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Igreja e Voto em 2018

Créditos foto: Reprodução / Observatório Cristão

Prezadas amigas e amigos leitores! Voltamos a esta coluna e palmilhando cada hora que passa por restias de esperanças e luzes que de fato iluminem esta nossa tão sofrida Nação. Não se preocupem. Não é nenhum arroubo nacionalista beirando aos apelos as vezes quase histéricos que rondam o atual cenário nacional. A Nação com a qual estou preocupado e não somente eu, é aquela que exatamente no dia de ontem, 18/10, voltou a compor o Mapa da Fome e da Miséria no Mundo, segundo dados da FAO/ONU. Uma verdadeira tragédia face ao curto período que estivemos fora dele e no qual chegamos a resgatar quase 20 milhões de brasileiros da indigência e da triste sina de ver morrer ou mesmo, por morrer, não se enxergar, imersos no pesadelo da fome. Mas afinal de contas, o que esse voto de pesar tem a ver com o voto do título?
Para isso vou a uma cena que poderia passar por pitoresca ou lamentavelmente comum nos dias que se aproxima o final do segundo turno, não fosse onde fosse e não fosse com quem fosse. O candiato que está à frente das pesquisas recusa-se veementemente em participar de debates com seu oponente, embora a opinião pública, mesmo em contradição com o seu voto pois lhe dá maioria, em quase 70% gostaria de vê-lo debater, segundo pesquisa Datafolha. Pois bem, embora não participe dos debates e o próprio combata as “saidinhas”, como ele chama  a liberdade concidicional dos ricos prisioneiros da Operação Lava a Jato, ele próprio dá as suas, como fez indo ao BOPE e depois em visita à Arquidiocese do RJ. Na oportunidade, e toda autoridade católica é livre para saber até onde compromete a radical hospitalidade cristã em relação a quem entra na sua casa, após a reunião com o Arcebispo D. Orani Tempesta, funcionárias daquela instituição são retratadas ao lado de uma imagem de Jesus Cristo repetindo o ato celebrizado pelo candidato no qual a mão imita uma arma e faz menção de atirar. Tudo isso carregado de sorrisos e camisetas canarinho devidamente apropriadas pelo discurso nacionalista daquela candidatura. Cabe lembrar que por muito menos o ídolo Ronaldinho Gaúcho e outros ilustres do futebol brasieleiro na Europa perderam o título de embaixadores do time a que fizeram parte, o Barcelona e isso ocorreu porque o Barcelona, em eras tenebrosas, sobreviveu ao facismo tendo dirigentes fuzilados na mão do Gen. Franco.
Mas o papo não é de futebol e muito menos sobre funcionárias específicas de uma instituição religiosa a executar a macabra dancinha da fuzilaria, mas pensar até onde a força do convencimento dos apelos populistas e ao menos retoricamente facistas daquela campanha chegou. Não é surpresa para quem acompanha a trajetória do catolicismo no Brasil, da tradição conservadora em torno da Arquidiocese do Rio de Janeiro, diametralmente oposta durante um bom tempo à Arqudiocese de São Paulo em especial à memória de nosso querido e quase santo D. Paulo Evaristo. Aqui amigas e amigos, há uma diferença. Quem será lembrado na Igreja depois que morre? Qual a razão de termos santos e santas? Mas seguimos. 
Longe de lhes propor um roteiro moralista, e muito menos teológico, que escapa em muito  a minha competência, lhes propus a cena para a reflexão. Para quem tiver maiores dificuldades basta um “google” como eu fiz com a seguinte frase “funcionárias da Arqudiocese do RJ se deixam fotografar em sinal de apoio a Bolsonaro” e voilá…. Mesmo que no dia seguinte uma nota pública da Arquidocese, esta sim, eivada de moralismo hierárquico e assim coitadas das funcionárias que se enganaram quanto à forma de liberdade que desfrutavam, tentasse reparar o irreparável, isso  revela  o clima instalado ali, propício a tal manifestação.
Na perspectiva ética e cristã, talvez pudéssemos pensar que a recusa em dar guarida performática, ou seja, receber mesmo que diplomáticamente, um candidato notoriamente vinclulado aos recursos do estímulo à violência e à segregação social pudesse ter validade. É claro que não ficaria bem com toda a claque, inclusive de homens de bens que neste momento perfilam-se ao lado de tal candidatura em tudo quase vioriosa, garantindo populdos recursos não declarados, mas a quem exatamente a Igreja se dobra ou reverencia? Não  é possível pensarmos nos limites éticos de tais obrigações? Vejam minhas caras e caros leitores, inclusive alguns eleitores de tal candidatura, que não estamos desafetos da possibilidade de havermos submergidos à tamanha força ao ponto de dançarmos manifestando intenções malévolas. Mas por ora, prefiro guardar meus pedidos de misericórdia a mim mesmo, em especial, por muitas vezes não estar incondicionalmente ao lado daqueles que novamente voltam ao terrível protagonismo do Mapa da Fome brasileiro.
Boas escolhas! 

Autor: César Goes - chbgoes@gmail.com
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