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09/03/2023 - QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE - 02

Caros diocesanos. Já discorremos anteriormente sobre o sentido da quaresma e seus objetivos gerais de conversão de vida, de preparação para a Páscoa. Na presente mensagem pretendemos continuar a reflexão sobre a Quaresma e a Campanha da Fraternidade que, em 2023, volta ao tema da fome. Antes de tudo, desejamos manifestar nossa fome de Deus, buscando estar com Ele para participar de seu amor e de sua misericórdia. Mas também precisamos dar atenção ao tema da fome de alimento digno, o qual torna-se um desafio social, humanitário para a sociedade inteira. Isso nos é lembrado pelo lema da Campanha da Fraternidade, frase do evangelho da Multiplicação dos Pães: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16b). O que nos faz entender que o evangelho tem profunda incidência social.

Entre as principais causas da fome em nosso país, o texto-base da CNBB cita a estrutura fundiária, com sua injusta distribuição da terra; o sistema produtivo a serviço do mercado internacional e não da alimentação e nutrição da população; o desemprego e o subemprego, sem as necessárias seguranças institucionais; a perversa política salarial, que não dá o devido acesso ao consumo; a corrupção, que desvia os recursos, inclusive da alimentação; o desmonte do sistema nacional de segurança alimentar e nutricional, que facilitavam o alimento saudável, produzido pela agricultura familiar, e outros (cf. TB, n. 45ss). O texto-base conclui, dizendo: “As raízes da fome estão, especialmente, na distribuição iníqua da renda e das riquezas, que se concentram nas mãos de poucos, deixando, na pobreza, enormes contingentes populacionais nas periferias urbanas e nas áreas rurais” (TB, n. 54). Neste sentido, o Papa Francisco afirma: “Quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como uma mercadoria qualquer, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome... A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável” (FT, n. 189).

A fome não ameaça apenas a vida das pessoas, mas também a sua dignidade e traz as mais diversas consequências, como: debilidade física e psíquica, apatia, perda do sentido social, indiferenças, hostilidade com os mais frágeis (como crianças e idosos), violência doméstica, destruição da família, emigração por necessidade e, finalmente, a perda do sentido da vida e a criminalidade. Essa realidade conduz a crianças raquíticas, obesas, com deficiências irremediáveis no desenvolvimento intelectual e vulneráveis a doenças. As alternativas da alimentação dos pobres conduzem facilmente a doenças crônicas, tanto no sentido somático quanto mental, como a depressão e a ansiedade. As principais vítimas serão sempre as crianças e os idosos.

A Campanha da Fraternidade incentiva relações humanas cada vez mais solidárias em nossas comunidades, de partilha aos necessitados, de cuidado ecológico da casa comum, de combate ao uso desordenado dos agrotóxicos, do apoio às hortas comunitárias e da produção de alimentos saudáveis, do combate à cultura do desperdício,

A educação alimentar e a alimentação saudável devem iniciar na família. É no ambiente familiar que se aprende a combater a indiferença e o cultivo da partilha, da fraternidade, da solidariedade. Os pais e avós são importantes na educação de atitudes de caridade com os necessitados. Este processo educativo deverá prosseguir na escola, sobretudo em relação à merenda escolar e nas oportunidades de educação no campo da saúde. Na próxima semana, continuaremos nossa reflexão sobre a Quaresma e a temática da Fraternidade e Fome.

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul