Caros Diocesanos.
Nós brasileiros já nos acostumamos a dizer que o ano começa seu ritmo normal,
depois do carnaval. Mas nem todos se envolvem com estes festejos populares,
nesse período do ano. Grande número de pessoas aproveita para passear, visitar
amigos; outros se preparam para iniciar a quaresma, até fazendo algum exercício
espiritual. Outros ainda participam da tradicional Romaria da Terra que, em
2023, acontece na sua 45ª edição, no
Assentamento
Integração Gaúcha - Irga, que fica em Eldorado do Sul/RS, a 17 km de Porto
Alegre/RS,
com o lema orientador: “Terra e Pão: em defesa dos territórios e
produção da vida”. Segundo Luiz Antônio Pasinato, membro da coordenação da Comissão
Pastoral da Terra do RS, “a Romaria é
feita para reavivar a memória, a fé, a esperança, o cuidado, a solidariedade
com os pobres da terra, fortalecer as lutas sociais e melhoria das condições de
vida do povo do campo e da cidade” (cf. Maiara Rauber -
Brasil de Fato,
07/10/2022).
Os romeiros
celebram, de forma fraterna e cristã, as angústias, as esperanças e as vitórias
dos pobres, ligados à terra, e dos que com eles se solidarizam; ela visa
despertar no povo cristão a consciência da solidariedade, do cuidado com o meio
ambiente, da produção de alimentos saudáveis e da necessidade de uma justa e
bem programada distribuição da terra. Uma Igreja profética e servidora une-se
ao povo simples na busca de mais justiça social, com o objetivo de proporcionar
o que o Evangelho propõe: vida mais digna para todos (cf. Jo 10, 10).
A romaria da terra
sempre acontece no dia do carnaval (21/02/2023). Um carnaval bem diferente e
que não tem nada a ver diretamente com esta festa popular, mesmo que se
aproveite o feriado para esta manifestação de fé e de luta dos pequenos. Na
romaria unem-se os pobres do campo e também da cidade e quem é solidário nas
suas causas, buscando vida mais digna, com soluções de força organizada e
sadia.
A época escolhida
para a romaria tem ligação com o aniversário da morte de Sepé Tiaraju, em
07/02/1756. Ele era o líder da resistência dos mil e quinhentos nativos
indígenas das Reduções Jesuíticas. Todos foram dizimados pelas forças
portuguesas e espanholas. Os guaranis sobreviventes foram exilados e viram
destruída a sua cultura social, política, econômica, artística e religiosa, da
qual ainda hoje admiramos as ruínas e nos envergonhamos da forma injusta como
foi acabada. Portanto, é a lembrança da triste história da eliminação da
República cristã dos Guaranis ou dos Sete Povos das Missões, a partir do
Tratado de Madrid (1750), realizado em palácios do além-mar.
Concluímos a
mensagem com uma oração do Papa Francisco pela Nossa Terra:
“Deus Onipotente, que estais presente em todo o universo e na mais pequenina das vossas criaturas, Vós que envolveis com a vossa ternura tudo o que existe, derramai em nós a força do vosso amor para cuidarmos da vida e da beleza. Inundai-nos de paz, para que vivamos como irmãos e irmãs sem prejudicar ninguém.
Ó Deus dos pobres, ajudai-nos a resgatar os abandonados e esquecidos desta terra que valem tanto aos vossos olhos. Curai a nossa vida, para que protejamos o mundo e não o depredemos, para que semeemos beleza e não poluição nem destruição. Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra. Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que estamos profundamente unidos com todas as criaturas no nosso caminho para a vossa luz infinita. Obrigado, porque estais conosco todos os dias.
Sustentai-nos,
por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e a paz. Amém”!
Dom Aloísio
Alberto Dilli
Bispo de Santa
Cruz do Sul