Caros diocesanos. Continuamos a refletir o recente documento da CNBB sobre a IVC. Hoje passamos ao capítulo III, que aborda o ILUMINAR – o discernir como Igreja.
Nas comunidades antigas a missão de iniciar na fé cabia à interação entre liturgia e catequese. Ambas andavam unidas no processo da Iniciação cristã, com o objetivo da imersão no mistério de Cristo e da Igreja. Tudo acontecia num clima mistagógico: de espiritualidade, de oração, de celebrações e ritos. A partir do séc. V, aconteceu progressiva separação da liturgia e da catequese, com o surgimento da cristandade e suas consequências. Mais tarde apareceu o caráter doutrinal dos catecismos, provocados pelo Concílio de Trento e que orientaram a catequese até o Vaticano II.
O Concílio impulsionou uma revisão teológica e pastoral da iniciação cristã, apontando ao resgate adaptado do espírito catecumenal. A IVC não pode consistir numa pastoral a mais, mas o eixo central e unificador de toda ação evangelizadora e pastoral. Ela pode ser definida como um caminho progressivo, por meio de etapas, de ritos e de ensinamentos que visam transformação religiosa e social do iniciado: mudança existencial, de identidade e compromisso. O mergulho no mistério de Deus, que chega à plenitude em Jesus Cristo e insere na comunidade eclesial, orienta todo processo iniciático. A IVC traz vida nova, com participação na natureza divina. Realiza a unidade da obra trinitária: no Batismo assumimos a condição de filhos do Pai. O batizado é chamado: neófito (planta nova); a Crisma nos unge e fortifica com o dom do Espírito; a Eucaristia nos alimenta com o próprio Cristo, o Filho. A IVC proporciona a incorporação na dinâmica do mistério pascal de Cristo: treva-luz, pecado-graça, escravidão-libertação, morte-vida. Por ela acontece a presença do Espírito no processo catecumenal: é precursor (vem antes); é acompanhante (está presente a cada momento); é continuador (leva à perfeição). O Espírito Santo está sempre presente na Igreja, realizando nela a comunhão.
A natureza da Igreja é ser querigmática (anunciadora da verdade fundamental, manifestada em Cristo) e ser missionária. Este anúncio deve inserir-se no contexto vital dos que o recebem. A Igreja querigmática e missionária é peregrina, samaritana, misericordiosa; favorece a experiência de fé. A comunidade é ajudada pelo itinerário catecumenal para crescer na fé e ela exerce a função maternal de gerar filhos.
A partir do Vaticano II, a Igreja propõe a experiência catecumenal do RICA = Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, com seus quatro tempos (Pré-catecumenato, Catecumenato, Iluminação - Purificação, Mistagogia), já apresentados em outras mensagens. Na passagem dos tempos acontecem as celebrações. O RICA não é livro catequético, mas litúrgico, com ritos, orações e celebrações. Não serve apenas como ritual para batismo de adultos, mas também para os já batizados, que tiveram uma iniciação insuficiente ou se afastaram da comunidade. A Igreja propõe que se ofereça também processos adaptados de inspiração catecumenal para crianças, adolescentes e jovens. Já existem itinerários adequados para tal. Os processos iniciáticos culminam com a recepção dos sacramentos, que devem revelar unidade. São atos do próprio Cristo na ação ritual da Igreja. É Ele que nos torna cristãos e nos introduz no seio da Trindade e no corpo eclesial.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul