Créditos foto: Reprodução/Imternet
Eucaristia: memória e partilha foi o tema sugerido pelo Apostolado da Oração de Arroio do Meio em seu encontro paroquial deste ano de 2019. São três palavras que oferecem uma perspectiva abrangente do sacramento da Eucaristia.
A eucaristia é memória, quer dizer, traz presente alguma dimensão do passado. A estrutura mais fundamental desse passado é a comemoração da primavera na natureza, representada no trigo, na uva, no cordeiro e na colheita. A razão é que nas culturas agrárias os primeiros frutos da colheita sempre têm um valor e uma sabor especiais. Por isso, não se usava fermento, resultado de sobras antigas, e se faziam pães ázimos. É essa base agrária que depois se torna o símbolo da libertação do Egito. A descendência de Jacó ou Israel, escravizada no Egito, é libertada por Deus através de Moisés. Para que todos os anos os Israelitas atualizassem essa libertação, foi instituída a Páscoa judaica e a ceia correspondente. Junto com o cordeiro pascal, que deveria ser de um ano, comiam-se os pães ázimos, as ervas amargas e se bebia o vinho, fruto da videira, tudo acompanhado com a leitura dos textos importantes das Escrituras e cântico de salmos. A estrutura fundamental dessa ceia está presente ainda hoje na Eucaristia ou Ceia cristã.
Jesus de Nazaré, ao longo de sua vida, praticava o que se chama hoje de comunidade de mesa. Ia na casa das pessoas para tomar refeição. Merecem destaque as refeições com os publicanos e pecadores que eram motivo de escândalo, mas expressavam o fato de Jesus ter vindo não para os justos e os sãos, mas para os pecadores e doentes. Por isso, aceitava fazer refeição com eles ou mesmo fazia questão de ir a suas casas, como lembra a narrativa de Zaqueu (cf. Lc 19,1-10). Frequentava a casa de pessoas amigas e fazia desse momento um momento de partilha de vida.
Mas Jesus não apenas ia na casa das pessoas, mas ele mesmo cuidava da fome. Os textos que descrevem as multiplicações dos pães, apontam para o fato de que a fome das pessoas era parte da compaixão e misericórdia de Jesus (cf. Mc 6,31-44 e paralelos). Sublinhem-se aqui dois aspectos importantes: Jesus toma os alimentos à disposição ou que lhe são oferecidos, e reparte, socializa. Para Jesus a multiplicação dos pães não é para a satisfação individualista da fome, mas é um ato comunitário e social. Conforme a narrativa das tentações, Jesus não transforma as pedras em pão; ele não é um mágico, mas um ser social que divide e reparte, partilha. O segundo aspecto importante: Jesus toma as refeições em ação de graças, pronuncia a bênção. Daí, “Eucaristia”, a terceira dimensão.
Por fim, na sua despedida desse mundo, Jesus reúne os discípulos mais próximos, e com eles reparte a si mesmo: “isto é o meu corpo que será entregue por vós [...]. Isto é o meu sangue, sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados. Fazei isso em memória de mim”. A própria cruz, assim como a ressurreição estão antecipadas nessa ceia de despedida como sinal da memória de toda história de Israel, da vida de Jesus, de sua partilha e das refeições nas casas de pessoas amigas e dos pecadores, e da sua ação de graças. Por conseguinte, em qualquer lugar em que se celebre a Ceia ou Eucaristia, acontece a memória da ceia de despedida de Jesus e se convocam as pessoas a tomarem, em ação de gtraças, o pão a ser repartido com seus semelhantes e com todos os seres humanos para a salvação do mundo.