Caros
diocesanos. Um dia alguém me perguntou se todos somos chamados à santidade. Boa
pergunta para semana da solenidade de todos os santos e santas. Respondi que
ser santo/a é um processo normal da vida cristã, com desfecho coerente diante
da obra da salvação realizada por Cristo. Já na Antiga Aliança, Deus propõe um
reino de sacerdotes e uma nação santa (cf. Ex 19, 6). Na Nova Aliança, São
Paulo fala da vocação à santidade de todos os discípulos de Cristo em vários
textos de suas cartas: “Aos que foram
santificados no Cristo Jesus, chamados a ser santos” (1Cor 1, 2); “O templo de Deus é santo, e esse templo sois
vós” (1Cor 3, 17); “A vontade de Deus
é a vossa santificação” (1Tes 4, 3); “Deus
nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante
dele, no amor” (Ef 1, 4-5). Sim, somos chamados à santidade, mas com a
graça de Deus e nossa colaboração com ela.
O Concílio
Vaticano II, através da Lumen Gentium
(LG), nos lembra: “Comum a graça de
filhos. Comum a vocação à perfeição... Se, pois, na Igreja nem todos seguem o
mesmo caminho, todos, no entanto, são chamados à santidade e receberam a mesma
fé pela justiça de Deus (2Pdr 1,1)” (LG 32). Com estas palavras a Igreja
afirma a beleza e a importância de todas as vocações, convidadas a participarem
da santidade de Deus.
Como vimos, o
santo é um sinal que aponta para a identidade da própria Igreja, chamada a ser
santa (cf. Ef 2, 19-22; LG 39), graças aos méritos de Jesus Cristo. Todos os
que não chegam à santidade deixaram de viver sua vocação eclesial. A Igreja é
peregrina no mundo, “santa e pecadora”
(Prece Eucarística V), ao mesmo tempo. Afirma o Concílio que “já na terra a Igreja é assinalada com a
verdadeira santidade, embora imperfeita” (LG 48). O santo/a é membro dessa
Igreja, antes e depois da morte.
Os santos
tornam-se motivo de louvor a Deus pela obra neles realizada, sendo colocados
como modelos a serem imitados no modo de colaborar com a graça divina,
atingindo alto grau de maturidade cristã. Por isso, não cultuamos heróis dos
quais a Igreja se gloria, mas louvamos a Deus, que nos santos e santas realizou
maravilhas por sua graça.
No espírito da
teologia paulina do Corpo místico de Cristo (cf. 1Cor 12, 12; Ef 5, 23), nós entenderemos
que a Igreja une-se intimamente numa só comunidade, num só corpo, a Comunhão
dos Santos: “Alguns dentre os seus
discípulos peregrinam na terra, outros, terminada esta vida, são purificados,
enquanto que outros são glorificados... Todos, porém, em grau e modo diverso,
participamos da mesma caridade de Deus e do próximo... Pois todos quantos são
de Cristo, tendo o seu Espírito, congregam-se em uma só Igreja e nele estão
unidos entre si (Ef 4, 16)” (LG 49). Segundo o mesmo documento, se a
comunhão entre os cristãos da terra nos aproxima de Cristo, também o consórcio
com os santos e santas nos une a Ele (cf. LG 50). Isso nos conforte ao
celebrarmos todos os santos e santas.
É
significativo citar, neste contexto, o Prefácio dos Santos I: “Nos vossos santos e santas ofereceis um
exemplo para a nossa vida, a comunhão que nos une, a intercessão que nos ajuda”
e o Prefácio II: “Pelo testemunho
admirável de vossos Santos e Santas, revigorais constantemente a vossa Igreja,
provando vosso amor para conosco...”.
Todos,
portanto, somos convidados ao caminho da santidade. Ela faz parte do ser
Igreja: “A santidade não é fuga para o
intimismo ou para o individualismo religioso, tampouco abandono da realidade
urgente dos grandes problemas... e muito menos fuga da realidade para um mundo
exclusivamente espiritual” (DAp 148). Somos convidados à santidade, caminho
normal dos discípulos missionários de todos os tempos.
Dom Aloísio Alberto
Dilli
Bispo de Santa Cruz do
Sul