Na manhã da quarta-feira, dia 12 de fevereiro, quando se celebram os 15 anos do martírio de uma das grandes profetizas e mártires da Amazônia, Irmã Dorothy Stang, o Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica Pós-Sinodal QUERIDA AMAZÔNIA, ao Povo de Deus e todas as pessoas de boa vontade.  Ao dar o título de “Querida Amazônia” à Exortação, o Papa manifesta o seu carinho pela Amazônia, tantas vezes maltratada por governos, madeireiros, fazendeiros, mineiros, grileiros, religiosos ...

Na abertura do documento, o Papa registra que “a Amazônia querida se apresenta aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério”. Por isso, “Deus queira que toda a Igreja se deixe enriquecer e interpelar por este trabalho, que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis-leigos da Amazônia se empenhem na sua aplicação e que, de alguma forma, possa inspirar todas as pessoas de boa vontade”. 

A Exortação é dirigida ao mundo inteiro, “para ajudar a despertar a estima e solicitude por esta terra, que também é nossa’ (...) retomando “algumas questões que podem servir de inspiração para outras regiões da terra enfrentarem os seus próprios desafios”.

O texto se organiza em torno de quatro grandes “Sonhos para a Amazônia”, assim descritos:

1º) Um sonho Social: “Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida”.

«São muitas as árvores onde morou a tortura e vastas as florestas compradas entre mil mortes».

«Os madeireiros têm parlamentares e nossa Amazônia não tem quem a defenda (…)

Mandam em exílio os papagaios e os macacos (…)

Já não será igual a colheita da castanha».

«Aquele luzeiro se aproxima; revolteiam os beija-flores; mais do que a cascata troa meu coração; com esses teus lábios regarei a terra que possa o vento jogar em nós».

2°) Um sonho Cultural: “Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana”.

«Havia outrora uma paisagem que despontava com seu rio, seus animais, suas nuvens e suas árvores.

Às vezes, porém, quando não se via em lado nenhum a paisagem com seu rio e suas árvores, competia a tais coisas assomar à mente dum garotinho».

«Do rio, fazes o teu sangue (…).

Depois planta-te, germina e cresce. 

Que tua raiz se agarre à terra mais e mais para sempre e, por último, sê canoa, barco, jangada, solo, jarra, estábulo e homem».

3º) Um sonho Ecológico: “Sonho com uma Amazónia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas”.

«Amazonas, capital das sílabas d'água, pai patriarca, és a eternidade secreta das fecundações, chegam-te rios como pássaros».

«Aqueles que pensavam que o rio fosse uma corda para jogar, enganavam-se.

O rio é uma veia muito sutil sobre a face da terra. (…)

O rio é uma corda onde se agarram os animais e as árvores.

Se o puxarem demais, o rio poderia rebentar.

Poderia explodir e lavar-nos a cara com a água e com o sangue».

4º) Um sonho Eclesial: “Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazónia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazónicos”.

«Flutuam sombras de mim, madeiras mortas.

Mas a estrela nasce sem censura sobre as mãos deste menino, especialistas que conquistam as águas e a noite.

Bastar-me-á saber que Tu me conheces inteiramente, ainda antes dos meus dias».

Neste capítulo, o Papa propõe a inculturação da Igreja na Amazônia: inculturação social e espiritual; inculturação da liturgia; inculturação do ministério no intuito de criar comunidades cheias de vida, onde ressalta a força das mulheres e acontece o ecumenismo e a convivência inter-religiosa. 

A Exortação termina com uma bela oração à MÃE DA AMAZÔNIA, que pode ser rezada nas comunidades de fé.