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HOMILIA DE DOM ALOÍSIO NO DIA DA ROMARIA DA FÉ E DA SOLIDARIEDADE

Créditos foto: PASCOM/Catedral São João Batista

HOMILIA DE DOM ALOÍSIO NO DIA DA ROMARIA DA FÉ E DA SOLIDARIEDADE (SCS – 10/09/2023)

Caros irmãos, queridas irmãs e radiouvintes. Gostaria de iniciar a homilia de hoje com uns instantes de silêncio orante, para recordar os irmãos e irmãs, sobretudo de nossa diocese, que foram atingidos pelas enchentes da semana passada e cujas consequências continuam assustadoras. Coloquemos nosso coração em comunhão com essas pessoas, essas famílias e comunidades e, junto com elas, elevemos nossa prece ao Senhor Crucificado, pois na sua imagem vemos muitas pessoas a sofrer no hoje da diocese.

Nesta hora, dentro do curso normal do ano litúrgico e das celebrações programadas de nossa Diocese de Santa Cruz do Sul, estaríamos em romaria, tendo a Cruz como sinal maior a nos guiar, caminhando para o encontro central: a celebração eucarística no Altar Monumento, junto ao nosso Seminário São João Batista. Estaríamos celebrando a maior concentração anual de fé e comunhão de nossas comunidades diocesanas, com participação de fiéis romeiros, provindos de nossas 52 paróquias. Certamente, estaríamos rezando, meditando ou talvez cantando nosso hino, cujo estribilho diz: “Salve, salve, ó Santa Cruz! És do amor maior sinal. Foi em ti que o bom Jesus revelou-se dom pascal”. Estaríamos destacando o sentido vocacional da frase do evangelho, que estava projetada para nos guiar na preparação e na realização da romaria: “Toma tua cruz e segue-me” (Lc 9,23). Que esta palavra de Jesus seja também usada hoje aqui e, certamente, em todas as outras comunidades da Diocese, onde é celebrada a Eucaristia ou houver celebração da Palavra de Deus. Jesus orienta seus discípulos/as a segui-lo com a cruz, sinal maior do seu amor, pois neste madeiro sagrado ele deu a sua vida para nos salvar. Entregar a vida é o amor máximo que uma pessoa pode expressar. Portanto, seu convite é para vivermos o amor, a caridade, como ele mesmo nos ensinou na véspera de sua morte, dizendo: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns para com os outros” (Jo 13,34b-35). Segundo Jesus, nossa identidade cristã se revela na medida que nós nos amamos uns aos outros.

Por isso, para nós cristãos, o amor é mais do que um simples gesto humano de solidariedade momentânea, por mais importante e necessário que este possa também ser, sobretudo em momentos de emergência, como de enchentes ou outras catástrofes. O amor que Jesus ensinou e demonstrou na vida, e sobretudo na cruz, é o amor gratuito e permanente para que nós tenhamos vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10). É dentro desse modo de pensar, em que o amor é inerente ao ser cristão, em todos os dias, que somos convidados a viver a romaria desse ano de 2023: celebramos a Fé que nos faz rezar e nos leva à caridade, à solidariedade samaritana concreta para diminuir o sofrimento dos atingidos pelas enchentes. Somente esse modo de sermos cristãos pode produzir a verdadeira esperança para nós e para os outros, sobretudo os que mais sofrem.

Não se cancela, por qualquer motivo, uma romaria tão tradicional, bem preparada e com perspectiva da presença de milhares de pessoas e cheia de sentido. Mas este ano a causa é extraordinária: muitos diocesanos/as perderam a vida; outros continuam a sofrer com a partida de entes queridos; inúmeros perderam bens que significam anos de luta, de trabalho, de vida; sem falar dos que perderam tudo o que possuíam e que são obrigados a recomeçar do nada, ficando talvez apenas com a roupa do corpo. Como dizia alguém ontem, que perdeu familiares na tragédia e os bens materiais: “Só Deus”. Ele perdeu tudo, menos a fé. Por isso, nossas ajudas de amor a eles podem transformar-se em gestos “divinos”, cheios de amor. E ao rezarmos pelos falecidos, manifestamos nossa fé e esperança na ressurreição dos mortos e na vida eterna.

Diante das realidades que motivaram o cancelamento da romaria tradicional, vamos celebrar, em todas as nossas Paróquias, como estamos fazendo agora aqui, a romaria da solidariedade e do amor, que nasce da fé e por isso proporciona esperança. A fé nos faz confiar em Deus, nosso Pai de misericórdia, e faz brotar a oração filial e nos impulsiona para gestos concretos de caridade, de solidariedade. Os gastos da romaria e as outras doações e ajudas, que já estão sendo enviadas de forma generosa, inclusive de outras dioceses do Brasil, da CNBB regional e nacional, cheguem aos atingidos pela enchente para diminuir seu sofrimento e tornem-se gestos de quem aprendeu de Jesus Cristo que amar é ser misericordioso, ou seja: colocar o coração junto à miséria dos necessitados, para que eles tenham esperança e coragem para se reerguer e continuar a caminhada da vida, com nosso apoio.

Por isso, irmãos e irmãs, sejamos generosos com quem precisa de nosso amor, também na coleta de hoje. Cada gesto de caridade é um sinal de esperança a mais para alguém ou mesmo para muitos. Aprendemos do Evangelho que as mãos que erguemos ao alto, em oração, têm que ser as mesmas que se estendem para o lado, aos irmãos necessitados. É admirável perceber as mãos samaritanas dos milhares de doadores e dos numerosos voluntários/as que não se cansam de trabalhar em nossas igrejas, salões paroquiais e outros lugares civis de acolhida das doações. Não esqueçamos também de rezar pelos que cuidam dos doentes e necessitados; dos que já estão reconstruindo provisoriamente abrigos, casas, ruas, galpões e outras construções de emergência nos municípios atingidos. Continuemos com a corrente da solidariedade e do amor. Cada um ajude, segundo suas condições e responsabilidades. São Paulo nos diz: “Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9,7).

Para encerrar, um conforto. Nosso querido Papa Francisco enviou anteontem uma fraterna e solidária mensagem, sobretudo para os atingidos pelas enchentes e suas consequências, e que neste momento desejamos ouvir:
“SUA EXCIA. REVMA. DOM LEOMAR BRUSTOLIN - ARCEBISPO DE SANTA MARIA E PRESIDENTE DO REGIONAL SUL 3 DA CNBB (08/09/2023) O SANTO PADRE DESEJA MANIFESTAR A SUA SOLIDARIEDADE ORANTE ÀS COMUNIDADES AFETADAS PELAS FORTES CHUVAS QUE, NOS ÚLTIMOS DIAS, ATINGIRAM O ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, DEIXANDO UM RASTRO DE DESTRUIÇÃO E MORTE. O PAPA FRANCISCO, COM SUA PATERNAL SOLICITUDE, QUER ASSEGURAR A VOSSA EXCELÊNCIA E AOS DEMAIS BISPOS DO REGIONAL, DOS SUFRÁGIOS QUE OFERECE PELO ETERNO DESCANSO DAS VÍTIMAS FATAIS, BEM COMO DAS PRECES QUE ELEVA AO ALTÍSSIMO PELAS FAMÍLIAS DESABRIGADAS, DESEJANDO QUE A RECONSTRUÇÃO DAS LOCALIDADES ATINGIDAS OCORRA DE MANEIRA RÁPIDA E EFICAZ. COMO PENHOR DE CONFORTO, O ROMANO PONTÍFICE CONCEDE A TODOS OS QUE FORAM AFETADOS PELAS GRANDES ENCHENTES A BÊNÇÃO APOSTÓLICA”. CARDEAL PIETRO PAROLIN (SECRETÁRIO DE ESTADO)

Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul

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