Caros diocesanos. Em cada celebração litúrgica nossa vida humana recebe importância extraordinária, pois a liturgia não acontece de forma abstrata num mundo inatingível, mas celebra os fatos salvíficos no hoje da história de nossa vida. A liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e a fonte donde emana toda a sua força, conservando e fazendo crescer na vida dos fiéis o que receberam pela fé, desde seu batismo (cf. SC 10). Diante de valor tão maravilhoso é igualmente necessária a correspondente participação, que deve ser plena, consciente, frutuosa e ativa, a fim de que a graça salvadora não seja recebida em vão (cf. SC 11 e 14). Isso vale com evidência para a celebração eucarística, que edifica a Igreja e na qual acontece a plenitude do mundo criado, como veremos a seguir.
O Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Sì (Louvado Sejas = LS) destaca com muita sabedoria a relação do mundo criado com o Criador e das criaturas entre si em vista da plena harmonia no universo. Acentua a importância de acolher o mundo como sacramento de comunhão: “É nossa humilde convicção que o divino e o humano se encontram no menor detalhe da túnica inconsútil da criação de Deus, mesmo no último grão de poeira do nosso planeta” (LS 9). Diante do desequilíbrio ecológico no mundo em que vivemos, o Sumo Pontífice aponta como modelo São Francisco, pois o Santo de Assis viveu de forma simples e harmoniosa com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Seu espírito de fraternidade universal continua modelo de uma ecologia integral (cf. LS 10). Sua maneira de ser diante das criaturas ia além da mera avaliação intelectual ou cálculo econômico, pois, considerando sua origem comum, apreciava cada uma como irmã ou irmão.
Na parte final do documento Laudato Sì o Santo Padre faz referência à eucaristia como plenitude da criação. Os sacramentos constituem um modo privilegiado, no qual a natureza é assumida por Deus e transformada em mediação da vida sobrenatural. E é na Eucaristia que a criação encontra sua maior elevação: o pão e o vinho se transformam em Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus. Nela já está realizada a plenitude da criação; ela une o céu e a terra, o humano e o divino e abraça e penetra toda criação (cf. LS 233-236). É essa realidade que nos faz rezar na missa, no momento da preparação e apresentação das oferendas: “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão (vinho) que recebemos de vossa bondade, fruto da terra (da videira) e do trabalho humano, que agora vos apresentamos, e para nós se vai tornar pão da vida (vinho da salvação)”. Nesta dimensão espiritual da ecologia, o Papa enaltece o domingo como o Dia do Senhor, que se faz presente, sobretudo, na Eucaristia. É também o dia da cura das relações humanas com Deus, consigo mesmo, com os outros e com o mundo criado. O domingo é o dia da ressurreição, da nova criação, garantia da transfiguração final de toda realidade criada. Ele anuncia também o eterno descanso do homem em Deus (cf. LS 237). Neste contexto, entendemos melhor o que São Paulo escreve aos romanos: “Toda criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus... na esperança que a própria criação seja libertada da escravidão da corrupção, em vista da liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm 8, 19-21).
Elevada ao céu, Maria é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação alcançou toda a plenitude da sua beleza. Ela nos ilumine para um olhar mais sapiente e protetor à criação (cf. LS 241-242).
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.