Caros diocesanos. Vivemos um tempo especial do Ano Litúrgico. Depois de termos celebrado o ciclo litúrgico do Natal - em que tornamos mais presente o mistério da Encarnação de Jesus Cristo - agora estamos iniciando a Quaresma, começo do ciclo pascal. Este tempo litúrgico foi introduzido, já no IV século da era cristã, a fim de preparar bem a celebração da Páscoa. Nos primórdios do cristianismo, os Sacramentos da Iniciação à Vida Cristã (Batismo, Crisma e Eucaristia) eram celebrados, na maioria das Igrejas, somente na noite de Páscoa, para mostrar como estes sacramentos estão ligados à morte e ressurreição de Jesus Cristo. Se inicialmente a Quaresma era um tempo de preparação intensiva (purificação e iluminação) aos sacramentos da iniciação cristã (catecúmenos), com destaque ao Batismo, aos poucos, tornou-se também ocasião para todos os cristãos retomarem o que prometeram por ocasião da celebração destes sacramentos. Assim entendemos porque, até hoje, se faz a renovação das promessas do Batismo na Vigília pascal ou se realiza a celebração do sacramento do Batismo.
Muito cedo, atribuiu-se a este tempo uma conotação penitencial, através da prática do jejum, da esmola e da oração, como ainda fazemos hoje, inspirados no Capítulo 6 de Mateus (cf. Mt 6, 1-18). Portanto, vemos que a quaresma é tempo de penitência, de conversão de vida. É tempo de voltarmos nossa vida para o estado original, como Deus nos deseja, desde o Batismo. A conversão consiste em mudar o modo de ser, de viver, de agir, de relacionar-se. Uma vida segundo o Evangelho, assim como Cristo propôs. É por isto que no rito da Quarta-Feira de Cinzas, no momento da imposição, o ministro diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Crer no Evangelho significa aderir a ele, viver conforme ele orienta. Ao lermos o Evangelho, nós aprendemos que o centro do mesmo é o Mandamento do amor, que Jesus Cristo nos ensinou, por palavra e por testemunho vivo, ao dar sua vida para nos salvar.
Para nós brasileiros, desde 1964, estamos acostumados a viver a Campanha da Fraternidade, neste tempo da Quaresma. É uma forma original, brasileira, de viver o mandamento da caridade, do amor ao próximo, concretamente. A partir do centro do Evangelho, nós queremos fazer a campanha de sermos mais Irmãos, ou seja, uma campanha de fraternidade (solidariedade). A palavra “frater”, do latim, significa “irmão”. É a retomada de consciência do que aconteceu no Batismo: tornamo-nos irmãos e irmãs, em Jesus Cristo, filhos e filhas do mesmo Pai. Na Campanha da Fraternidade, em todos os anos, a Igreja do Brasil, através da Conferência Nacional dos Bispos, nos aponta para um dos aspectos concretos da nossa relação fraterna. Em 2017, o assunto central é: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, tendo como lema: “Cultivar e guardar a criação”. Nos lembra o Papa Francisco que é preciso cuidar de nossa casa comum, com espírito fraterno. Portanto, o tema e o lema nos farão refletir, rezar, tomar atitudes concretas de quem está em Campanha de Fraternidade, em campanha de mais vida e vida digna para todos. É dentro deste contexto que é feita também, em todas as Comunidades, uma coleta para ajudar os irmãos e as irmãs mais necessitados do que nós. Esta coleta, feita no Domingo de Ramos, é chamada: Coleta Nacional de Solidariedade. Será uma boa oportunidade de vivermos gestos de Igreja samaritana.
Finalmente, ainda lembramos que o carnaval, de origem cristã, é a festa de despedida, antes de iniciar o tempo de penitência e de conversão. O cristão consciente saberá respeitar a espiritualidade da Quaresma, do começo até o fim, e não viverá indiferente à proposta de sua Igreja, que convida a preparar-se dignamente para a solenidade máxima da vida cristã: a PÁSCOA.
Abençoada quaresma para todos!
Dom Aloísio A. Dilli - Bispo de Santa Cruz do Sul