Caros diocesanos. Na mensagem anterior iniciamos nossa reflexão sobre o novo documento da CNBB, com o tema da Iniciação à Vida Cristã (IVC). No primeiro capítulo do mesmo apresenta-se o ícone bíblico do encontro de Jesus com a samaritana, no poço de Jacó (Jo 4, 4-42), para iluminar o processo da Iniciação à Vida Cristã. Há uma sequência interessante no texto, em seis passos: Encontro – Diálogo – Conhecer Jesus – Revelação – Anúncio – Testemunho.
Já vimos como iniciou o encontro de Jesus com a samaritana, pedindo-lhe água do poço para beber. No diálogo que acontece, Jesus quer ter sede para revelar o dom de Deus àquela mulher. Ela ainda não conhece a água viva; somente conhece o dom da água do poço. Através do diálogo, aos poucos, ela começa a conhecer Jesus - “Quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede” (Jo 4, 14). Antes da revelação, Jesus aborda o tema dos maridos da samaritana (Jo 4, 16): Para receber da nova água é preciso tomar consciência dos próprios descaminhos e pecados. O encontro com Jesus exige mudança de vida, conversão. Na Bíblia, o tema da aliança com Deus, diversas vezes, é simbolizado pelo casamento: os maridos então podem significar idolatrias, distanciamentos de Deus e por isso a sede continua. Só Jesus pode saciá-la, ao revelar o verdadeiro marido e então pode-se dar início à nova vida, como adoradores em “espírito e verdade” (Jo 4, 23). A mulher reconhece em Jesus “um profeta” (Jo 4, 19). Diante da atitude acolhedora de Jesus ela encoraja-se para falar sobre o culto verdadeiro: em Jerusalém ou Samaria, onde Deus poderia ser encontrado? Jesus exige novo passo: Deus recebe o nome de “Pai” (Jo 4, 21). Encontrá-lo não depende de lugar ou formato de culto. O que conta são os adoradores do Pai, “em espírito e verdade” (Jo 4, 23). Ela sente-se convidada a estar entre “os adoradores que o Pai procura” (Jo 4, 23). Tudo estava preparado para Jesus se identificar e se revelar: “Sou eu, que estou falando contigo” (Jo 4, 26). Era o ponto alto daquele encontro. Antes a mulher falara do Messias; agora, fala com Ele. A esperança torna-se real. Sua fonte de vida não é mais o poço, mas Jesus que se aproximara e se deixara encontrar. A partir desta experiência, viva e pessoal, ela faz o anúncio aos seus. O maravilhar-se com o encontro é comunicado aos outros: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz” (Jo 4, 29); “não será ele o Cristo?” (Jo 4, 30). Como ela, os samaritanos também têm sede: “saíram da cidade ao encontro de Jesus” (Jo 4, 30) e muitos “creram em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava” (Jo 4, 39). A fé nasce do encontro, mas começa com testemunho. O povo pede e Jesus permanece por dois dias. Permanecer significa continuidade na fé. O evangelho ainda acrescenta: “Muitos outros creram por causa da palavra dele” (Jo 4, 41). Eles viveram uma experiência pessoal, que é a base da fé e que vai gerar um processo de contínuo crescimento. A experiência individual desdobrou-se em vivência de comunidade de fé. Os samaritanos dizem à mulher: “...este é verdadeiramente o salvador do mundo” (Jo 4, 42). Ela apresentou Jesus e a comunidade ajudou-a a reconhecer o Salvador: experiência de fé partilhada. Na IVC Jesus se faz conhecer progressivamente: também hoje a Igreja precisa sentar-se ao lado dos homens e mulheres e tornar presente o Senhor em sua vida.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santo Cruz do Sul