A oração pelas vocações é uma prática de muitos cristãos, de famílias e de comunidades. Nela vislumbra-se atitudes de acolhida e de confiança às palavras do Senhor Jesus: “Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9,38). É uma expressão do ato de fé em Jesus de Nazaré, como o Filho de Deus Pai, encarnado no seio da Virgem Maria, pela ação do Espírito Santo. O ato subjetivo de rezar, do ser humano que se coloca na presença do Mistério Divino, depende, em grande parte, da ideia que faz de Deus.
Para nós cristãos, a experiência de rezar e o conhecimento divino intrínsecos à oração, dependem fundamentalmente da revelação de Deus. Foi Ele quem nos criou com capacidade de amá-Lo e, consequentemente, conhecê-Lo. Como também é Ele quem se comunica, por livre iniciativa e bondade, ao ser humano. Por um lado, a oração é uma atitude do ser humano que, por algum motivo de súplica ou de louvor, dirige-se a Deus; por outro lado, este movimento da criatura ao Criador, de uma pessoa que se volta em oração a Deus somente é possível como uma resposta de fé, de forma livre e gratuita, Aquele que nos interpela com os sinais e ou com Sua Presença.
A fé da Igreja na revelação de Deus ajuda-nos a entender a natureza da oração cristã. Ensinam os padres conciliares: “Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria revelar-Se a Si mesmo e tornar conhecido o mistério de Sua vontade (cf. Ef 1,9), pelo qual os homens, por intermédio de Cristo, Verbo feito carne, e no Espírito Santo, tem acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina. Mediante esta revelação, o Deus invisível, levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos e com eles se entretém para os convidar à comunhão consigo e nela os receber” (Dei Verbum, n. 2).
A oração cristã tem uma identidade, distingue-se dos exercícios de oração das outras religiões. A identidade consiste fundamentalmente no modo ou na forma das relações entre quem reza (a pessoa, a comunidade) e o destinatário da oração; para nós cristãos o Mistério Divino se revelou como Mistério de Trinitário de comunhão. A partir da tradição orante da Igreja podemos identificar alguns aspectos fundamentais inerentes a prática da oração cristã. Um primeiro aspecto fundamental, somente podemos rezar e termos a confiança de sermos ouvidos porque o próprio Deus nos admite a sua presença e convívio; mesmo sem estarmos cientes, a iniciativa para a oração é sempre de Deus! Logo, quando um cristão reza responde ao Mistério da Santíssima Trindade que se revela como comunhão de pessoas: pensa na vida e nos ensinamentos de Jesus, o Filho encarnado; mas, fá-lo mediante a ação invisível do Espírito Santo que, desperta e conduz seu coração e sua mente, a dirigir-se como filho (a) a Deus Pai.
Segundo aspecto, a oração cristã realiza-se na relação entre pessoas, tanto as pessoas humanas e quanto as Pessoas Divinas. Já, o modo ou a forma da relação que se estabelece entre as pessoas é sempre o diálogo. Se não houver diálogo, a reciprocidade de fala e escuta entre as pessoas envolvidas, não há oração cristã. A Dei Verbum afirma, por meio da Revelação o Deus invisível fala aos seres humanos para convidá-los a participar da vida divina. Quando alguém fala pretende ser escutado e, sobretudo, aguarda uma resposta do ouvinte. Significa que a atitude fundamental da oração é o silêncio, condição para escutar a Palavra de Deus. Essa relação dialogal da oração é essencialmente vocacional, porque a fala de Deus sempre é um chamado divino para realizar algo e as respostas humanas, por mais desculpas que possamos dar a interpelação divina, sempre será um sim ou um não. A simplicidade e a veracidade da presença de Deus, não permitem negociações ou uma posição neutra. Desta forma, se uma comunidade eclesial sabe rezar será vocacional!
Terceiro aspecto fundamental da oração cristã: pelo diálogo as pessoas envolvidas crescem numa relação de amizade, intimidade e de respeito: Deus fala aos seres humanos como a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 15,14-15). Para Santa Teresa de Ávila, a oração é um trato de amizade com Deus. Intrínseco a relação de amizade sempre há algum grau de amor, de afeto, de conhecimento e de expectativa. Recordemos a pergunta do Senhor Jesus aos apóstolos: quem dizem os homens que eu sou? (cf. Mt 16,15); a exclamação do Salmista: Senhor vos me sondais e conheceis! (Sl 138) ou de São Francisco de Assis, Senhor que queres que eu faça? Pelo diálogo na oração crescemos em intimidade com Deus e em na maturidade humana, mediante a interlocução com Aquele que nos criou. Quando há uma relação de amizade com Deus a vocação é uma realidade inevitável.
Enfim, para os cristãos rezar é relacionar-se com o Deus vivo! Ele escuta e interpela-nos porque conhece e ama-nos. É Alguém que, por amor, nos faz um convite: queres participar no mistério da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo? Na oração devemos trata-Lo como um chefe, para o qual dirigimos um pedido protocolar ou depositamos uma oferta para alcançar a realização da nossa vontade; quem assim reza procede como um pagão, os cristãos rezam segundo o jeito do Senhor Jesus, o Filho que se dirige ao Pai (cf. Mt 6,9). Se a evangelização colaborar para tornar os cristãos e as comunidades orantes seremos uma Igreja com diferentes ministérios e carismas. Fé, oração e vocação são realidades correlacionadas, uma não existe sem a outra.
Pe. Leandro José Lopes
Vigário Geral da Diocese
Autor: Pe. Leandro José Lopes