Em meio às comemorações da Semana da Pátria, assustados com a crise que repentinamente se abateu sobre gaúchos e brasileiros, somos convidados a levantar a cabeça e professar a nossa esperança num futuro melhor para a humanidade e, particularmente para brasileiros e gaúchos. Esta esperança se fundamenta, em primeiro lugar, na consciência de que Deus não abandona aqueles que nele depositam a sua esperança. Também se fundamenta na convicção de que o povo saberá se unir para combater as injustiças e edificar uma sociedade livre do ódio, da violência e da corrupção.
No Brasil, desde 1994, a Igreja Católica incentiva as comunidades a aproveitarem os desfiles do Sete de Setembro para denunciarem as injustiças e divulgarem os seus sonhos. Através do chamado “Grito dos Excluídos”, elas são convidadas a darem visibilidade aos seus inconformismos e denunciarem as injustiças das quais se sentem vítimas. Fazem isso com o incentivo do Papa Francisco que, falando aos participantes dos Movimentos Sociais num encontro em Roma, solicitou: “Nunca percam a esperança e a utopia, vocês são os profetas da esperança, são o presente da sociedade e da nossa amada Igreja e, sobretudo são os que podem construir a civilização do amor. Não se acanhem”.
O Grito dos Excluídos de 2015 tem como tema “Vida em primeiro lugar”. Vem, assim, confirmar o projeto de Jesus Cristo, que perseguido pelos fariseus por causa da cura do cego Bartimeu, afirmou: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Na mesma linha, o papa afirma que “a vida se enfraquece no comodismo e no isolamento, mas se enriquece na doação” (EG n;10). Falando da urgência em “renovar o diálogo sobre a maneira de como estamos a construir o futuro do planeta”, ele afirma que “as atitudes que dificultam os caminhos de solução vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas”. Por isso, “precisamos de uma nova solidariedade universal” (LS n. 14). O mesmo podemos dizer em relação aos atuais problemas do Brasil e do Rio Grande do Sul. Sem um compromisso solidário de todas as pessoas, vai ser muito difícil sair da crise. O que não podemos admitir é a exclusiva penalização da classe popular, da qual se pedem sacrifícios e renúncias enquanto alguns privilegiados continuam a usufruir de todos os benesses.
Aproveitemos, pois, as comemorações da Semana da Pátria para reafirmar o nosso compromisso com o Brasil e o Rio Grande do Sul. Junto com o Papa, oremos: “Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz, para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza” (LS 246).
Dom Canísio Klaus
Bispo Diocesano