Caros diocesanos.
O Natal se aproxima e é hora de preparar tudo para que o Deus-Menino possa
nascer em nosso meio. Sim, é um tempo especial, diferente e não é para menos,
pois Deus vem ao mundo em forma de criança para que nós, humanos, possamos ter
acesso ao divino. É a plenitude do tempo, em que o céu e a terra trocam seus
dons mais preciosos: Jesus vem com sua divindade e nós lhe oferecemos nossa
humanidade. Eis o sentido da encarnação do Verbo que se fez carne e veio
habitar entre nós (cf. Jo 1,14).
Este tempo do
Natal, tão cheio de simbolismo, sempre evoca as belas lembranças dos natais já vividos,
em nossas famílias, comunidades e ambientes sociais, especialmente os da
infância. Quantas histórias para contar. Hoje, desejo contar-vos uma história,
de autor desconhecido, que nos ajuda a entender o maravilhoso tempo do Natal,
repleto de sinais de amor, de ternura, de perdão, enfim, de solidariedade
humana, espelhadas na solidariedade divina, manifestada por Jesus para com
todos nós.
Conta-se que, num
dia de muito frio, às vésperas do Natal, no hemisfério norte, um menino de
aproximadamente dez anos estava descalço, em frente a uma loja de calçados, com
o olhar fixo na vitrine, tremendo de frio. Uma senhora aproximou-se do guri e
disse-lhe: “O que estás a olhar com tanta
concentração”? O menino, com receio de ser mandado embora, respondeu
timidamente: “Eu estava pedindo a Deus
para me dar um par de sapatos, neste Natal”. A senhora, comovida, tomou o
menino pela mão, entrou na loja e pediu ao atendente para trazer meias e um par
de sapatos para o menino, por sua conta. Pediu também uma bacia com água quente
e uma toalha; conduziu o menino para os fundos da loja e lavou-lhe os pés,
secando-os com a toalha. A senhora entregou-lhe as meias e presenteou o par de
sapatos, dizendo-lhe: “Estás bem agora”?
O menino, com lágrimas de felicidade nos olhos, olhou para seu rosto e
perguntou: “A senhora é a mulher de Deus”?
Histórias como
essa, sempre de novo nos mostram que gestos de amor se identificam com o jeito
de ser de Deus, são “divinos”. Não é
por nada que São João afirma: “Deus é
amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele... Se
alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é mentiroso” (1Jo 4,
16.20). Outro texto bíblico que ajuda a entender esta história é o do evangelho
de Mateus, quando Jesus está falando aos discípulos e é chamado para atender os
seus familiares: “‘Quem é minha mãe, e
quem são meus irmãos?’. E, estendendo a mão para os discípulos, acrescentou:
‘eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai,
que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe’” (Mt 12,
48b-50). Fazer a vontade do Pai é viver o amor a Deus e aos irmãos. Por isso
aquela generosa senhora, no pensar do menino, só poderia estar muito ligada a
Deus, a fonte do Amor.
Esse Deus/Amor
bate também à nossa porta e deseja entrar; quer estar conosco e viver o Natal
em nosso convívio. Ele é humilde e pequeno, tão pequeno que cabe numa
manjedoura (cf. VD 12). Ele continua a revelar-se também em nossos irmãos e
irmãs, sobretudo os mais necessitados, aqueles que fixam os olhos na vitrine,
mas só conseguem rezar, como o menino. Eu e você também somos convidados a sermos
um sinal de amor de Deus, neste Natal. Que o Menino-Deus seja acolhido entre
nós! E que o menino da vitrine não fique sem meias e sapatos. Feliz e Santo
Natal!
Dom Aloísio A.
Dilli
Bispo de Santa
Cruz do Sul