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27/04/2022 - O Ressuscitado em nossa Emaús

Caros diocesanos. A liturgia do tempo pascal continua a celebrar o mistério central de nossa vida cristã: a ressurreição de Cristo e, por consequência, a nossa Páscoa. A palavra Páscoa significa passagem: passagem da morte para a vida nova. Segundo São Paulo, se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé (cf 1Cor 15, 17).
Nós encontramos um texto catequético magistral sobre a ressurreição no evangelho segundo São Lucas, quando apresenta a experiência dos discípulos de Emaús com Jesus Ressuscitado (Lc 24, 13-35). Dois discípulos voltam desaminados de Jerusalém, suportando suas fracassadas esperanças messiânicas triunfalistas. Retornam tristes para suas famílias, profissões e mesmices anteriores. Jesus Ressuscitado caminha com eles, mas seus olhos não o reconhecem. Jesus lhes aquece o coração e limpa seus olhos com a palavra da Escritura (Mesa da Palavra) e, ao partir o pão (Mesa da Eucaristia), se dá a conhecer a eles. Os discípulos voltam apressados a Jerusalém para transmitir aos demais a boa notícia do encontro com o Senhor Ressuscitado.
No texto de Lucas e de outras narrativas da ressurreição, percebemos que, inicialmente, os olhos da fé dos discípulos estavam ofuscados, tinham dificuldades em ver além do Jesus nazareno, que fora crucificado. Somente aos poucos conseguem reconhecer nele o Senhor, o Messias, o Mestre, o Ressuscitado. Todos queriam sinais extraordinários para crer (cf. Mt 12, 38-40). Tomé que o diga! (Jo 20, 25).
Esse amadurecimento da fé repete-se na história com os apóstolos de todos os tempos. O processo de conversão é lento e exige perseverança. A vida dos santos e das santas nos ensina isso. Agora chegou nossa vez de fazermos a experiência pascal em nossa Emaús, em nosso tempo para sermos também suas testemunhas (Lc 24, 48; Jo 20, 18). Se formos ao túmulo de Jesus, como Pedro, João e as mulheres, também vamos encontrá-lo vazio; não veremos e nem encontraremos o corpo do Ressuscitado. Mas onde, então, vamos encontrar o Senhor hoje? – “Ele se aproxima de cada um e de todos nós como se aproximou dos dois viandantes de Emaús, para transformá-los em peregrinos e missionários (24, 33-34). Pisa os passos da nossa decepção e da nossa esperança, da nossa morte e da nossa vida. Encontra-nos no nosso caminho, associa-nos ao seu caminho, fica conosco nas nossas paradas e nas nossas paragens” (O Pão Nosso de Cada Dia, Abril – 2020, p. 81). Encontramos o Senhor nas estradas da vida e, de forma muito especial, na Mesa da Palavra, que anuncia seu sofrimento, morte e ressurreição; igualmente, na Mesa do Pão, onde se entrega como alimento aos irmãos e irmãs, seus discípulos missionários. Nosso Deus foi anunciado como Emanuel, palavra hebraica que significa: Deus conosco, ou seja, não somente aquele que é, mas que é sempre conosco ou permanece sempre em nós, como afirma São João (cf. Jo 6, 56). Sua presença de ressuscitado se perpetua entre nós. Portanto, agora Emaús é nossa cidade ou lugar, o caminho é nossa rua ou nossa casa. É pela fé que o descobriremos, caminhando conosco.
Somos todos convidados a fazer a experiência do caminho pascal dos discípulos de Emaús, nas diversas realidades de nossa vida, como agora, em tempos de pandemia, seja em nossos caminhos ou em nossas casas, em nossas comunidades e na sociedade em que vivemos e convivemos. O Senhor Ressuscitado deseja caminhar conosco para dar sentido a todos os momentos, sejam eles de alegria ou de tristeza, de saúde ou de doença, de decepção ou de esperança. O Senhor ressuscitado abençoe e acompanhe a todos.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul

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