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14/02/2023 - CARNAVAL OU ROMARIA DA TERRA?

 

Caros Diocesanos. Nós brasileiros já nos acostumamos a dizer que o ano começa seu ritmo normal, depois do carnaval. Mas nem todos se envolvem com estes festejos populares, nesse período do ano. Grande número de pessoas aproveita para passear, visitar amigos; outros se preparam para iniciar a quaresma, até fazendo algum exercício espiritual. Outros ainda participam da tradicional Romaria da Terra que, em 2023, acontece na sua 45ª edição, no Assentamento Integração Gaúcha - Irga, que fica em Eldorado do Sul/RS, a 17 km de Porto Alegre/RS, com o lema orientador: Terra e Pão: em defesa dos territórios e produção da vida”. Segundo Luiz Antônio Pasinato, membro da coordenação da Comissão Pastoral da Terra do RS, “a Romaria é feita para reavivar a memória, a fé, a esperança, o cuidado, a solidariedade com os pobres da terra, fortalecer as lutas sociais e melhoria das condições de vida do povo do campo e da cidade” (cf. Maiara Rauber - Brasil de Fato, 07/10/2022).

Os romeiros celebram, de forma fraterna e cristã, as angústias, as esperanças e as vitórias dos pobres, ligados à terra, e dos que com eles se solidarizam; ela visa despertar no povo cristão a consciência da solidariedade, do cuidado com o meio ambiente, da produção de alimentos saudáveis e da necessidade de uma justa e bem programada distribuição da terra. Uma Igreja profética e servidora une-se ao povo simples na busca de mais justiça social, com o objetivo de proporcionar o que o Evangelho propõe: vida mais digna para todos (cf. Jo 10, 10).

A romaria da terra sempre acontece no dia do carnaval (21/02/2023). Um carnaval bem diferente e que não tem nada a ver diretamente com esta festa popular, mesmo que se aproveite o feriado para esta manifestação de fé e de luta dos pequenos. Na romaria unem-se os pobres do campo e também da cidade e quem é solidário nas suas causas, buscando vida mais digna, com soluções de força organizada e sadia.

A época escolhida para a romaria tem ligação com o aniversário da morte de Sepé Tiaraju, em 07/02/1756. Ele era o líder da resistência dos mil e quinhentos nativos indígenas das Reduções Jesuíticas. Todos foram dizimados pelas forças portuguesas e espanholas. Os guaranis sobreviventes foram exilados e viram destruída a sua cultura social, política, econômica, artística e religiosa, da qual ainda hoje admiramos as ruínas e nos envergonhamos da forma injusta como foi acabada. Portanto, é a lembrança da triste história da eliminação da República cristã dos Guaranis ou dos Sete Povos das Missões, a partir do Tratado de Madrid (1750), realizado em palácios do além-mar.

Concluímos a mensagem com uma oração do Papa Francisco pela Nossa Terra:

Deus Onipotente, que estais presente em todo o universo e na mais pequenina das vossas criaturas, Vós que envolveis com a vossa ternura tudo o que existe, derramai em nós a força do vosso amor para cuidarmos da vida e da beleza. Inundai-nos de paz, para que vivamos como irmãos e irmãs sem prejudicar ninguém.

Ó Deus dos pobres, ajudai-nos a resgatar os abandonados e esquecidos desta terra que valem tanto aos vossos olhos. Curai a nossa vida, para que protejamos o mundo e não o depredemos, para que semeemos beleza e não poluição nem destruição. Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra. Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que estamos profundamente unidos com todas as criaturas no nosso caminho para a vossa luz infinita. Obrigado, porque estais conosco todos os dias.

Sustentai-nos, por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e a paz. Amém”!

 

Dom Aloísio Alberto Dilli

Bispo de Santa Cruz do Sul