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04/11/2020 - Nascimento de um Deus que é de paz

Caros diocesanos. Motivados pelos meios de comunicação e pelo mundo comercial, já estamos envolvidos por frequentes anúncios do Natal, sobretudo dentro do espírito da sociedade de consumo. Como cristãos, desejamos viver a proximidade do Natal, preparando-nos devidamente para acolher Aquele que vem ser Deus conosco. Para que isso possa acontecer, teremos que iluminar-nos com a Palavra de Deus a fim de não construirmos ídolos individualistas, a nosso gosto, e anunciá-los com títulos divinos. Em novembro e dezembro do presente ano, vamos dedicar nossas mensagens a esse acontecimento que dividiu a história da humanidade em antes e em depois do nascimento de Jesus Cristo, aproveitando também, de forma especial, a carta apostólica natalina do Papa Francisco (2019): “Admirável Sinal”.
Vejamos, neste primeiro momento, como o Deus do Natal é anunciado e se manifesta em Jesus Cristo. Na liturgia da noite de nascimento do Menino-Deus, o profeta Isaías (Is 9, 2-7) o apresenta como luz e alegria, como o “Príncipe da Paz”, uma paz que “não terá fim”. Portanto, a paz será a identidade do Pequenino que vai nascer. Na mesma noite do Natal, a liturgia nos revela que os anjos, ao anunciar aos pastores o nascimento de Jesus, assim cantam: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados” (Lc 2, 14). É o mesmo Jesus que mais tarde vai proclamar: “Bem-aventurados os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 9); e que vai admoestar o discípulo Pedro contra a violência: “Põe a espada na bainha. Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18, 11).
No mundo dos humanos também encontramos, com certa raridade, pessoas que têm muito de divino, ou seja, que são capazes de orientar-se pelo princípio da paz ativa, da justiça, da solidariedade, e não dos interesses egoístas. São pessoas que têm lugar e tempo para o próximo, que olham para os outros porque reconhecem neles irmãos, tão dignos como eles próprios. São pessoas que não se deixam guiar simplesmente por referências estéticas, pela classe social, pela riqueza ou poder, mas pelos valores da dignidade, do respeito, da vida à imagem e semelhança de Deus, neles presentes. 
Vivemos hoje um tempo de muitas polarizações, sobretudo pelas redes sociais, com fortes tendências a posições extremas que descambam, com frequência, para o ódio e a violência. Por vezes, até o nome de Deus é usado para tais atitudes, nada cristãs. Percebemos que estas manifestações não são coerentes com o modo de ser e anunciar de Jesus Cristo, que se fez um de nós para que possamos unir-nos a Ele. O verdadeiro Natal somente é possível em corações que alimentam a paz. Os corações violentos e alimentados pelo ódio o mandam, ainda hoje, para as grutas frias da Belém mais próxima.
Portanto, a verdadeira paz não consiste apenas em resolver conflitos ou em realizar acordos com diplomacia e, muito menos, com o espírito dos antigos romanos, que diziam: “Si vis pacem para bellum” (= Se queres a paz prepara a guerra). Construir a verdadeira Paz é tornar presente o modo de ser do próprio Deus, pois Ele é a Paz. É por isso que Santo Agostinho (Séc. V) afirma: “Nosso coração só estará em paz quando descansar em Deus”. Construir a paz, ser mensageiro da paz, faz parte do esforço humano, mas depende, sobretudo, da presença e ação divina, acolhida em nós. Somente com Deus é possível a verdadeira paz: “Se queres a paz prepara a Paz” (Paulo VI). E com São Francisco de Assis, digamos: “Senhor, fazei de mim instrumento de vossa paz”.
Dom Aloísio Alberto Dilli 
Bispo de Santa Cruz do Sul.

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