Caros
diocesanos. Em 1º de maio celebramos o Dia do Trabalho, ou seja, do
Trabalhador. Os estudos de antropologia nos evidenciam que a pessoa humana é um
ser em realização, um ser em devir, que se projeta sempre para frente. Está
constantemente por fazer-se, pois nunca se considera pronto. Esta mesma
realidade ele percebe na sua relação com o mundo que o cerca: este está por ser
transformado e adaptado para o bem da pessoa humana (cf. Gn 1, 26 e 28). E
então começamos a falar sobre o trabalho, com o qual a mulher e o homem
cultivam e guardam a terra, cuidando-a e transformando-a em nossa casa comum
(Papa Francisco), pela atividade consciente, através da ciência e a técnica,
fazendo produzir os campos, transformando a matéria de forma artesanal ou em
escala industrial e prestando inúmeros serviços uns aos outros. O trabalho,
portanto, constitui uma dimensão fundamental da existência humana sobre a terra
(cf. Laborem Exercens – LE 4). A realidade da vida nos mostra que é impossível
separar a pessoa humana do trabalho, pois ele faz parte de sua identidade (cf.
CF 1991 – Texto-base, n. 14); pelo trabalho deve acontecer e realizar-se o próprio
ser da pessoa humana. Nessa relação pessoa humana e trabalho emerge também o
sentido da participação na obra do Criador e da solidariedade (serviço) em
relação aos outros seres humanos, primeiramente, em relação à família e depois
se estende à comunidade mais ampla (cf. LE 6 – 10). Portanto, o trabalho
realiza a dignidade da pessoa humana; além de transformar a si mesma, por ele a
pessoa humana cria as condições imediatas da sua existência e estabelece as
relações que constituem a sociedade. Neste contexto, São Francisco de Assis
escreve na sua Regra Bulada: “Aqueles irmãos
aos quais o Senhor deu a graça de trabalhar trabalhem fiel e devotamente” (Rb 5). Em nosso tempo, poder trabalhar é
também uma graça; o não ter emprego (trabalho) é uma verdadeira desgraça, assim
como a preguiça, definida como a irresponsabilidade e não servir e explorar os
outros.
Vimos
anteriormente que o trabalho tem um caráter positivo e de realização da pessoa
humana, mesmo que cause fadiga e sofrimento (cf. Gn 3, 17-19). Contudo, o
egoísmo humano, muitas vezes, inverte os valores, fazendo surgir conflitos
entre o mundo do capital (capitalismo) e o mundo do trabalho. Quando o trabalho
é considerado mera mercadoria ou somente é visto como instrumento de produção e
de lucro surgem confrontos, com todas as suas consequências. Neste contexto, o
trabalhador é visto, não pelo que é, como sujeito e autor com sua dignidade,
mas pelo que produz, como instrumento de lucro (cf. LE 7 e CF 1991, n. 27). A
Doutrina Social da Igreja reivindica a prioridade do trabalho em confronto com
o capital, destacando justa estrutura social de organização do trabalho e da
distribuição de bens. O Papa Francisco também toma posição neste contexto,
afirmando: “O crescimento equitativo
exige algo mais do que o crescimento econômico, embora o pressuponha; requer
decisões, programas mecanismos e processos especificamente orientados para uma
melhor distribuição das entradas, para a criação de oportunidades de trabalho,
para uma promoção integral dos pobres que supere o mero assistencialismo... a
economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno, como quando
se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando
assim novos excluídos” (EG 204). Que
o Senhor Jesus, filho do carpinteiro de Nazaré, abençoe os trabalhadores/as em
seu dia.
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul.