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Nos 61 anos da Diocese, lembramos a homilia de Dom Alberto Etges, por ocasião dos 25 anos da Diocese

Créditos foto: Arquivo

No mês em que a Diocese de Santa Cruz do Sul completa 61 anos de instalação, retomamos a homilia que Dom Alberto Frederico Etges proferiu no dia 15 de novembro de 1984, no Estádio dos Plátanos, quando a Diocese celebrou o jubileu de 25 anos. Vale a pena conferir.
Pe. Roque Hammes

No começo da Diocese
Com esta mensagem tomei contato convosco há 25 anos, no começo da Diocese. Propunha-vos um objetivo brotado do coração do próprio Deus: a vossa santificação, mais especificamente, vossa santificação no quotidiano da vida. Hoje, passados 25 anos, a mensagem não pode ser outra. Pois, segundo São Paulo, Deus não nos chamou para outra coisa: ‘’Por Cristo, Deus nos chama à santidade’’.
Os caminhos para chegar lá podem ser diversos. No começo, o quadro diocesano era o de um povo ainda bastante recolhido sobre si, embora os sinais de mudança já se fizessem sentir fortemente. Hoje participamos, também, da vida trepidante do século, com a casa invadida, com defesas enfraquecidas, com o combate travado pela religião, pela moral, pela família, pela própria vida do homem.
Neste tempo cresceu entre nós, na Igreja, a consciência da injustiça que está na origem de tantos males. A injustiça é fruto do egoísmo do homem. Desta maneira, a raiz primeira de todos os males do homem é o pecado, que se instalou no seu coração. Coerentemente, a primeira e a mais própria missão da Igreja é desinstalar o pecado do coração do homem; é devolver-lhe a santidade como sua primeira, maior e, a bem dizer, na visão de Deus, sua única missão a cumprir.
A injustiça procede do pecado do homem e leva o homem ao pecado. Para onde quer que se olhe, a injustiça impera. É tão calamitosa e tão generalizada esta situação que, hoje, o social exige uma atenção especial de toda a igreja. Ainda recentemente o Santo Padre advertiu gravemente o hemisfério Norte face ao progressivo empobrecimento que inflige ao hemisfério Sul. A Igreja da América Latina assumiu, de modo especial, a causa dos pobres. Com a igreja Latinoamericana está a Igreja no Brasil, no Rio Grande do Sul, e a Igreja Particular de Santa Cruz do Sul.
A opção preferencial pelos pobres a Igreja a fez à luz do Evangelho, não para apor ricos e pobres, não para dividir os homens e os cristãos em faixas antagônicas, muito menos, para solucionar o problema pela luta de classes. Ela o faz, pelo contrário, como um convite à conversão de todos os seus filhos e a todos os homens de boa vontade. Ela o fez, e faz, para que os bastidores, seus filhos, como Igreja, e os homens de boa vontade, como humanidade, se disponham a varrer da face da terra este contraste, que desfigura o rosto da Igreja, esposa de Cristo, e infelicita a maior parte dos filhos dos homens.
A missão da Igreja, neste passo, é converter, é perdoar, aproximar, harmonizar, unir, para que dentro da caridade e da justiça, todos os seus filhos colaborem e todos tenham condições para uma vida humana e cristã digna de filhos de Deus e de irmãos uns dos outros.

Nossos compromissos
Dentro deste quadro geral, na Linha de Unidade da Diocese, nosso compromisso maior de padres será formar e levar cada batizado/crismado a assumir em plenitude os compromissos de homem cristão. Nosso santo e senha será: cada discípulo, um apóstolo de Cristo, na Igreja e no mundo.
Os pais assumirão seu compromisso com a VIDA. Com a vida do amor, da doação e da fidelidade; com a vida do filho engebrado pelas leis da vida; com a vida da família como autêntica pequena Igreja domestica ou Igreja do Lar.
As comunidades assumirão o compromisso de transformar-se, urgentemente, em comunidades Eclesiais de Base. Como tais, serão autênticas pequenas igrejas locais, por todos e cada um dos seus membros integrantes. Por suas famílias e por seu convívio comunitário serão, de modo especial, ambiente favorável às vocações sacerdotais, religiosas e missionárias, e fautoras de novas famílias profundamente cristãs. 
Notadamente, as paróquias das cidades multiplicarão suas comunidades, nos centros e nas periferias. Desta maneira irão ao encontro das necessidades comunitárias dos cristãos, e absorverão facilmente o fluxo migratório em nova e própria vida comunitária e eclesial. As paróquias do interior e, a seu modo, também as cidades, instituirão o DIA DA COMUNIDADE como escola do povo de Deus.
Os grupos de família, grupos de oração, grupos de base insistirão na sua ramificação pela Diocese, abrindo-se para todos os ambientes. Continuam como prioridade a ser conquistada, na paciência, na amizade, na autêntica conversão de nós mesmos, sem discriminação entre irmãos. Neles, os movimentos encontraram reconhecido campo de atuação e realização, pela consonância de sua formação em grupos. 
Todo o povo de Deus empenhar-se-á na sua imprescindível tarefa de assumir o mundo dos homens, com todos os seu componentes, problemas e valores, para transformá-lo, saná-lo, como fermento, de dentro, na linha da santificação de cada dia. Vamos ao encontro dos mais fracos, dos necessitados para que, logo, tenham voz e vez, como os demais irmãos.
Por isso, vós todos, homens do poder e do saber; lembrai-vos comigo que o que temos a mais sobre muitos dos nossos irmãos, nós o temos a seu serviço, a seu dispor e à sua mercê. Lembramo-nos, nós especialmente, da grave advertência de Cristo: ‘’Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se com isso ele perde a sua alma?’’ Nesta visão cristã, facilitemos aos que colaboram conosco ou que de nós dependem, a sua união de classe. Empreguemos os recursos que temos, para oportunizar novos empregos. Fortaleçamos o pequeno agricultor na sua pequena propriedade. Paguemos sempre o justo, no salário e no preço. Na transmissão do saber, procuremos formar o sábio de manhã, que o mundo tanto espera e precisa. 
Mas, também vós, homens que plantais e semeais, e vós, operários e servidores: saibamo-nos responsáveis perante Deus e os homens para um melhor serviço e para um verdadeiro amor à terra e à natureza, à empresa que servimos e ao ofício que exercemos. Busquemos no Sindicato a força de nossa união, mas busquemos no Evangelho o senso de justiça e fraternidade que, acima de tudo e em qualquer hipótese, a todos deve unir como irmãos.
Como fautores de equilíbrio da família humana e como sinais de eternidade estais entre nós, prezados religiosos, Irmãos e Irmãs. Quase por força de vocação vos ocupais, geralmente, com os pequeninos e os mais fracos: crianças, adolescentes, enfermos, necessitados de toda sorte de serviços fraternais.  No concerto diocesano, exercereis com alegria a vossa missão. Mais do que ninguém, sereis irmãos dos irmãos.
Crianças sempre tão amigas, aqui não vos poderia esquecer. Vós sois os lírios do campo da Igreja. Nós todos aqui juramos que sempre queremos defender-vos em vossa inocência, em vossa vida. Sede sempre amigas de papai e mamãe. Sede amigas de Jesus.

Igreja entregue aos jovens
Meus prezados jovens, não vos deixeis envolver pelas ondas do consumismo. Não vos derroteis na idolatria do prazer. Não intoxiqueis nem o vosso coração, nem o vosso pensamento, nem o vosso corpo, nem a vossa alma.
Reconhecei a vossa condição de sangue novo para a humanidade, de seiva para a vida. Preservai o vosso ser como um sol sem mancha. Daí o calor de vosso afeto com dignidade e verdadeiro amor. Não profaneis o vosso ser, templo de Deus, habilitação da Santíssima Trindade. Jovens, hoje, agora, eu vos faço um chamamento a todos vós, o mais solene neste dia, no dia mais solene da Diocese Jubilar: assumi a vossa missão na Igreja e no mundo! Na Igreja, de modo especial, na Igreja particular de Santa Cruz do Sul, que hoje entrego em vossas mãos. Há 25 anos, quando começamos a caminhada da Diocese, vossos pais eram jovens. Foram eles que comigo assumiram, de modo especial, a Diocese. Eles foram assumindo todos os postos de responsabilidade na Diocese, nas paróquias, nas capelas, nas escolas, na sociedade e em toda a parte. Eles assumiram o bom combate. Hoje, sois vós, os seus filhos, os jovens que devem assumir a Diocese. Sede dignos de vossos pais. Avantajai-vos sobre eles, não por orgulho, não como quem despreza a obra realizada, mas como quem edifica sobre ela e quer torna-la melhor. Por favor: não deixeis envelhecer o depósito sagrado de vossa fé! Não deixeis envelhecer a Igreja. Tornai-lhe o rosto sempre novo, brilhante, feliz, à semelhança do vosso rosto saudável, forte, feliz.
Conservai puro o vosso olhar. Puro o vosso coração, puro o vosso corpo, puro o vosso ser. Dou-vos um lema forte e inquebrantável para vencer na Igreja, na família, entre os homens: sede eucaristicamente piedosos, angelicamente puros, apostolicamente ativos. Dou-vos um programa de vida, que o próprio São Paulo deu aos primeiros cristãos: ‘’Cingi os vossos rins com a verdade, revesti-vos da couraça da justiça, calçai os vossos pés com o Evangelho da paz, empunhai sempre o escudo da fé, tomai o capacete da salvação, tomai a espada do Espírito que é a Palavra de Deus, orai em todo o tempo’’. 
A todos vos, ou a quase todos vós eu crismei: assumi a Crisma em plenitude em vossas vidas. Sede o homem novo preconizado por Cristo. Sede o homem novo preconizado por Cristo. Sede a igreja nova, que hoje aqui vos entrego. Sede a igreja de Santa Cruz do Sul! 
E, agora, caríssimos, prossigamos na missa de louvor e de ação de graças a Deus por tudo o que fez por nós, nestes primeiros vinte e cinco anos de nossa Diocese. Coloquemos no altar, com o pão e o vinho, toda a riqueza espiritual que Deus, neste tempo suscitou entre nós, e que somente Ele sabe avaliar e valorizar. Nesta liturgia eucarística vai, também, por Cristo ao Pai, todo o reconhecimento, toda a gratidão, que devo a tantos, e por tantos motivos, nestes vinte e cinco anos de episcopado. E, ainda, um grande ‘’Deus vos pague’’ a todos, que atendestes o meu convite e viestes, tão números e alegres, de tantos lugares, muitos de tão longe, mesmo de fora da Diocese, e estais comigo nesta Sagrada Celebração. 
Todos compreendereis que diga uma palavra de especial reconhecimentos nossos irmãos bispos que, com sua presença amiga, aqui tornaram presentes todas as igrejas Particulares do Rio Grande do Sul. E, agora, rezemos o ‘’Creio em Deus’’, nossa profissão de Fé, como precede afirmação e de orientação firme e decidida da próxima caminhada da Diocese. 

Autor: Dom Alberto Etges
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