Caros diocesanos e irmãos luteranos. Já afirmamos na mensagem anterior que celebramos os 500 anos da Reforma de Lutero e que refletimos sobre um documento conjunto, com o título: “Do Conflito à Comunhão”. Sim, nos tempos atuais, graças a Deus, não nos preocupamos, como no passado, com acusações recíprocas, de cunho polêmico e apologético, mas olhamos mais para aquilo que nos une no mesmo corpo de Cristo e nos faz celebrar em espírito de unidade, mesmo que ainda existam temáticas, sobretudo teológico-sacramentais, que exigem continuidade no diálogo ecumênico oficial das igrejas para chegarmos à comunhão sempre mais plena. Enquanto o dia da unidade total não chegar, como católicos e luteranos, já nos alegramos com o que temos de comum e que nos une para celebrar como corpo de Cristo. Da mesma forma, e com sofrimento, continuamos a fazer frente à divisão, em busca da plena catolicidade da igreja. Por isso, não estamos celebrando os 500 anos da reforma, como divisão da igreja ocidental, pois jamais podemos celebrar a divisão de cristãos. Os luteranos são gratos a Deus por aquilo que Lutero e outros reformadores lhes tornaram acessível. Não desejam reivindicar este dom apenas para si, mas partilhá-lo com todos os outros cristãos. Por isso convidam todos os cristãos a celebrarem junto com eles. Católicos e luteranos têm tanto de fé em comum que podem e devem ser agraciados juntos, especialmente na comemoração da reforma (cf. O. cit., n. 226). Isso faz lembrar o que o Concílio Ecumênico Vaticano II declarou: “É mister que os católicos reconheçam com alegria e estimem os bens verdadeiramente cristãos, oriundos de um patrimônio comum, que se encontram nos irmãos de nós separados” (UR, n. 4). Junto com as alegrias a serem celebradas se faz necessário também o reconhecimento das dores causadas mutuamente e a manifestação do pedido de perdão que luteranos e católicos devem uns aos outros na história desses cinco séculos. Este pedido já foi manifestado oficialmente, sobretudo, por Paulo VI e João Paulo II (cf. Op. cit. 234-235) e a Federação Luterana Mundial (cf. Op. cit., n. 236).
Louvamos a Deus e agradecemos uns aos outros pela superação das lutas do passado e pelo novo espírito ecumênico que nos anima e que propõe cinco imperativos:
1. “Mesmo que as diferenças sejam mais facilmente visíveis e experienciadas, a fim de reforçar o que existe de comum, católicos e luteranos devem sempre partir da perspectiva da unidade e não da perspectiva da divisão;
2. Luteranos e católicos precisam deixar-se transformar continuamente pelo encontro com o outro e pelo testemunho mútuo da fé;
3. Católicos e luteranos devem comprometer-se outra vez na busca da unidade visível, para compreenderem juntos o que isso significa em termos concretos, e buscar sempre de novo esse objetivo;
4. Luteranos e católicos busquem juntos redescobrir a força do Evangelho de Jesus Cristo para o nosso tempo;
5. Católicos e luteranos em sua pregação e serviço ao mundo, devem testemunhar juntos a graça de Deus” (Op. cit., nn. 238-244).
As pedras que uma vez jogávamos uns contra os outros ergam os muros da casa comum que hoje desejamos construir. Rezemos pela unidade dos cristãos.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul