Caros diocesanos. Continuamos no mês de outubro, mês das missões, e desejamos prosseguir com nossa reflexão, destacando hoje a identidade e a missão dos leigos na Igreja e no mundo. A CNBB, em seus documentos de estudo, vem priorizando sempre mais o tema dos leigos e leigas na Igreja e na sociedade.
O Concílio Vaticano II, através da Constituição Dogmática Lumen Gentium (LG), nos lembra: “Um é o povo eleito de Deus: ‘um só Senhor, uma só fé, um só batismo’ (Ef 4, 5). Comum a dignidade dos membros pela regeneração em Cristo. Comum a graça de filhos. Comum a vocação à perfeição” (LG 32. Cf. tb. o Cap. V, nn. 39ss). Com estas palavras conciliares a Igreja afirma a beleza e a importância de todas as vocações, convidadas a participarem da vida divina, da santidade de Deus (cf. LG 40). A fonte dessa identidade cristã é o dom do santo batismo, pois este sacramento nos incorpora em Jesus Cristo, recebendo a dignidade de membros do Povo de Deus. Afirma o documento Christifideles Laici (1988): “Só no interior do mistério da Igreja como mistério de comunhão se revela a identidade dos fiéis leigos, a sua original dignidade. E só no interior dessa dignidade se podem definir a sua vocação e a sua missão na Igreja e no mundo” (CfL 8).
A comum dignidade e a comum vocação à santidade assumem, no leigo, modalidade própria, a qual o distingue, sem separá-lo dos outros estados de vida. O Concílio Vaticano II usa a expressão: “índole secular” (cf. CfL 15 e LG 31) para denominar esta distinção, fundamentada na própria encarnação de Cristo: “O próprio Verbo encarnado quis participar da vida social dos homens... quis levar a vida como um operário de seu tempo e da sua terra” (GS 32). Portanto, o mundo é o lugar específico onde é dirigido o chamado de Deus aos leigos: “São chamados por Deus para que aí, exercendo o seu próprio ofício, inspirados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação de sua fé, esperança e caridade” (LG 31). Esse testemunho acontece onde os fiéis se encontram: na família, na comunidade, no exercício da profissão, nas relações de vizinhança e de lazer, nos ambientes da caminhada cidadã e eclesial.
Segundo o Documento de Aparecida, os cristãos leigos devem, por missão, atuar no mundo, sendo “homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja” (DAp 209). As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil da CNBB costumam insistir para que nos diversos níveis e instituições incentive-se a participação social e política dos cristãos leigos. Cabe a eles empenhar-se na busca de políticas públicas que ofereçam condições necessárias ao bem-estar de pessoas, famílias e povos. Tarefa de grande importância é a formação de pensadores e pessoas que estejam em níveis de decisão, evangelizando os novos areópagos (DAp 491): mundo universitário, da comunicação, dos empresários, dos políticos, dos formadores de opinião, do trabalho, dos dirigentes sindicais e comunitários e nos ambientes de cultura.
O Papa Francisco diz que cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja e há maior participação nos ministérios laicais, mas também adverte: “Este compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenho real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade” (EG 102).
Dom Aloísio Alberto Dilli - Bispo de Santa Cruz do Sul