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O tempo cósmico, manifestado pelos ritmos da natureza e pelas leis do universo, é santificado pelas celebrações litúrgicas cristãs. A centralidade do mistério de Cristo no Ano Litúrgico não exclui um simbolismo cósmico. Alguns elementos e fenômenos cósmicos influíram na data de celebrações cristãs e exerceram uma função importante na evolução de seus temas e dos seus rituais e servem como instrumento para a celebração da liturgia cristã ao longo do Ano Litúrgico. O ritmo é um fator essencial da vida e um elemento criador.
O Ano Litúrgico é fruto de uma reflexão teológica sobre o tempo, na qual Jesus Cristo é a chave de leitura de todo o projeto divino, desde a criação até sua segunda vinda, isto é, a parusia. Matias Augé explica que “o tempo litúrgico, caracterizado pela “circularidade” própria do ano cósmico, faz a síntese da história da salvação, mas não a encerra no seu círculo. Portanto, o ano litúrgico não deve ser confundido com o eterno, retorno das estações; é um tempo que se repete, como uma espiral progressiva, e vai em direção à parusia. O ano litúrgico é uma estrutura ritual, na qual a totalidade da história da salvação, a saber, o evento Cristo, nas suas diversas projeções temporais de passado-presente-futuro, se atualiza no tempo determinado de uma assembleia eclesial concreta e no espaço de um ano. A repetição das celebrações, ano após ano, oferece à Igreja a oportunidade de um contínuo e ininterrupto contato com os mistérios do Senhor: ‘Como uma estrada corre serpenteando ao redor de um monte, com o objetivo de poder atingir, pouco a pouco, em subida gradual, o escarpado pico, assim nós devemos fazer de novo num plano mais elevado a mesma caminhada, enquanto não se atingir o ponto final, que é o próprio Cristo, nossa meta’”. (O. Casel)
A Bíblia vê nos ritmos do tempo a manifestação da revelação de Deus. No Antigo Testamento, o tempo possui dois aspectos: o tempo cósmico, regulado pelos ciclos da natureza; e o tempo histórico, que se desenrola no fluxo dos acontecimentos. É Deus quem os governa e os orienta. No Novo Testamento, o evento decisivo do plano da salvação de Deus é Jesus Cristo, pois Ele dá cumprimento ao tempo do Antigo Testamento e é a realidade central do tempo futuro. Cristo, na sua existência terrena, recapitula a história da salvação e revela seu conteúdo. Neste sentido, o Ano Litúrgico, enquanto tempo litúrgico, é continuação do tempo bíblico no qual sucederam os eventos da salvação. As celebrações do ano litúrgico tornam eficaz no presente a realidade salvadora de tais eventos.
O Ano Litúrgico, portanto, pode ser descrito como o conjunto das celebrações com que a Igreja celebra anualmente o mistério de Cristo. O centro de todo o Ano Litúrgico é o Tríduo do Senhor Crucificado, Sepultado e Ressuscitado, que culmina no Domingo de Páscoa. Da celebração da Páscoa do Senhor derivam todas as celebrações do Ano Litúrgico: as Cinzas, no início da Quaresma; a Ascensão do Senhor; Pentecostes; e o Primeiro Domingo do Advento.
Os Mistérios de Cristo, celebrados ao longo do Ano Litúrgico, formam a cada celebração como que a imagem de um ícone litúrgico de Jesus em nossos corações. Celebremos, pois, nossa fé durante a Semana Santa, tendo em vista que “a humildade de Cristo é a nossa exaltação, sua cruz é nossa vitória, o seu patíbulo é o nosso triunfo”. (São Máximo de Turim). E no Domingo de Páscoa proclamemos com confiança: “Cristo ressuscitou! Aleluia! Verdadeiramente, ele ressuscitou! Aleluia”!
Autor: Ir. Roberta Peluso, osb - Mosteiro da Santíssima Trindade