Créditos foto: Reprodução / Internet
No dia 17 de fevereiro, o Papa Francisco fez um longo discurso aos participantes do Simpósio Internacional “Para uma Teologia Fundamental do Sacerdócio”. Em tradução livre, destacamos algumas das suas afirmações.
Pe. Roque Hammes
Queridos irmãos, bom dia!
Agradeço-vos a oportunidade de partilhar convosco esta reflexão, nascida daquilo que o Senhor, pouco a pouco, me deu a conhecer durante os meus 52 anos de sacerdócio. Meditando sobre o que poderia partilhar convosco da vida atual do sacerdote, cheguei à conclusão de que a melhor palavra deriva do testemunho que recebi de tantos padres ao longo dos anos. O que vos proponho resulta dum exercício de refletir sobre eles, individuando e contemplando as caraterísticas distintivas que lhes davam força, alegria e esperança singulares na sua missão pastoral.
O padre deve ocupar-se da Realidade
O tempo que estamos a viver requer de nós o enfrentamento da mudança, que não ignoremos a mudança. Existem diferentes modos de a enfrentar. Uma pode ser a busca de fórmulas ancoradas no passado, que nos «garantem» uma espécie de proteção contra os riscos. É a crise de recuar à procura de refúgio.
Outra pode ser seguir em frente sem discernimento e sem as decisões necessárias, desprezando assim a sabedoria dos anos. São dois tipos de fuga, que fazem lembrar as atitudes do mercenário que vê vir o lobo e foge: foge para o passado ou foge para o futuro.
Ao contrário, gosto da atitude que nasce da decisão de ocupar-se confiadamente da realidade, ancorando-se na sábia Tradição da Igreja que interpreta a realidade com os olhos do Senhor, sem necessidade de fugir daquilo que acontece ao nosso povo na situação real onde vive e sem aquela ansiedade que induz a procurar uma saída rápida e tranquilizante guiada pela ideologia do momento ou por uma resposta pré-fabricada.
O despertar das vocações
A causa da falta de vocações ao sacerdócio pode ser a falta de fervor apostólico. “Onde houver vida, fervor, anseio de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas”. Porém, quando esquecemos o batismo, caímos no funcionalismo e já não atraímos ninguém. É sempre uma grande tentação viver um sacerdócio sem Batismo, isto é, sem a memória de que a nossa primeira vocação é a santidade. Ser santo significa conformar-se a Jesus, deixando a nossa vida palpitar com os seus próprios sentimentos. Só quando se procura amar como Jesus amou é que tornamos Deus visível e, consequentemente, realizamos a nossa vocação à santidade.
As proximidades que sustentam a vocação sacerdotal
O estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. São quatro as proximidades que ajudam o padre a reavivar o dom da sua vocação.
Proximidade com Deus
Na vida sacerdotal, muitas vezes pratica-se a oração apenas como um dever, esquecendo que a amizade e o amor não podem ser impostos como uma regra externa, mas são uma opção fundamental do nosso coração. Um sacerdote que reza permanece, radicalmente, um cristão que compreendeu profundamente o dom recebido no Batismo. Um padre que reza é um filho que se lembra continuamente de ser filho e ter um Pai que o ama. Um padre que reza é um filho que se aproxima do Senhor. Por isso, a primeira tarefa do sacerdote é rezar.
Proximidade com o bispo
A obediência é a caraterística mais forte dos laços que unem padres e bispos. Obedecer ao bispo significa aprender a escutar. Quando os padres se fecham sobre si e não mantém uma proximidade com o Bispo, acabam «solteirões» com todas as manias dos «solteirões». O bispo, por sua vez, não é um vigiador, mas um pai, e deveria proporcionar esta proximidade. Caso contrário, ele só aproxima os ambiciosos.
Proximidade entre presbíteros
A partir da comunhão com o bispo se abre a fraternidade presbiteral. Jesus manifesta-Se onde há irmãos prontos a amarem-se. Um provérbio africano diz: «Se queres chegar depressa, vai sozinho; se queres chegar longe, vai com os outros».
Todos sabemos quão difícil possa ser a vida em comunidade ou no presbitério! Quão difícil é partilhar o dia a dia com aqueles que quisemos reconhecer como irmãos. Contudo, o amor fraterno, se não pretendermos acomodá-lo ou diminuí-lo, é a «grande profecia» que somos chamados a viver nesta sociedade do descarte. “Todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).
Proximidade com o povo
O lugar do sacerdote é no meio das pessoas, numa relação de proximidade com o povo, em estreita ligação com a vida real das pessoas, ao lado delas, sem qualquer via de fuga. «Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, vivemos a intensa experiência de ser povo, a experiência de pertencer a um povo».
Gostaria de relacionar esta proximidade com o Povo de Deus e a proximidade com Deus, porque a oração do pastor se nutre e encarna no coração do Povo de Deus. Quando reza, o pastor carrega consigo os sinais das feridas e das alegrias do seu povo, que apresenta em silêncio ao Senhor para que as unja com o dom do Espírito Santo. Está aqui a esperança do pastor, que tem confiança e luta para que o Senhor abençoe o seu povo.
Autor: Pe. Roque HammesAgradeço-vos a oportunidade de partilhar convosco esta reflexão, nascida daquilo que o Senhor, pouco a pouco, me deu a conhecer durante os meus 52 anos de sacerdócio. Meditando sobre o que poderia partilhar convosco da vida atual do sacerdote, cheguei à conclusão de que a melhor palavra deriva do testemunho que recebi de tantos padres ao longo dos anos. O que vos proponho resulta dum exercício de refletir sobre eles, individuando e contemplando as caraterísticas distintivas que lhes davam força, alegria e esperança singulares na sua missão pastoral.
O padre deve ocupar-se da Realidade
O tempo que estamos a viver requer de nós o enfrentamento da mudança, que não ignoremos a mudança. Existem diferentes modos de a enfrentar. Uma pode ser a busca de fórmulas ancoradas no passado, que nos «garantem» uma espécie de proteção contra os riscos. É a crise de recuar à procura de refúgio.
Outra pode ser seguir em frente sem discernimento e sem as decisões necessárias, desprezando assim a sabedoria dos anos. São dois tipos de fuga, que fazem lembrar as atitudes do mercenário que vê vir o lobo e foge: foge para o passado ou foge para o futuro.
Ao contrário, gosto da atitude que nasce da decisão de ocupar-se confiadamente da realidade, ancorando-se na sábia Tradição da Igreja que interpreta a realidade com os olhos do Senhor, sem necessidade de fugir daquilo que acontece ao nosso povo na situação real onde vive e sem aquela ansiedade que induz a procurar uma saída rápida e tranquilizante guiada pela ideologia do momento ou por uma resposta pré-fabricada.
O despertar das vocações
A causa da falta de vocações ao sacerdócio pode ser a falta de fervor apostólico. “Onde houver vida, fervor, anseio de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas”. Porém, quando esquecemos o batismo, caímos no funcionalismo e já não atraímos ninguém. É sempre uma grande tentação viver um sacerdócio sem Batismo, isto é, sem a memória de que a nossa primeira vocação é a santidade. Ser santo significa conformar-se a Jesus, deixando a nossa vida palpitar com os seus próprios sentimentos. Só quando se procura amar como Jesus amou é que tornamos Deus visível e, consequentemente, realizamos a nossa vocação à santidade.
As proximidades que sustentam a vocação sacerdotal
O estilo de Deus é proximidade, compaixão e ternura. São quatro as proximidades que ajudam o padre a reavivar o dom da sua vocação.
Proximidade com Deus
Na vida sacerdotal, muitas vezes pratica-se a oração apenas como um dever, esquecendo que a amizade e o amor não podem ser impostos como uma regra externa, mas são uma opção fundamental do nosso coração. Um sacerdote que reza permanece, radicalmente, um cristão que compreendeu profundamente o dom recebido no Batismo. Um padre que reza é um filho que se lembra continuamente de ser filho e ter um Pai que o ama. Um padre que reza é um filho que se aproxima do Senhor. Por isso, a primeira tarefa do sacerdote é rezar.
Proximidade com o bispo
A obediência é a caraterística mais forte dos laços que unem padres e bispos. Obedecer ao bispo significa aprender a escutar. Quando os padres se fecham sobre si e não mantém uma proximidade com o Bispo, acabam «solteirões» com todas as manias dos «solteirões». O bispo, por sua vez, não é um vigiador, mas um pai, e deveria proporcionar esta proximidade. Caso contrário, ele só aproxima os ambiciosos.
Proximidade entre presbíteros
A partir da comunhão com o bispo se abre a fraternidade presbiteral. Jesus manifesta-Se onde há irmãos prontos a amarem-se. Um provérbio africano diz: «Se queres chegar depressa, vai sozinho; se queres chegar longe, vai com os outros».
Todos sabemos quão difícil possa ser a vida em comunidade ou no presbitério! Quão difícil é partilhar o dia a dia com aqueles que quisemos reconhecer como irmãos. Contudo, o amor fraterno, se não pretendermos acomodá-lo ou diminuí-lo, é a «grande profecia» que somos chamados a viver nesta sociedade do descarte. “Todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35).
Proximidade com o povo
O lugar do sacerdote é no meio das pessoas, numa relação de proximidade com o povo, em estreita ligação com a vida real das pessoas, ao lado delas, sem qualquer via de fuga. «Às vezes sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros. Espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou comunitários que permitem manter-nos à distância do nó do drama humano, a fim de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, vivemos a intensa experiência de ser povo, a experiência de pertencer a um povo».
Gostaria de relacionar esta proximidade com o Povo de Deus e a proximidade com Deus, porque a oração do pastor se nutre e encarna no coração do Povo de Deus. Quando reza, o pastor carrega consigo os sinais das feridas e das alegrias do seu povo, que apresenta em silêncio ao Senhor para que as unja com o dom do Espírito Santo. Está aqui a esperança do pastor, que tem confiança e luta para que o Senhor abençoe o seu povo.