Caros diocesanos. Na história de nossa infância, certamente, todos nós temos profundas experiências, ligadas ao Natal, das quais temos saudade. Para alguns, a recordação estará mais unida às trapaças do Papai Noel, aos presentes na família ou dos padrinhos/madrinhas e mesmo aos luminosos enfeites que não deixavam de encantar, sobretudo as crianças. As famílias se encontravam e se oferecia o que havia de melhor, pois era Natal. Na tradição cristã, não podia também faltar, nas famílias e na igreja da comunidade, um lindo presépio, acompanhado de colorido pinheirinho natural, onde se colocava, com criatividade, os melhores símbolos da alegria natalina. Tudo revelava uma cultura cristã e profundo sentimento religioso. Afinal, era a festa da vinda de Jesus Cristo entre nós, na forma de uma criança, quando Deus se fez tão pequeno que cabe numa manjedoura, como afirma Bento XVI (cf. VD 12).
Revelando um pouco da experiência pessoal, nos tempos de criança, recordo que o Natal era a festa mais aguardada durante todo ano. Havia, sim, histórias de Papai Noel, ligadas a presentes para estimular nosso bom comportamento, sobretudo de convivência familiar, mas o que mais nos encantava era podermos fazer, além dos presépios oficiais da igreja e da família, o pequeno presépio das crianças, em algum cantinho da casa, onde não faltava o menino Jesus, Maria e José. Nós mesmos fazíamos algumas ovelhinhas de barro e as pintávamos com a tinta branca, usada para algum calçado das meninas. Sempre se encontrava um pequeno galho de pinheiro, com algum colorido, para honrar o Menino Jesus. Nossos pais incentivavam essa criatividade, em forma de catequese natalina, para que nós crianças descobríssemos o essencial do Natal: “Das Christkind” (O Menino Jesus). Hoje, isso nos faz lembrar o que diz o Papa Francisco: Maria e José, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura, souberam transformar um curral de animais na casa de Jesus (cf. EG 286).
Quem é que merece tanta atenção que é capaz de emocionar crianças, jovens e adultos, até corações insensíveis? Não existe outra resposta cristã: a vinda de Deus entre nós, na plenitude dos tempos: “A Palavra se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1, 14). Em Jesus Cristo encarnado se revelou o projeto de Deus, que consiste em fazer a pessoa humana participante da sua vida divina. Com o nascimento do Menino de Belém a pessoa humana ganhou um rosto divino e Deus assumiu um rosto humano (cf. Bento XVI). Sem entender este mistério, o mundo ateu e secularizado optou, neste tempo do Natal, pelo Papai Noel, uma figura mítica ou imaginária, sem fundamento histórico, ao menos no modo como hoje é representado. Portanto, ao se tentar substituir Jesus Cristo (“Christkind” = Menino Jesus) pelo Papai Noel, o “Pobre Velhinho” torna-se uma figura enganosa, vazia de sentido teológico e espiritual. Um 25 de dezembro, sem a presença de Jesus Cristo, não pode ser chamado Natal cristão, pois, como a própria palavra o diz, é o dia do nascimento. De quem?
Com a presença de Jesus Cristo entre nós, a Palavra feita carne, nós nos tornamos irmãos e irmãs, formando a grande família dos filhos e filhas de Deus. Podemos assim falar em comunidade (comum unidade) ou em fraternidade (unidade de irmãos/ãs). O Menino de Belém continue a ser Salvador para todos nós, nestes tempos tão difíceis e, por vezes, de indiferença a Deus e de ausência de fraternidade com todos/todas. Ao vivermos o verdadeiro Natal, seremos capazes de esperançar no Ano de 2022, que se aproxima. Por isso desejamos ainda um Feliz tempo de Natal e Abençoado Ano Novo!
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul