Créditos foto: Reprodução / Internet
Conta-se que um dia perguntaram a Lutero o que ele faria se soubesse que morreria no dia seguinte. “Eu plantaria um pé de maçã”, foi sua resposta. Plantar uma árvore, no caso uma frutífera, é um ato de esperança. De certo modo responde à comparação de Jesus: “se o grão de trigo caído em terra não morre, fica só e não produz fruto” (cf. Jo 12,24-26). Lembra também a semente de mostarda, a menor de todas, mas que se torna uma árvore grande a ponto de acolher os pássaros: assim é o Reino dos céus (cf. Mt 13,32). Além disso, lembra a videira e os ramos (cf. Jo 15,1-17). Ou ainda, a figueira amaldiçoada ou o machado posto à raiz de que fala João Batista; ou “se isto acontece ao lenho verde, o que não acontecerá ao seco?” (cf. Lc 23,31) E o próprio Jesus, via diante de si a cruz crescendo contra ele. Mas ao invés de a derrubar, ele a carregou e desafiou a quem quisesse segui-lo, a fazer o mesmo: tomar cada dia a sua cruz e ir atrás dele.
Em algumas tradições nórdicas monta-se uma espécie de árvore para a Páscoa, ou o início da primavera, como sinal da vida nova brotando depois do inverno. Em nosso contexto, conhecemos a árvore de Natal, também lembrando um aspecto da natureza: escolhem-se árvores que ficam verdes durante o inverno. No Oriente, muitas cruzes aparecem em formato de planta ou árvore, significando a relação intrínseca entre a cruz e a vida, mas lembrando também a passagem do livro do Gênesis, quando fala da árvore da vida no meio do jardim do Éden (cf. Gn 2,9). De um modo geral, portanto, a tradição cristã acolheu a interpretação da cruz como árvore da vida. No hino da Semana Santa, canta-se a compaixão do Criador, que à queda dos primeiros pais reagiu com uma nova árvore.
A metáfora da árvore da cruz hoje adquire uma força especial: dizer que a cruz é a árvore da vida, significa atribuir à árvore um poder salvífico. A cruz não é um lenho seco, portanto, não é uma floresta queimada, a não ser sob a perspectiva do contraditório: a árvore, ou a floresta derrubada, é Jesus sendo crucificado mais uma vez. Mas se a árvore é mantida, plantada e cultivada, então se torna um sinal da presença de Jesus, um sinal da sua salvação, um sinal de esperança num futuro diferente.
Nos dias atuais, as árvores podem falar muito da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ao mesmo tempo em que são cada vez mais necessárias, estão sob permanente ameaça. É como se a esperança, sempre mais urgente, estivesse em risco o tempo todo. A Páscoa é o contraste com a morte e o pecado. A cruz, que parece morta, em realidade é um tronco vivo do qual brota a vida do mundo. E é justamente em tempos difíceis que a cruz se torna ao mesmo tempo a testemunha da morte e da esperança, do fim e do começo de uma vida nova. Abraçar a cruz e olhar para o crucificado, é olhar para a vida e ser fonte de reinício. Simbolicamente, vale a pena acompanhar o tríduo e o tempo pascal com uma contemplação sobre a árvore e o cuidado de todas as vidas fragilizadas. Assim como na primavera lembramos o dia árvore, e a Páscoa originalmente é uma festa de primavera, assim também nesse tempo vale a pena plantar a delicadeza e a poesia nos corações das pessoas. Vale a pena educar para o carinho e a compaixão.
Sabendo que ia passar deste mundo ao outro (cf. Jo 13), na Ceia de espedida, Jesus plantou o servir, no lava-pés, definiu o seu mandamento, amor ao próximo como Ele amou, e semeou a própria cruz, seu corpo e sangue, para a vida do mundo. Muito mais do que uma árvore, Jesus plantou a si mesmo como tronco de uma árvore cujas raízes e ramos hoje é cada seguidora e seguidor.