Créditos foto: Alberto Chamorro
Nós jovens, mulheres e homens, do campo e da cidade, reunidos em Romaria e no 11º Acampamento da Juventude, em São Gabriel, terra em que tombou São Sepé, para refletir e celebrar a temática da 39ª Romaria da Terra: "Cuidar da Terra, Casa Comum". Vindos de diferentes regiões e realidades, de diversos movimentos, pastorais e organizações de juventude do Rio Grande do Sul, trazemos presente a memória de Sepé Tiaraju e seus 1500 companheiros e companheiras, exterminados neste chão, por defender nossa Casa Comum. Após diversos debates e reflexões, vivenciando a mística e as espiritualidades libertadoras ressaltamos alguns desafios e compromissos que ousamos assumir como juventudes.
Denunciamos o sistema capitalista que impede o cuidado com a Terra e impõe o envenenamento do solo, que atinge as pessoas, através dos agrotóxicos. Denunciamos a concentração de terra que gera lucros a uma minoria e impede que esta seja utilizada pelo bem comum e para alimentação saudável. Anunciamos que são possíveis e necessárias novas relações de afeto e cuidado com a Mãe Terra, através da produção agroecológica, com o resgate e preservação das sementes crioulas, das ervas medicinais, valorizando os pequenos agricultores e a agricultura familiar, lutando em prol da realização da Reforma Agrária, pois a luta pela terra é uma luta que não tem fronteiras.
Denunciamos a violência e o extermínio contra a juventude, principalmente a juventude negra, camponesa, pobre e periférica. Denunciamos também a falta de alternativas que mantenham o jovem no campo, e a ausência de políticas públicas efetivas que garantam suas necessidades básicas, bem como uma educação de qualidade e de acordo com a realidade do campo. Denunciamos a criminalização da juventude por parte da mídia e o conservadorismo que propõe projetos de morte, como a redução da maioridade penal, o estatuto da família e as pautas que retiram direitos. Anunciamos propostas para os jovens, através de grupos e movimentos organizados, que vão contra o individualismo e o consumismo, gerando uma formação crítica e um engajamento num projeto popular. Anunciamos a necessidade urgente da democratização dos meios de comunicação, quebrando o monopólio da grande mídia.
Denunciamos o machismo que sustenta o sistema capitalista e gera a violência contra as mulheres, enraizando a desigualdade entre homens e mulheres, inclusive em nossas comunidades e movimentos. Denunciamos também a homofobia e todas as formas de preconceito e discriminação que impedem as pessoas de viverem livremente sua orientação sexual e as diferentes formas de amor. Anunciamos a construção de um novo homem e uma nova mulher capaz de respeitar a diversidade e se somar na luta pela igualdade.
Denunciamos o racismo institucional que segrega e mata a população negra, violando seus direitos de terem uma vida plena. Denunciamos também a negação da história e culturas negra e indígena da formação do povo brasileiro e embranquecimento destas populações. Denunciamos ainda o extermínio dos povos originários que morrem defendendo a terra, seu bem mais sagrado, bem como a falta de garantia de uma saúde e educação de qualidade inseridas em suas culturas. Anunciamos o compromisso da luta em defesa destas populações, nos posicionando a favor da demarcação das terras indígenas e quilombolas, e contrários a PEC 215.
Denunciamos o sistema político que gera desigualdade na representatividade, e a corrupção que assola País devido aos interesses privados que estão a frente do interesse público. Denunciamos o avanço das pautas conservadoras por parte do Congresso Nacional que atacam diretamente os direitos das populações mais marginalizadas e excluídas. Anunciamos um projeto de reforma política que atenda o interesse do povo, e não os interesses do capital, que garanta representatividade das mulheres, negros, jovens e movimentos populares e seja contra o financiamento privado de campanhas eleitorais. Com isso nos somamos aos movimentos que gritam Fora Cunha.
Em relação aquilo que denunciamos e anunciamos, é necessário, ainda, diante do contexto atual afirmar nosso repúdio ao desastre ambiental de Mariana, provocado pela ganância e lucro dos capitalistas, exigindo a reparação por parte da Samarco. Repudiamos também qualquer tentativa de golpe que fira a democracia.
Na mística de São Sepé e das diferentes espiritualidades que nos libertam, ousamos assumir o projeto de Jesus revolucionário na construção do Reino de Deus, do outro mundo possível, de uma Terra Sem Males.
São Gabriel , 09 de fevereiro de 2016