Caros diocesanos. Em nossas reflexões sobre a Iniciação à Vida Cristã na perspectiva de uma Igreja samaritana, os leitores e ouvintes certamente já se deram conta que há uma relação inseparável entre catequese e liturgia, bem destacada e visível na experiência catequética de inspiração catecumenal. É este tema que desejamos aprofundar na mensagem de hoje. Para tal, necessitamos clarear de imediato o que entendemos por liturgia e por catequese. A primeira (liturgia) tem como centro a celebração dos mistérios da salvação, na qual o fiel participa e busca vida nova em Cristo. A segunda (catequese) preocupa-se mais com a transmissão da fé cristã. Aquilo que o/a catequista herdou da Igreja, crê e vive, transmite também aos outros. Por isso concordamos com o renomado liturgista Gregório Lutz, quando afirma: “Só se a catequista estiver com todo o seu ser e viver, pensar, falar e agir, em tal comunhão com Jesus Cristo, ela saberá, com a graça de Deus, levar também os seus catequizandos a um encontro com Jesus que transforma a vida deles numa vida nova e os faz mergulhar no mistério de Cristo” (A Liturgia na Catequese de Iniciação de Crianças, 2015, p. 16). Por isso não basta atingir o intelecto daquele que está sendo iniciado na fé, mas todo seu ser. Assim a catequese não é apenas doutrinação teórica, mas aprendizagem envolvente e prática. Ela está a serviço da iniciação no mistério da salvação, celebrado e vivido na liturgia.
Infelizmente, esta íntima relação da lex orandi e lex credendi (celebramos como cremos e cremos como celebramos), tão normal nos primeiros séculos do cristianismo, aos poucos foi se distanciando, na medida que surgia a cristandade (Idade Média), quando as crianças aprendiam a vida cristã na sua família, sua escola e comunidade eclesial e até na sociedade. A catequese, dentro deste novo contexto, se ocupava mais em explicar a fé e os mandamentos, numa linguagem aprofundamento teórico e doutrinal, tendo em vista a preparação à recepção dos sacramentos. Assim a catequese foi se desligando da Comunidade-Igreja e passou para a escola (aula) e se separou da liturgia ou de experiências de caráter celebrativo. Com a reforma do Concílio Vaticano 11 buscou-se novamente a integração entre catequese e liturgia, mas as resistências à mudança ainda se fazem sentir, talvez, até entre nós. Nos últimos tempos, o magistério da Igreja, através de diversos documentos, convida para novos caminhos na iniciação cristã, tentando retomar à experiência do espírito catecumenal, com suas devidas adaptações aos nossos tempos. Mas ainda encontramos pessoas que dão importância somente ao saber sobre Jesus Cristo e pouco se preocupam com o encontrar-se com Ele. É como conceder sacramentos a quem ainda não se tornou cristão convicto. Por isso, nossa catequese precisa tornar-se sempre mais mistagógica, como nos primeiros tempos do cristianismo, ou seja, deve conduzir-nos gradativamente para dentro do mistério, de forma menos doutrinal e mais experiencial; de quem crê e se encontra com uma Pessoa, o próprio Jesus Cristo, e nele professa sua fé, na comunidade e no ambiente social. Isto somente é possível quando a catequese se plenifica na celebração litúrgica e esta experiência provoca nova catequese pelo aprofundamento constante do que foi celebrado (nova mistagogia).
Que nosso projeto de Iniciação à Vida Cristã atinja este objetivo de integração entre catequese e liturgia e seja o caminho para uma Igreja mais missionária e samaritana.
Dom Aloísio Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul