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Por mais cultura e menos poder impositivo!

Créditos foto: Políticas e Gestão da Cultura/IHAC - UFBA

Vivemos hoje num mundo marcado pelo individualismo, materialismo e subjetivismos. Uma das consequências imediatas desta realidade atual é a exacerbação da aparência física em detrimento da essência da pessoa humana. Imperam fontes que alimentam relações de poder e desprezam a verdadeira cultura. As pessoas exibem, de todas as formas, as suas conquistas materiais, exteriores, focam em conquistas ligadas a bens materiais, vestimentas de marcas caras, além de exibirem corpos esculpidos e modelados por cirurgias e tratamentos estéticos caríssimos. Alimentam uma engrenagem comercial, muitas vezes, tirando o poder de investimento em outras necessidades ligadas a cultura, alimentação e saúde. Todo esse processo se dá por uma lógica de poder que é competitiva, desumana, e de alto poder de manipulação e subjetivação. Compreende-se aqui poder como sendo o poder impositivo, no sentido de alguém ter a força e capacidade de submeter a vontade de outro sujeito a seu bel prazer, ao seu arbítrio, impondo ao outro a sua vontade. Instaurando assim um processo de objetificação do outro.
Hoje, os processos e modelos de sociedade, em grande parte, são globalizados pela indústria de sistemas globais de informação e de poder, onde a verdadeira cultura fica inviabilizada ou, ao menos, prejudicada. Compreende-se, aqui, cultura no sentido do bem criado pelo homem sobre a natureza, integrado à natureza, mas transcendente. Sendo assim de uma segunda natureza. Cultura como tudo o que o homem cria com um sentido especial, sentido valorativo para a vida, podendo ser de projetos pessoais e ou sociais, mas que sempre pressupõem uma noção de comunidade, coletividade, sociedade. A cultura é sempre identitária. Não se trata de cultura acadêmica, mas cultura como tudo o que é produzido pelo homem dentro de um horizonte de sentidos. Um analfabeto pode ser culto e um letrado, alguém com muito poder, pode ser culturalmente desprezível. Lembrando aqui do termo agricultura, como uma forma originária de cultura. É preciso enfatizar que cultura representa um bem que não é comercial, que não se expressa por bens materiais, não se dá por lógicas competitivas, por isso, também não compactua com lógicas sociais que exaltam as aparências humanas físicas em detrimento do ser da pessoa. Por isso, a cultura não se desenvolve em ambientes individualistas e materialistas. A cultura exalta o humano, a subjetividade voltada para a intersubjetividade, onde o eu e o outro estão sintonizados, imbricados. A cultura jamais será egoísta e competitiva. A cultura não segue a mesma lógica que sustenta as relações de poder, lógicas onde um é subjugado ao outro mais forte, relações onde alguns são sujeitos e outros objeto. Estas últimas são relações de força, poder impositivo, mas não de cultura.  
Para finalizar essa breve reflexão, cabe observar ainda que a cultura é o bem maior do homem. Por exemplo, cultura espiritual e cultura estética. Representa o cabedal de bens que o homem constrói ao longo de sua história, numa trajetória comunitária, pessoal e coletiva, podendo, em cada novo momento da história, revelar e construir novos valores, que passam a orientar a sociedade através de princípios e valores. A cultura se constrói através de uma racionalidade cooperativa, onde o bem construído é resultado da vontade de todos os envolvidos, que são todas as pessoas, a sociedade como um todo. A cultura também se dá pelas diferenças, onde diferenças e unidades são formas de expressão de valores e bens. Mas, jamais a cultura verdadeira coexiste com processos de exclusão de pessoas, apenas com diferenças (diferenças acolhedores, percepções subjetivas abertas, percepções intersubjetivas.
Enquanto perspectiva, que possamos avançar na sociedade com mais cultura, onde se valorize mais o ser humano, aquilo que é essencial e não aquilo que é material e aparente. Que as pessoas sejam observadas pelo que são, e não pelas suas formas de vestir e seus bens materiais. Uma sociedade que valorize mais os encontros, as pontes, as formas de cooperação e projetos comunitários e públicos. Que os individualismos e os processos de poder impositivos percam cada vez mais espaço, e que renasça e se fortaleçam cada vez mais de humanização, onde a lógica predominante seja a de acolhimento e respeito mútuo entre as pessoas, sem nenhuma forma de exclusão e discriminação. 

Autor: João Miguel Back. Professor
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