Caros diocesanos. Estamos para viver o centro de todo Ano Litúrgico: a Páscoa. Ela é preparada longamente pela quaresma e celebrada com o máximo de solenidade na Semana, que a Igreja denomina “santa”. Nela celebramos o mistério da morte e da ressurreição de Jesus Cristo, como unidade, e que inicia com o chamado “Domingo de Ramos da Paixão do Senhor”. O mais importante deste domingo é a celebração do início da semana da salvação. Uma homilia de Santo André de Creta, pronunciado no séc. VIII (LH, vol. II, p. 366-367), afirma que o Senhor Jesus caminha livremente para Jerusalém, ele que “desceu do céu” por nossa causa, porque estávamos “prostrados por terra”. Veio com mansidão e humildade, com vestes pobres e aparência modesta: “ele veio ao nosso encontro e conviveu conosco, tornando-se um de nós, para nos elevar e nos reconduzir a si... quer elevar consigo a nossa natureza, erguendo-a do mais baixo da terra... até torná-la participante da sua sublime divindade” (Idem). Nesta linguagem unem-se os mistérios da Encarnação e da Páscoa. O autor usa os verbos descer e elevar, ligados à vinda do divino ao encontro do humano para que este tenha acesso ao divino, à salvação; não por mérito seu, mas por bondade de quem amou primeiro. O plano de Deus é fazer a pessoa humana participante de sua vida divina, pois ele criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, como lemos na primeira página da Sagrada Escritura (Gn 1, 26).
Os ramos da procissão têm um caráter simbólico, como sinais de vida, de esperança e de vitória. São sinais da nossa participação na caminhada de Jesus para a Páscoa, na qual se realiza o mistério de nossa salvação. Os ramos expressam compromisso, apoio, adesão. Portanto, muito mais que efeito curativo ou sinais de proteção em momentos de perigo, os ramos nos lembram o compromisso assumido de caminhar com Jesus e com os irmãos para a Páscoa, acolhendo nossa salvação pela cruz e ressurreição. O fato de guardar os ramos, em algum lugar de destaque em nossas casas, significa que lembramos e tornamos presente esse compromisso pascal, durante o ano inteiro, em nossa vida cristã.
A bênção dos ramos é acessória. Toda importância está centralizada no Senhor que vai a Jerusalém, pois chegou “sua hora” de passar pela morte e ressurgir e salvar a humanidade. A homilia de Santo André de Creta, acima citada, nos faz entender melhor o que afirmamos e nos orienta para uma adequada espiritualidade litúrgica deste Domingo: “Revestidos de sua graça, ou melhor, revestidos dele próprio (Gl 3,27)... prostremo-nos a seus pés como mantos estendidos... não ofereçamos mais ramos e palmas ao vencedor da morte, porém o prêmio da sua vitória. Agitando nossos ramos espirituais, o aclamemos todos os dias...” (Idem).
Diante da celebração central do mistério de nossa salvação, iniciemos a Semana Santa de 2022, não como simples lembrança histórica dos fatos que envolveram a morte e a ressurreição de Cristo, mas tornemos presente, em nossa vida real, este mistério. Acolhamos o convite da homilia do santo, acima citado: “Vinde, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério de nossa salvação” (Idem).
Abençoada Semana Santa para todos nós!
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul