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Dom Sinésio idealizou a Romaria

Créditos foto: Arquivo/PASCOM Na Romaria fazemos a experiência viva de “povo”

Setembro é o mês da Bíblia. Mas para a diocese de Santa Cruz do Sul, setembro é o mês em que o povo das comunidades da diocese se reúne para celebrar a unidade e comunhão diocesana, por ocasião da Romaria da Santa Cruz. E Dom Sinésio, em 2002, após muitas reflexões e reuniões, iniciou a caminhada das Romarias. Nos 60 anos de diocese, celebramos a 18ª Romaria. A Revista Integração conversou com Dom Sinésio, partilhando um pouco da vida deste bispo emérito, prestes a celebrar seus 85 anos de vida, no dia 11 de setembro. 
Pe. Zé Renato Back

Quem é Aloisio Sinésio Bohn?
Sou Aloisio Sinésio Bohn, nascido em Linha Bonita, então município de Montenegro, Rio Grande do Sul, em 11 de setembro de 1934. Filho de João Bohn Sobrinho e Olivia Paulina Bohn, sou o terceiro entre 10 irmãos. Nossa família sempre foi participativa na Igreja local. Fiz o ensino médio no Seminário de Gravataí e após, fui para Roma realizar os estudos de Filosofia e Teologia, sendo ordenado em 24 de dezembro de 1962, em Roma e, em 9 de setembro de 1977, fui ordenado Bispo. No dia 31 de agosto de 1986, assumi como bispo da diocese de Santa Cruz do Sul, tendo como lema episcopal: “Que todos sejam um”. 

Qual a motivação em sua vida e em seu ministério?
Desde criança fui coroinha, participando de todas as celebrações da comunidade, participando inclusive do coral de jovens da comunidade. Com isso senti o desejo de servir a Deus como Padre. Após ordenado padre, me dediquei à formação de jovens para seguirem o amor a Deus não somente como padres, mas como lideranças nas suas comunidades. Como assistente dos seminaristas acompanhei diversos jovens até o altar para entregarem a sua vida ao sacerdócio e ao amor a Igreja.

Como você se sente, como Bispo emérito?
O bispo emérito de fato ainda é Bispo, porém não exerce mais o cargo de bispo diocesano. Desde que me tornei emérito pude me dedicar mais a outros afazeres, coisa que antes não podia me dedicar tanto, como por exemplo, rezar mais o santo terço, onde no mínimo são 5 terços por dia, onde rezo por diversas intenções, inclusive pelo povo desta diocese no qual sinto muito carinho, rezo também pelo nosso Bispo e pelos padres. Assim, sinto-me feliz, no qual ofereço minha vida a Deus pela Igreja e ao Reino de Deus. 

Qual o segredo da longevidade? O que torna o Bispo Sinésio feliz? Algum lazer preferido?
Não existe segredo. Tenho uma boa saúde, faço algumas caminhadas e uma alimentação equilibrada.  Eu como bispo, sou feliz porque em toda minha vida servi a Deus e a Igreja, também de poder celebrar todos os dias a Santa Missa. Um dos meus lazeres preferidos, além de estar celebrando missa com o povo, é visitar os padres, visitar meus irmãos e claro, quando possível, jogar uma canastrinha com os amigos.

Você iniciou a Romaria da Santa Cruz. Qual foi a Inspiração?
A vida da comunidade pode ser monótona e sem comunhão com a Igreja mundial. Sugeri então a Romaria da Santa Cruz, onde se caminha com outras comunidades e se abre à Igreja Una, Santa e Católica. O objetivo era a união de todas as paróquias da Diocese de Santa Cruz do Sul em uma única celebração na qual celebraríamos a Exaltação da Santa Cruz. É já tradição falar de “povo de Deus a caminho”. Quando somos muitos caminhando, como na Romaria, fazemos a experiência viva de “povo”. E porque caminhamos, somos povo “a caminho”. O Povo que anda, que busca, que aspira, que vai ao encontro, que transforma o mundo pelo amor.

Estamos no Ano da Eucaristia.  Qual a importância da Eucaristia em sua vida de bispo?
Minha vida é Cristo. A Eucaristia é Cristo. Como é lindo estar com Cristo e em Cristo. O céu não é isto? Como aspiro a esta vida em Cristo! Fui educado, desde criança, a valorizar a Eucaristia. Pois nela entramos em comunhão com todos os Santos, de todas as culturas, de todas as idades. É o que chamamos de “comunhão dos Santos”. Está no Credo.

Qual a importância da formação permanente, particularmente aos presbíteros?
Estou de acordo com o antigo Arcebispo de Porto Alegre. Ele dizia: “um padre que não estuda, vira boi”. É uma sentença cruel, mas vi padres idosos atrasados, ditando normas para o povo, inclusive para jovens. 
Atualmente a formação presbiteral não acaba quando termina a Teologia, ou quando o padre faz um mestrado. A formação é permanente, é conhecendo a vida do povo que o padre adquire uma nova maneira de mostrar a presença de Jesus. A formação é constante. Pois o padre que conhece seus paroquianos vai ter um belo relacionamento, pois nada adianta ao padre no púlpito falar em doutrinas, salvação, se o povo não consegue sentir o amor pleno de Deus por seu povo. 

Conhecido como bispo dos jovens e do ecumenismo, que aspectos relevantes continuam válidos para a Igreja no século 21?
A Igreja é feita de povo consagrado pelo Batismo. Não existe povo sem jovens. Seria povo moribundo.
É Jesus que deseja seu povo unido. É ele que diz: “Pai, para que todos sejam um, como tu e eu somo um”. Como padre, trabalhei no Seminário como orientador e gostava de estar junto aos jovens, nos quais eu via a alegria, seus carismas e sempre quis estar com eles. Mas a Igreja queria mais de mim. Ordenado Bispo, não perdi esse ideal de trabalhar com jovens. Nesse trabalho com a juventude sempre incentivei a fazerem trabalhos em comunidades, pois via muitos jovens se desviando, se esquecendo de Deus e entrando no mundo das drogas, da violência e acabando muitas vezes sendo mortos. Por isso, é fundamental ainda hoje esse trabalho com a juventude, pois não queremos ver nossos jovens mortos, perdidos nas drogas e na violência.
Já o trabalho com o ecumenismo, é fundamental ter a união com nossas igrejas irmãs, pois quando se trabalha unido, podemos melhorar mais nossas comunidades e fortalecer o laço que nos une, que é Deus.

A diocese completa 60 anos. Na sua visão, qual é o diferencial da diocese de Santa Cruz do Sul?
O objetivo supremo da Igreja é o mesmo: é sempre o povo de Deus a caminho da unidade em Cristo. Por isso a divisão é contraditória à vontade de Deus. A divisão é fruto do pecado. A diocese de Santa Cruz do Sul é chamada a viver a vida em Cristo, no centro do Rio Grande do Sul. A bela tradição do povo gaúcho traz no seu núcleo a fé em Deus. Preservar esta tradição faz parte duma pastoral encarnada na vida do povo. É linda a tradição do povo gaúcho. Sou feliz em fazer parte deste povo.
 
O que é importante para acontecer a iniciação à vida Cristã?
Sem iniciação à vida em Cristo, a bela tradição do povo gaúcho corre o risco de ser apenas folclore bonito, sem apelo à esperança em Cristo e à unidade em Cristo. Bela tradição, mas só isso. O início da vida em Cristo, começa em casa, é com os pais mostrando através do amor, da oração, do respeito, que se inicia a vida em Cristo. E depois, na catequese em preparação à primeira Eucaristia e à Crisma, que essa vida cristã se amadurece para que possamos cada vez mais conhecer a mística de Deus em nossa vida.
 
O que mais você gostaria de deixar dito aos Leitores da Revista Integração?
Faço 85 anos, graças a Deus. Sou grato a meus pais e irmãos e a tantos amigos que me ajudaram a viver e a conviver. Eu continuo me entregando a Deus diariamente. Assim a minha morte não deve trazer muitas novidades. Sempre acho que, o que chamamos de “morte”, será o encontro sem paralelo com Cristo, com a Mãe Maria e o número incontável de amigos queridos, a começar pelos pais e irmãos.
Também quero dizer ao povo da Diocese de Santa Cruz do Sul, um muito obrigado pelo caloroso acolhimento que recebi de todos durante todos os anos que estive à frente da diocese.    
Agradeço, igualmente, aos meus sucessores, Dom Canísio Klaus e Dom Aloisio Dilli, bem como ao primeiro bispo e meu amigo Dom Alberto Etges, e aos padres que sempre me apoiaram nessa longa caminhada de Igreja e dizer que sempre rezo por todos a cada dia.

Autor: Pe. Zé Renato Back
Fonte: Edição 449 - Revista Integração Diocesana - Setembro de 2019
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