Créditos foto: Pe. Marcelo Carlesso
No ano em que celebra seu cinquentenário, o Seminário São João
Batista, de Santa Cruz do Sul, se encontra à frente de uma dupla perspectiva.
Para centenas de ex-alunos, professores, funcionários e colaboradores,
descortina um olhar de saudade, de recordações e de sincera gratidão sobre o
passado. Para a atual direção e seus novos alunos, vindos de várias dioceses,
revitaliza a vocação original da instituição como centro de preparação e
formação de sacerdotes.
Embora remetam a horizontes distintos, as duas perspectivas, na
verdade, se fundem numa só. No mesmo evento festivo que promoveu, no início de
março, o reencontro de ex-personagens das cinco décadas de história, foram
apresentados e acolhidos os novos protagonistas do centro de formação. São
inicialmente 16 alunos vocacionados das dioceses de Cachoeira do Sul, Cruz
Alta, Santa Cruz do Sul, Santa Maria e Santo Ângelo que dão vida (e esperança)
a um novo projeto para o seminário de Santa Cruz: a implantação do Seminário
Propedêutico Interdiocesano da Província Eclesiástica de Santa Maria.
Ordem do Papa
Tudo começou com um grande desafio lançado pelo Papa João XXIII
ao então recém-nomeado bispo da diocese de Santa Cruz, dom Alberto Etges. Bula
papal expedida no dia 27 de agosto de 1959 determinava: “Impomos ao bispo
da diocese a grave obrigação de construir o quanto antes um Seminário Menor,
que receberá meninos de boa índole, dentre os quais os melhores sejam enviados
a Roma para se dedicarem, no Pontifício Colégio Pio Brasileiro, ao estudo da
Filosofia e da Teologia”.
Efetivamente, já no ano seguinte, em 1960, começaram as
tratativas para a aquisição de um terreno apropriado para esta finalidade. A
escolha definitiva caiu sobre o local onde se alojaram os primeiros imigrantes
vindos da Alemanha, nos altos de Linha Santa Cruz. A área, com pouco mais de 35
hectares, pertencia a nove herdeiros e foi paga de forma parcelada. Também foi
neste período que tiveram início as campanhas para arrecadação de donativos. Em
toda a diocese foi articulada uma ação de apoio às futuras obras do seminário.
Enquanto Arlindo Kothe elaborava o projeto arquitetônico, que
previa um conjunto de edificações que totalizavam 9.400 metros quadrados,
destinado a abrigar até 150 alunos, as paróquias se esmeravam para reunir
recursos para a execução das obras. Importante contribuição também chegou da
Alemanha, através da campanha Adveniat.
Mão na massa
Sob a administração do cônego Wunibaldo Backes, então Vigário
Geral da Diocese e Procurador da Mitra, no final de 1963 foi feita a
terraplenagem da área e tiveram início as escavações para construção dos
alicerces. A Construtora Lux e Kothe, de Santa Cruz do Sul, ficou encarregada
pelas obras, sob a supervisão do contra-mestre José Mahle, auxiliado por cinco
pedreiros e oito serventes.
A pedra angular, trazida de Roma pelo bispo dom Alberto Etges
por ocasião do Concílio Vaticano II, foi colocada no saguão do edifício frontal
e traz a seguinte inscrição: “Tijolo da Basílica de São João do Latrão, símbolo
da união da Igreja de São João Batista, de Santa Cruz, com a Igreja de Roma”.
Durante cinco anos, todo o esforço da diocese foi canalizado para a execução do
que seria a primeira etapa das obras, que foi levada a termo de forma
ininterrupta.
Portas abertas
Finalmente, no dia 1º de março de 1968, em caráter provisório,
foi inaugurado o seminário, sob o patrocínio de São João Batista, padroeiro da
diocese e da cidade. Dom Alberto Etges presidiu a cerimônia, que constou
de bênção das dependências e celebração de missa. Em seguida foi aberto
oficialmente o ano letivo com a aula inaugural proferida pelo reitor padre
Ignácio Pilz.
Completaram a primeira direção o padre Wonibaldo Wagner e o
ecônomo padre Avelino Simon. O quadro de professores ainda esteve integrado
pelo padre Álvaro Lenhardt, Ervino Hoelz e Zeno Rech, então seminarista maior
em Viamão. Ao longo do ano também ingressaram no quadro o padre Francisco
Hochscheidt e o professor Edgar Hoffmann.
Em seu primeiro ano de funcionamento o seminário abrigou 29
seminaristas das turmas de 1º e 2º Científico. Ano a ano
novos alunos chegavam e, a partir de 1970, foi implantado o curso interno de
Filosofia. Ao longo desta década o seminário operou em sua plenitude, abrigando
três turmas do curso Científico e três turmas de Filosofia. Além de
oferecer uma privilegiada formação intelectual e espiritual, proporcionou
crescente inserção social, cultural e esportiva na sociedade. No campo
artístico e cultural, diversas formações do coral encantaram comunidades por toda
a diocese. Mas foi o esporte, sobretudo o futebol, que patrocinou a maior
integração dos seminaristas com as comunidades. Jogando sempre em alto nível
técnico, a seleção do seminário, em diferentes épocas, era reconhecida e temida
pelas mais tradicionais agremiações da região.
Um novo cenário
Após este período promissor, porém, um novo cenário passou a
prevalecer, com redução significativa de alunos, inviabilizando a manutenção do
curso de Filosofia, que acabou extinto em 1979. Já o segundo grau perdurou até
1989. Em consequência desta nova realidade, com expressiva redução de vocações,
o projeto original do Seminário São João Batista não chegou a ser concluído.
Sequer a construção da ala direita da fachada avançou para além dos alicerces.
Da mesma forma, o segundo prédio destinado a salas de aula e dormitórios, a
grande capela sobre pilares e o salão para assembléias e representações não
saíram do papel.
Diante desta realidade, o ano de 1991 inaugura um novo momento
na história da instituição.
Foi quando a casa passou a abrigar o Curso Propedêutico,
destinado a preparar os alunos vocacionados para os estudos de Filosofia. Por
sinal, o curso de Filosofia voltou para o Seminário de Santa Cruz em 1998,
ministrado não mais na casa, mas na Universidade de Santa Cruz (Unisc). Dez
anos depois, em 2008, retornou em definitivo para Viamão.
No ano seguinte, em 2009, o seminário passou a abrigar a Escola
Família Agrícola, com formação em agropecuária. Para tanto foi alugado o prédio
frontal que, no primeiro ano, acolheu 51 alunos inscritos no curso.
Apesar da necessária adequação a uma nova realidade e da
redefinição da finalidade da casa, a trajetória dos 50 anos também foi marcada
por momentos de forte integração com a comunidade. A Romaria Anual da Santa
Cruz, no segundo domingo de setembro, é um evento consagrado na diocese.
Instituída pelo bispo dom Sinésio Bohn, teve sua primeira edição em 2002. Três
anos depois foi construída a cruz símbolo da romaria, na área frontal ao
seminário, para onde também está projetada a edificação do Santuário da Santa
Cruz, cujas obras devem iniciar-se ainda este ano.
Pronto para o futuro
Em 2014, por iniciativa do bispo dom Canísio Klaus, o seminário
foi transformado em Centro de Formação. Além de continuar a sediar a Escola
Família Agrícola, o Centro também acolhe eventos e projetos de cunho
intelectual, religioso, político, econômico e social de diversas finalidades.
Com a adoção deste novo perfil, cerca de 40 mil pessoas passam todo ano pelas
dependências do complexo.
Para adequar o espaço a este contexto e para sediar o Seminário
Propedêutico Interdiocesano, dom Aloísio Alberto Dilli determinou a execução de
diversas melhorias e reformas na estrutura física, coordenadas pelo diretor
padre Eleutério Orsolin. É neste espaço, que carrega o peso de um jubileu e o vigor
de uma revitalização, que o atual reitor, padre Marcelo Carlesso, tem o desafio
de continuar a preparar e formar futuros sacerdotes.
50 ANOS EM NÚMEROS
419 alunos matriculados (ensino médio,
Filosofia e propedeutas)
53 sacerdotes ordenados
2 bispos egressos (Dom Gílio Felício e Dom Canísio Klaus)
Autor: Romeu Inácio Neumann