Caros Diocesanos. Já nos é bem familiar que o mês de junho é dedicado a celebrações de diversos santos que a piedade popular consagrou com festejos bem característicos, sobretudo em torno de São João Batista, nosso padroeiro diocesano. Convém conhecermos a origem do culto aos santos e santas, seu verdadeiro sentido, no passado e hoje, para desenvolvermos a verdadeira santidade também em nossa vida. Dedicaremos as mensagens desse mês a esta finalidade.
A história do Culto dos Santos é cheia de surpresas, em suas diversas fases evolutivas e é fascinante a busca do caminho da santidade que tantos irmãos e irmãs nossos empreenderam, através dos séculos do cristianismo, e que também nós trilhamos, tentando seguir o mesmo Senhor, fonte de toda santidade, iluminados pelo exemplo, pela comunhão e pela intercessão dos que nos precederam na fé.
O fato de não encontrarmos culto dos santos no primeiro século da vida da Igreja, certamente, nos surpreende. Chama atenção também que essa veneração comece muito timidamente nos séculos sucessivos; inicialmente, só em relação aos mártires. A Igreja nascente tinha seu centro celebrativo direcionado totalmente para o Mistério Pascal de Cristo, sobretudo pela eucaristia. O culto era cristocêntrico. Além do mais, a influência do monoteísmo judaico, que não apresentava diretamente culto a santos, fazia-se ainda notar fortemente nos alvores do cristianismo. Mas, aos poucos, o testemunho de algumas pessoas chama tanta atenção pela sua vida e sua morte, semelhantes à de Jesus Cristo, que elas começam a ser consideradas como santas, pela proximidade da vida e morte daquele que é o Santo. Os primeiros sinais de culto a santo surgem com S. Policarpo (séc. II), idoso que deu testemunho público de fé, sendo queimado vivo e apunhalado, e com S. Cipriano (séc. III), exilado e decapitado. O martírio é considerado imitação de Cristo, tornando o culto do mártir um louvor a Deus, pois nele a santidade divina resplandece; seus ossos são recolhidos como relíquias e venerados. Lembram o exemplo do mártir (testemunha de Cristo); não se constituem em objetos de prodígios milagrosos; as relíquias se tornam motivo de reunião para celebração do nascimento do mártir para a vida eterna e de coragem para os fiéis que vão combater no futuro. Assim surge lentamente o culto dos santos e santas que, no início, é estritamente local: a comunidade se reúne para celebrar os seus mártires, onde estão os restos mortais ou onde aconteceu o martírio. Este culto, realizado no aniversário de natalício para a vida eterna (“dies natalis”), tem características cristãs próprias: é alegre, com ar de vitória, cheio de esperança e adquire continuidade.
Até o séc. III somente os mártires recebem o título de santos ou santas, mas não tardou a veneração pelos Confessores: aqueles que sofreram martírio indireto por causa de sua confissão pública da fé, sendo torturados, encarcerados, exilados. Junto a eles, foram também considerados Santos Confessores os que sofreram um martírio cotidiano, pelo modo exemplar de professar a fé e de viver intensamente o evangelho. Entre os santos do “cotidianum martirium” estão muitos monges, ascetas e virgens que, em vida austera, de penitência, de luta contra o demônio, de inteira doação, viviam um verdadeiro martírio espiritual. Eles se tornaram testemunhas heróicas de vida cristã. Mesmo com uma considerável ampliação do conceito de martírio, a ideia-chave da santidade cristã permanece ligada à perfeita assimilação ao Cristo morto e ressuscitado, na doação da sua vida. O culto dos santos passou por diversos alargamentos: de mártires a confessores, de local a universal, através dos livros e pela transladação de relíquias.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul