Caros diocesanos. Hoje continuaremos a explicação de nosso brasão episcopal. Já ficou claro que o brasão ou escudo é um símbolo que o bispo usa para expressar sua espiritualidade, sua mística iluminadora na evangelização da diocese. Igualmente, falamos dos símbolos ao redor do escudo: a união do Bispo, sucessor dos Apóstolos, com a Igreja, com o Papa, com o Colégio episcopal e todo Povo de Deus, sob a luz do Espírito.
Nosso lema: “A PALAVRA SE FEZ CARNE” (Jo 1, 14) está representado, no brasão, pela Bíblia. Esta Palavra se encarnou em nosso meio, na pessoa de Jesus Cristo: “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, ... para recebermos a dignidade de filhos” (Gal 4, 4-5).
São Francisco de Assis, ao encontrar-se com a Palavra de Deus, ficava fascinado, especialmente, por três mistérios ou acontecimentos, nos quais Deus se fez pequeno, menor para estar muito próximo de nós. Assim ele se fez criança, ao nascer de Maria, em Belém; fez-se pobre, pequeno na cruz, ao encarnar-se na dor, no sofrimento e na morte humana; e continua a fazer-se menor até hoje na presença humilde da eucaristia. Na visão franciscana (O bispo tem origem na espiritualidade franciscana), portanto, a pequenez de Deus transparece, sobretudo, nos mistérios do nascimento, da eucaristia e da cruz. Por isso estes três símbolos estão colocados, em nosso escudo episcopal, ao redor do livro da Palavra de Deus. Eles se revelam nesta Palavra e tornam-se presentes, de forma privilegiada, na celebração litúrgica, ponto alto da vida peregrina do Povo de Deus.
Como vemos, Deus continua a encarnar-se, tornando-se pequeno, menor, para ser acessível à realidade humana, o mais possível, a fim de salvá-la e uni-la ao divino. No brasão, a realidade humana é simbolizada no verde da terra, onde acontece a vida, seja urbana ou rural, de nossos diocesanos. Portanto, o divino quer continuar a encontrar-se com o humano. Esta iniciativa de Deus, simbolizada no encontro da cor azul com o verde, nela fundindo-se, como vemos no brasão, precisa encarnar-se, inculturar-se, inserir-se no chão da vida dos vales, das coxilhas e dos morros da Igreja Particular de Santa Cruz do Sul. É aí que deve acontecer nossa história da salvação, nas pessoas, nas famílias, nas comunidades, no trabalho, na vida da cidade e do campo. É ali que Deus quer fazer sua tenda, seu rancho, sua casa para habitar entre nós.
A cuia, símbolo tão sagrado de nossa cultura, sobretudo de acolhida fraterna e de hospitalidade, pretende ser, uma porteira aberta a criar laços de amizade, de diálogo e de comunhão com todos, na vida urbana ou agropastoril, em sentido humano e divino.
Se o projeto da encarnação de Deus é este, não resta que tornarmo-nos discípulos e missionários seus; servos humildes de seu Reino de justiça, de paz e de amor, vivendo em fraternidade, como Igreja.
Sinta-se, também você, convidado a acolher o mistério da encarnação de Deus em sua vida. É em seu lar que Ele quer habitar para ser o Deus-convosco, um Deus que caminha, que vive com a gente. Que Ele nos visite e nos abençoe neste tempo do advento!
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul