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Vocação e Finados: a celebração da destinação do humano pleno
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“Não morro, entro para a Vida” (Santa Teresinha de Lisieux).

Em novembro celebramos o “Dia de Finados”. Desde quando eu era criança sempre tive medo deste dia, eu observava curiosa o movimento de meus familiares em procissão que iam junto de mais pessoas para o cemitério visitarem seus mortos queridos. Lembro do cheiro das flores e das velas acesas, do murmurar das orações e dos abraços, se fechar os olhos eu vejo a Santa Cruz cheia de velas queimando. Eu achava muito estranho os sentimentos que brotavam em mim deste “passeio” ao cemitério.
Ainda sinto a mão de meu pai segurando a minha mão pequenina em frente ao túmulo de meus avós, o silêncio respeitoso e a lágrima que discretamente ele tentava disfarçar. Eu acompanhava as pessoas que retornavam falando algo da pessoa falecida, algumas, quase não choravam, mas em seus rostos era possível ler o quanto os amavam e sentiam a sua ausência. Os mortos são amados, pensava eu surpreendida.
 Quando cresci, numa adolescência influenciada pela razão incrédula, eu dizia que nascemos para morrer, cessar de realizar e planejar as nossas coisas, e como muitos outros jovens, não queria ouvir a sabedoria dos mais velhos que discordavam. Hoje, adulta e amadurecida, tenho certeza de que não nascemos para morrer, mas, para cumprir uma destinação. Um chamado especial que brota no mais íntimo de nossas vidas, uma inspiração para algo específico que somente “eu” em meu jeito de ser e de fazer posso realizar. Algo realmente especial, muito além do que uma profissão que oportuniza férias e descanso pois estou certa de que todo ser humano é chamado para uma destinação última que irá, no final de seus dias, se plenificar na certeza de que o caminho foi acertado, a meta foi realizada. Assim percebo ser a vocação: uma destinação, meta especial a ser cumprida antes da saída deste mundo.
Feliz a pessoa que descobrir a sua vocação e for em direção a este caminho e, quando partir, ser visitada, não apenas em Dia de Finados, mas lembrada no coração das vidas em que fez a diferença. Lembrada na Igreja em que serviu e amou até o fim. Triste a vocação que já se foi e, pior, se perdeu na lembrança afetiva das pessoas. Provavelmente, se isso acontecer, e acontece, é porque a pessoa estava na vocação errada.
Quando ouvimos nosso interior, nosso caminho de dentro, de uma espiritualidade que quer acertar os passos e o caminho a seguir, a vocação se revela e a acolhemos com suas alegrias e desafios. Acolhida a vocação e vivida com fidelidade, alegria e criatividade, a morte chega a seu tempo nos colhe e celebramos juntos dela e com os nossos a outra Vida. Vocação é amar e servir até o cessar desta para a outra Vida. Que sejamos visitados com carinho, que preces sejam murmuradas agradecendo nossa estada aqui, que flores perfumem altares exalando a beleza que foi nossa vida/vocação realizada no servir. Porque a vida somente terá valido à pena quando descoberto nela qual a nossa vocação. E assim sendo, que a Luz perpétua nos ilumine.
Autor: Ir. Elis Machado, OSF - Irmãs Franciscana Bernardina