Caros diocesanos. Estamos vivendo o ciclo central do ano litúrgico: o Mistério da Páscoa. Não entenderemos o que é a Páscoa se separarmos morte e ressurreição. A própria palavra Páscoa significa passagem: passagem da morte de Jesus para a vida nova da ressurreição. São Paulo escreve aos Coríntios: “Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé é ilusória e ainda estais nos vossos pecados”; e acrescenta: “Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão” (1Cor 15, 17 e 19).
O que entendem mesmo os primeiros cristãos, quando falam em Ressurreição de Jesus? Para eles não se trata de uma simples imaginação, mas de um fato real que os tirou da perplexidade e frustração. Esta ressurreição não consiste num retorno de Jesus à sua vida anterior na terra. Ele não retorna à sua vida biológica (reencarnação), para depois morrer novamente de forma irreversível. A ressurreição não é, portanto, a reanimação de um cadáver, como aconteceu com Lázaro, com a filha de Jairo e o jovem de Naim. Com a ressurreição, Jesus entra definitivamente na Vida de Deus, onde a morte não tem mais nenhum poder. Ele não morreu para o vazio do nada, mas para a comunhão plena com Deus. Por isso afirma São Paulo: “Se já morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele, sabendo que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais. A morte não tem mais domínio sobre ele” (Rm 6, 9). Pelas narrativas dos evangelistas, percebemos que Jesus é o mesmo, mas não é como antes, apresentando-se agora cheio de vida nova; é alguém real e concreto, mas os discípulos não conseguem retê-lo e conviver com Ele, como anteriormente, pois está com uma existência nova, com um corpo glorioso que dá plenitude à sua vida. Os primeiros cristãos entendem a ressurreição de Jesus como uma atuação de Deus que, com sua força criadora, resgata Jesus da morte para introduzi-lo na plenitude de sua própria vida. As comunidades primitivas acreditam que o acontecido com Jesus, o “Primogênito dos mortos”, é a garantia da ressurreição da humanidade e da criação inteira. Deus, ressuscitando Jesus, começa a nova criação, confirmando seu plano de salvação, presente desde a criação do homem e do mundo: partilhar sua vida divina, sua felicidade com o ser humano.
O encontro com o Ressuscitado, a fé de que Jesus está vivo e está novamente com eles, provoca uma reorientação total nos discípulos: passam por nova compreensão do mistério de Deus na realidade de suas vidas. Paulo é exemplo claro dessa transformação, antes perseguidor, agora, torna-se homem novo, possuído pelo poder do ressuscitado: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim. Minha vida atual na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2, 20). (Cf PAGOLA J. A., Jesus, Ed. Vozes, Petrópolis, 2011, pp. 489-520).
Caros diocesanos. Como podemos perceber, para os primeiros discípulos, o encontro com o Ressuscitado foi decisivo para suas vidas. A experiência da presença do Senhor, pela fé amadurecida, os fez missionários da boa-notícia da salvação, realizada por Deus que nos amou incondicionalmente em Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Eis o mistério que a liturgia pascal nos faz cantar neste tempo: “Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos! Aleluia”!
Caros diocesanos, mesmo em tempos difíceis de ameaça do coronavírus, continuamos a saudar-vos com votos de ‘Feliz Páscoa’ ou ‘Feliz Tempo Pascal’, pois a nossa verdadeira vida já se esconde em Cristo!
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.