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O Ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo voltou a chamar a atenção pela sua estranheza. Em Washington em setembro último, alguns dias depois das estarrecedoras queimadas criminosas na Amazônia, o ministro palestrou para uma plateia conservadora de um Centro de Estudos usando uma série de ideias incomuns e expressões desconhecidas. Afirmou, por exemplo, que Brasil e Estados Unidos são odiados por outros países porque se afastaram do “globalismo”. E o que é isso? Segundo o ministro, “globalismo” seria algo como uma tendência imposta aos países baseada na “ideologia das mudanças climáticas”, na “ideologia de gênero” e na “oikofobia” (ódio a sua própria nação). Para concluir seu raciocínio peculiar, Araújo afirmou que, ao contrário do que se diz, o maior desafio que a humanidade enfrenta não é o aquecimento global, mas a “ideologia”.
Não sei o que ele entende por “ideologia”. Mas percebe-se que o termo está sendo muito mal usado, com conotação de algo ruim, deturpador, sem fundamentação, enganador. Também é claro que seu discurso objetiva ridicularizar ativistas e cientistas. Neste sentido, Araújo é do tipo de políticos que se auto intitulam de “pensadores” mas contam com teorias rasas que buscam desconstruir conhecimentos consagrados pela ciência. A mais estranha delas, é a teoria de que a terra, na verdade, seria plana, e pessoas mal intencionadas querem te fazer acreditar que ela é redonda. Neste rol de obscurantismo, a mudança do clima é vista como uma mentira usada para que países não possam se desenvolver e competir economicamente com os outros. Trump, por exemplo, presidente da nação considerada mais rica do mundo, usa este tipo de argumento em sua guerra comercial contra países como a China.
No entanto, contra fatos não há argumentos. As mudanças climáticas são reais, o planeta está aquecendo, está derretendo. Na Islândia, cientistas irão colocar uma lápide em um glaciar que “morreu”, pois o gelo desapareceu. O aumento do nível dos mares devido ao derretimento das calotas polares está acelerando desde a década de 60. Por que, então, negar os fatos? Custo a acreditar que o motivo seja outro que não... “ideológico”. Sim, pois é mais fácil pensar que o aquecimento global não existe do que buscar soluções. É mais útil ser cético do que ter que enfrentar o desmatamento que é altamente rentável para a poderosa indústria madeireira. É mais negócio negar do que aceitar que a exploração de petróleo não pode continuar enriquecendo as bilionárias empresas petrolíferas até esgotarem as reservas, pois antes disso a vida humana na terra já seria extinta, e é necessário se opor ao maior poderio econômico mundial para viabilizar outras formas renováveis de energia. Então, para estes “pensadores” é mais vantajoso criar teorias sem nenhuma evidência, como a de que o aquecimento global não existe ou que não é resultado da atividade humana pois, além de tudo, terão apoio do poder econômico vigente. Nem que para isso haja necessidade de chamar ideologicamente, os mais renomados cientistas, de “ideológicos”.
Da nossa parte, nos cabe refutar este discurso. Saudemos o Sínodo da Amazônia que está em andamento e já contou com a participação de 87 mil pessoas em diversos países da Pan-Amazônia. Mostremos indignação pelo descaso que a floresta amazônica e seus povos sofrem e vamos nos solidarizar com os agentes do Ministério do Meio Ambiente do IBAMA e dos fiscais que foram impedidos de fazer o seu trabalho. Apoiemos a Greve pelo Clima. E, por fim, vamos escolher nossos representantes dentre aqueles que não neguem a realidade. Afinal, a sabedoria é um dos maiores dons que Deus nos deu.