a condição de sofrimento e morte, descrita pela Sagrada Escritura em termos de deserto, na qual Adão e Eva se colocaram (cf. Gn 3,14-19.23), encontra seu reverso: a possibilidade de voltar ao paraíso, isto é, a vida feliz na plena comunhão com Deus:  «Vosso Filho, obediente até à morte na Cruz, nos precedeu no caminho de volta para vós, que sois o fim último de toda a esperança humana. Na Eucaristia, testamento do seu amor, ele se fez comida e bebida espirituais, que nos sustentam na caminhada para a Páscoa eterna. Com esta garantia da ressurreição final, esperamos participar do banquete de vosso Reino».
Deus criou o ser humano: «façamos o homem à nossa imagem e semelhança» (Gn 1,26). Busca-o para que participe da vida divina: «Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo» (Ap 3,20). E os relatos da vocação dos discípulos nos Evangelhos demonstram a iniciativa de Jesus em chamá-los, não apenas para conferir uma missão, mas para que ficassem ou permanecessem com o Senhor (cf. Mc 1,16-20), isto é, para que tivessem parte na vida de Jesus. 
Esta participação realiza-se, de modo particular, nos atos de comer e beber. O próprio Jesus escolheu este modo de permanecer conosco: «quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele» (Jo 6,56). Portanto, há um significado e um sentido em comer e beber. 

Autor: Marcelino Sivinski