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19/07/2017 - Iniciação à vida cristã: Itinerário para formar discípulos missionários - 03

Caros diocesanos. Continuamos nossa reflexão, sobre o recente documento da CNBB: Iniciação à Vida Cristã: Itinerário para Formar Discípulos Missionários. Já abordamos a parte bíblica do encontro e diálogo de Jesus com a samaritana e seus desdobramentos (Jo 4, 4-42). Hoje apresentaremos síntese do capítulo II que destaca o VER ou a parte histórica da IVC. 
Como no encontro do Senhor com a samaritana, a Igreja também é desafiada a promover encontros com novos interlocutores. Temos um passado que pode nos impulsionar na busca de novos caminhos para o seguimento, desde os tempos da Igreja primitiva. No séc. II, se estruturou o catecumenato: itinerário específico de iniciação. Era um caminho que acolhia a salvação de Deus e que se expressava na vida da comunidade com uma série de ensinamentos e práticas litúrgicas. Este processo se aperfeiçoou até o séc. IV e entrou em lenta decadência, a partir do séc. V, até desaparecer no séc. VI-VII. 
O declínio do catecumenato deu-se com o surgimento da cristandade, quando a maioria da população se tornou cristã. Então os sacramentos da iniciação cristã eram celebrados sem muita relação entre eles e o batismo de crianças tornou-se prática comum. Era um cristianismo herdado num ambiente de cultura cristã: tradição familiar e social. A fé era alimentada fortemente pela devoção aos santos, pelas peregrinações e penitências. Ganharam importância as orações decoradas. A bíblia era usada nos sermões, encenada nas procissões e expressa na arte e no canto. Era uma catequese de piedade popular. 
A partir do Concílio de Trento (1545-1563) elaborou-se um catecismo, centrado no conhecimento da doutrina da fé, na instrução moral, na celebração dos sacramentos e nas orações cristãs. Este tornou-se referência oficial para a transmissão da fé até o séc. XX. O Vaticano II (1962-1965) sugeriu novos caminhos na transmissão da fé: diversos documentos foram emitidos, em nível universal e nacional. Muitas Dioceses, Paróquias e Comunidades reagiram com experiências renovadoras. Em 2011, a IVC foi assumida como urgência pelas Diretrizes Gerais: Igreja - Casa da Iniciação à Vida Cristã.
Como em Samaria, abrem-se novos poços para o encontro com o Senhor, em nossas realidades. Pelo impulso do Espírito, estamos em estado de busca e de recomeço. Fica para trás um determinado modelo eclesial, marcado pela segurança da sociedade de cristandade e desponta um processo de renascimento: modelo de Igreja pobre, samaritana, em saída missionária para as periferias geográficas e existenciais. O novo caminho exige humildade, acolhida, criatividade, capacidade dialogal, necessidade de conversão pastoral, de gestação permanente, sem apego a modelo único e uniforme. Cultivar a mística do encontro: não tanto ouvir e falar sobre Deus, mas ouvir e falar com Deus. S. Agostinho afirma: “Devemos dizer muitas coisas ao novo crente, mas mais a Deus por ele, do que a ele sobre Deus”. Tertuliano diz: “Os cristãos não nascem, se fazem”.
O querigma, como anúncio do essencial da fé, e a mistagogia, como progressiva introdução no mistério pascal de Cristo, vivido na experiência comunitária, são aspectos essenciais na renovação do processo de IVC.

Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul
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