Créditos foto: Pe. Roque Hammes
A Sicredi Vale do Rio Pardo está completando o seu centenário em 2019. Tudo começou no dia 21 de setembro de 1919, quando foi fundada a Caixa Econômica e de Empréstimo Rural União Popular de Santa Cruz (Sparkasse/Volksverein). Em sua origem estava o Pe. Theodor Amstad.
Pe. Amstad nasceu na Suíça em 1851. Veio ao Brasil em 1885, como missionário jesuíta, passando a trabalhar como vigário cooperador de São Sebastião do Caí. Em suas visitas às comunidades do interior, percebeu que, além da assistência espiritual, os moradores da região necessitavam de urgente assistência social e econômica. Em seu fichário, anotou: “a parte espiritual da comunidade está relativamente bem atendida, mas a parte econômica vai muito mal”.
Ciente de que a tarefa missionária exigia dele mais do que “simplesmente atender a parte espiritual”, decidiu ajudar o povo a “melhorar a parte social e econômica”. Denunciou a exploração dos agricultores que “transferem carroçadas de produtos às cidades, donde retornam com apenas algumas bugigangas sob os braços”. Mostrou aos agricultores a necessidade de se organizarem, porque isolados iriam sucumbir. “Se quiserem mover uma grande pedra”, dizia ele, “e estiverem presentes vinte homens, e cada um isoladamente tentar removê-la, nada se conseguirá. Se, porém, os vinte homens agarrarem em conjunto, obedecendo a um só comando, fizerem força ao mesmo tempo, levantarão com facilidade a pesada carga”. E explicava: “Esse é um retrato da nossa situação. Os tempos difíceis, a grande dependência do estrangeiro em que nos encontramos, pesam sobre nós como um pesado fardo. Aos indivíduos isoladamente fica impossível livrar-se dele. Se, porém, nos reunirmos, se criarmos uma Associação de grande porte e abrangente, tornar-nos-emos fortes” (Odelso Schneider, IHU, 2003).
Conhecedor do cooperativismo já existente na Alemanha, idealizou a primeira Cooperativa de Crédito do Brasil, fundada na Linha Imperial (Nova Petrópolis), no dia 28 de dezembro de 1902, com a presença de 19 sócios fundadores.
Em base ao sucesso obtido com esta cooperativa, Pe. Amstad foi liberado do trabalho paroquial e começou a percorrer o Rio Grande do Sul, no lombo de sua mulinha, fundando cooperativas e apoiando a organização dos agricultores, de onde lhe veio o apelido de “Pai dos Colonos”.
Numa época em que católicos e evangélicos se digladiavam em questões religiosas, Pe. Amstad estimulou a criação da Associação Gaúcha de Agricultores que promovia, anualmente, a Semana Rural para debater o desenvolvimento rural, junto com pastores, padres e especialistas.
Como ecologista, incentivou o uso de compostos orgânicos para a refertilização dos solos agrícolas e desafiou os agricultores a replantarem as árvores que tiverem que ser derrubadas: “para cada árvore derrubada plantar, no mínimo, uma outra”.
Por causa desta intuição do Pe. Theodor Amstad e da sua persistência, o sistema cooperativo se instalou e criou corpo no Rio Grande do Sul e no Brasil. Ele não se satisfez em cuidar da parte espiritual dos seus fiéis, mas também cuidou da parte econômica, social e ecológica. Se ele tivesse restrito sua atuação ao interior da Igreja, não estaríamos comemorando os 100 anos do Sicredi Vale do Rio Pardo. É um claro indicativo de que a Igreja precisa, sim, se ocupar do meio ambiente, do econômico, social e político.