Caros diocesanos. Na Sagrada Escritura revela que o termo Caminho recebe significativa importância na vida de Jesus e, consequentemente, na vida dos seus discípulos, da sua Igreja, de cada um de nós. Não é por acaso que Jesus é apresentado no Evangelho de São João como Aquele que se identifica com “o Caminho”. Quando o apóstolo Tomé pergunta: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 5-6).
O evangelista Lucas também nos apresenta extraordinária catequese ao narrar a aparição de Jesus aos discípulos de Emaús: o Senhor caminha com eles, revelando-se aos poucos como o Ressuscitado. O mesmo escritor sagrado, nos Atos dos Apóstolos, chama os discípulos de Jesus como “adeptos do Caminho”, quando narra a perseguição de Saulo nas comunidades cristãs: “Saulo apresentou-se ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a fim de trazer presos para Jerusalém os homens e mulheres que encontrasse, adeptos do Caminho” (At 9, 1-2).
Como vemos, os primeiros cristãos já consideravam Jesus como o Caminho, aquele que se torna a ponte (Pontífice) que conduz à comunhão com Deus, ou seja, Jesus Cristo, homem e Deus, é o caminho que liga ao divino: Ele vem ao encontro do humano e possibilita a este encontrar-se com o divino, o que chamamos: mistério da encarnação (Natal).
Poderíamos usar ainda outros textos bíblicos que apresentam essa dinâmica peregrina ou caminhante, presente em toda vida de Jesus, que pode ser resumida num longo Caminho, desde Belém até Jerusalém, convidando discípulos missionários e discípulas missionárias, em todos os tempos, para segui-lo. Agora chegou a nossa vez. O Papa Francisco fala de “Igreja em saída”, isto é, uma Igreja em permanente caminho missionário! A Diocese de Santa Cruz do Sul optou por ser uma Igreja samaritana, que acolhe e serve os atingidos durante o caminho. Se caminharmos com Jesus encontraremos a estrada que conduz ao encontro dos marginalizados, ou seja, dos que estão caídos à beira do caminho, nas diversas periferias geográficas e existenciais, como fala o Papa Francisco (Cf. EG 20 e 46).
São Francisco de Assis, o criador do presépio, em Greggio – Itália -, escreve que o nascimento de Jesus aconteceu no caminho: “Um Menino santíssimo e dileto nos foi dado e nasceu por nós (cf. Is 9, 6) no caminho e foi colocado no presépio (cf. Lc 2, 7) porque ele não tinha um lugar na hospedaria (cf. Lc 2, 7)” (Ofício da Paixão do Senhor, 5ª parte – No Tempo do Natal do Senhor, 7). Sim, Jesus nasceu no caminho, na realidade dos pequenos de sua época, numa gruta de animais, nos arredores de Belém, recebendo a visita de humildes pastores. Esse é o modo de ser de Deus para que nós o entendamos e o imitemos. Ele quer estar junto a nós, pois veio para ser o Emanuel: Deus conosco (Is 7, 14). Há lugar para Ele no caminho de nossa vida? Caso tivermos, convidemo-lo e Ele caminhará conosco e nos ensinará a sermos Igreja samaritana, que vê e age diante dos que se encontram em necessidade, à beira do caminho.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul