Caros
diocesanos. Por generosidade de alguém recebi neste ano um livro de mensagens:
“Encontro com o Pastor”, de Dom
Aloísio Lorscheider, com quem tive a graça de conviver e presidir uma das missas
de corpo presente, junto com a família franciscana, na catedral de Porto
Alegre, no segundo dia de Natal de 2007. Há quinze anos, estávamos reunidos em
torno de um dos nossos Irmãos mais queridos, mais sábios e mais santos que
conhecemos, não tanto para nos despedirmos, mas para agradecer por esta preciosa
vida; que devolvíamos ao Senhor, qual oferenda agradável aos seus olhos. Era
momento de louvar, com são Francisco de Assis, pela “irmã morte”, que faz nascer para a eternidade, para a vida plena,
junto de Deus.
Estávamos
envolvidos por um tempo privilegiado do Ano Litúrgico, em que celebrávamos o
mistério do Natal do Senhor em nossa realidade humana. No Evangelho de São
João, ouvíamos que a Palavra se encarnou e veio habitar entre nós (cf. Jo 1,
14), quando Jesus Cristo assumiu nossa condição humana para que nós tivéssemos
acesso ao divino. Eis o grande projeto de Deus em relação a nós. Quando a
comunhão do divino com o humano acontece em nossa vida, ela se dignifica e nós
nos tornamos uma Boa Notícia, uma notícia de salvação. O Cardeal Dom Aloísio
foi e continua a ser esta Boa Notícia para todos os que o conheceram,
especialmente os simples e os pequenos; e nesta experiência nós fomos
privilegiados, pois pudemos conviver com ele, um Irmão extraordinário e único.
Nele o plano do Reino de Deus tornou-se realidade. A data de sua morte, na
semana do Natal, nos ajudou a entender melhor que ele nasceu para a verdadeira
vida, aquela em que não haverá mais morte, nem luto, nem choro, nem dor, pois o
novo céu e a nova terra serão realidade viva (Apc 21, 4).
No citado
livro de suas mensagens, editado em 1978, comento o que o então Arcebispo de
Fortaleza escreveu sobre a “Festa do
Natal”, destacando que Jesus Cristo se fez Deus conosco, nascendo entre
nós. Com sua vinda ao mundo trouxe a alegria e a vida para todos: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em
abundância” (Jo 10, 10). Contudo, segundo o autor, o pecado do egoísmo e da
injustiça não permite esta alegria e esta nova vida para todos: “Falta no mundo aquela harmonia que Deus nele
deseja. Há muita desarmonia na sociedade. Cada Natal, época de presentes, época
de cumprimentos, época de encontros, torna muito clara esta situação de
desarmonia, de desiquilíbrio, de pecado social... Deveria doer ao nosso coração
celebrar o santo Natal, vendo tantas multidões com fome, no abandono, sem um
vislumbre de esperança... Tudo isto é prova evidente de uma situação de pecado,
de pecado social” (p. 252). Segundo Dom Lorscheider, ninguém de nós cristãos
poderia ficar tranquilo enquanto houvesse um só necessitado no mundo. Dentro
deste contexto, o autor afirma que muitos ainda esperam pelo Salvador e Ele
deve vir também pelas nossas mãos: “Cada
um de nós deve, por Jesus Cristo, ser o salvador do seu irmão, ser o salvador
do outro” (p. 252).
Finalmente, o
então Arcebispo de Fortaleza convida os fiéis para ações concretas de caridade
a fim de que outros também tenham a experiência da alegria do Natal. Que a paz,
a alegria e a esperança possam chegar a todos e a todas, conforme a vontade de
Deus, anunciada pelo anjo aos pastores: “Eu
vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo povo: hoje, na cidade
de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor”!
Que em nosso Natal
o Senhor possa estar presente com sua alegria, paz e esperança e, entre nós,
haja sinais concretos para que todos possam ter um Natal Feliz.
Dom Aloísio
Alberto Dilli
Bispo de Santa
Cruz do Sul