Caros diocesanos.
No próximo domingo celebraremos o Dia mundial dos Pobres. O Papa Francisco, em
sua mensagem anual para este dia, começa com a frase bíblica de São Paulo: “Jesus Cristo (…) fez-Se
pobre por vós” (2 Cor
8, 9). Com estas palavras, o apóstolo dirige-se aos cristãos de Corinto para
fundamentar o seu compromisso de solidariedade para com os irmãos necessitados.
O Santo Padre deseja que os cristãos reflitam sobre seu estilo de vida e as
inúmeras pobrezas do momento atual.
A mensagem papal
faz referência ao lento alívio em relação à pandemia, mas que deixou tantas
consequências de pobreza, e aponta as guerras, sobretudo na Ucrânia, como
causas de enormes destruições e mortes, sofrimentos de todo tipo, migrações e
pobrezas. As ameaças recíprocas de alguns poderosos abafam a voz
da humanidade que implora e anseia pela paz. Como afirma o Papa Francisco: “Quem sofre as consequências é uma multidão
de gente simples, que vem juntar-se ao número já elevado de pobres”.
Como ajudar a tantas pessoas para dar alívio e paz? Já nas primeiras
comunidades cristãs eram realizadas, como atesta o apóstolo Paulo, coletas
pelos pobres (cf. 2Cor 8 e 9). Estas continuam até nossos dias, através das coletas
dominicais, para as necessidades de nossas comunidades. É um sinal de caridade que
os cristãos sempre cumpriram com alegria e sentido de responsabilidade, para
que a nenhum irmão e irmã faltasse o necessário. Em relação à caridade nos
conflitos e suas consequências, o Papa Francisco afirma: “As famílias abriram as suas casas para deixar entrar outras famílias, e
as comunidades acolheram generosamente muitas mulheres e crianças para lhes
proporcionar a devida dignidade”. Estes gestos de solidariedade consistem precisamente
em partilhar o pouco que temos com quantos nada têm, para que ninguém sofra.
Quando cresce o sentido de comunidade e comunhão como nosso estilo de vida
cristã, fundamentada no mandamento do amor, sempre mais se desenvolve a
solidariedade. O contrário também é verdadeiro, quando o dinheiro se torna o
objetivo último da vida. Neste sentido, o Papa se expressa assim: “O problema não está no dinheiro em si, pois
faz parte da vida diária das pessoas e das relações sociais. Devemos refletir,
sim, sobre o valor que o dinheiro tem para nós: não pode tornar-se um absoluto,
como se fosse o objetivo principal... impedindo de reconhecer as necessidades
dos outros”.
Não se trata de ter um comportamento assistencialista com os pobres,
apenas para situações de emergência ou para tranquilizar a consciência, mas propostas
para que todos tenham condições de vida digna e feliz. Como afirma o Papa: “Ninguém pode sentir-se exonerado da
preocupação pelos pobres e pela justiça social” (EG 201). Esta justiça
social pode evitar a miséria de tantos que se sentem excluídos e descartados,
sem chances de vida digna. Neste sentido, o Santo Padre adverte: “A pobreza que mata é a miséria, filha da
injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos. É
a pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte
que não oferece perspectivas nem vias de saída”.
A partir da fé, percebemos que a riqueza de Jesus é o seu amor, que vai
ao encontro de todos, sobretudo de quantos estão marginalizados e desprovidos
do necessário. Por causa deste amor, despojou-se a si mesmo e assumiu a condição
humana. Por amor, fez-se servo obediente, até à morte e morte de cruz (cf.Fl 2,
6-8). O Papa Francisco conclui sua mensagem, desejando que o VI° Dia Mundial dos Pobres se torne
uma oportunidade de graça, para fazermos um exame de consciência pessoal e
comunitário, interrogando-nos se a pobreza de Jesus Cristo é a nossa fiel
companheira de vida.
Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul